O novo título da autora de mangás que assina com pseudônimo masculino

Não se engane. Hiromu Arakawa é uma mulher, nascida e criada em uma fazenda de gado em Hokkaido, no Japão. Batizada como Hiromi, ela adotou o pseudônimo masculino (uma leitura diferente do mesmo caractere de seu nome) ao iniciar a carreira como mangaká. Essa decisão estratégica foi uma resposta ao machismo estrutural da indústria de mangás no fim dos anos 1990 e início dos anos 2000. Na época, editores e o mercado acreditavam que garotos — o público-alvo das revistas shounen — rejeitariam histórias de ação e aventura se soubessem que eram escritas por mulheres. Mesmo assim, não há imagens públicas dela, que se retrata como uma vaca malhada estilizada que usa óculos — uma referência ao ambiente no qual cresceu.

A JBC acaba de lançar no Brasil Daemons do Reino das Sombras, o mais recente trabalho de Arakawa. A autora de 52 anos, consagrada mundialmente pelo fenômeno Fullmetal Alchemist, retorna ao shounen, destinado ao público masculino adolescente, geralmente de 12 a 18 anos,  com uma narrativa que mistura folclore, ação e mistérios familiares, reafirmando sua habilidade em construir universos complexos.

A história nos transporta para uma vila isolada do mundo moderno, onde nascem os gêmeos Yuru e Asa, profetizados como aqueles que dividem o dia e a noite. Enquanto Yuru leva uma vida de caçador, sua irmã permanece enclausurada cumprindo um dever misterioso. A trama ganha tração quando a vila é invadida por forças do mundo exterior, revelando segredos sobre a linhagem dos irmãos e forçando Yuru a formar um pacto com seres sobrenaturais, os Tsugai (Daemons), para sobreviver e buscar respostas.

A expectativa sobre o título é impulsionada pelo legado de Fullmetal Alchemist. Publicada entre 2001 e 2010, a saga dos irmãos Elric não apenas vendeu milhões de exemplares, mas também gerou duas adaptações em anime de enorme sucesso crítico e popular. Com Daemons do Reino das Sombras, que já tem sua própria adaptação para anime confirmada para 2026, Hiromu Arakawa prova que sua “verdadeira graça” está na excelência de sua narrativa, independentemente do nome que assina a capa.

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