Após um dia de reuniões que me impediram a prosa, resta-me sacar os versos da manga, o que faço com muito gosto.
I.
Soneto do estudante sério
(Felipe Moura Brasil)
Para Olavo de Carvalho *
E agora que eu li tanto, tantas obras
De autores tão malditos, quanto pude
Receio não haver nem mesmo sobras
Das minhas vis paixões de juventude.
Quão falso era meu mundo, e amiúde
Com quanta prontidão lhe fiz as dobras
Na ânsia de manter minha atitude
Imune a todo tipo de manobras.
Fui tolo, como assim o é quem pensa
Não ser manipulado pela imprensa
Em todas as questões da vida humana.
Ninguém recebe alta desse hospício
Sem auto-humilhação, sem sacrifício
De sua cabecinha provinciana.
[* OBS: Olavo de Carvalho leu e comentou este soneto em seu programa True Outspeak de 20 de junho de 2012 – dos 4min35 aos 9min55 – e mencionou-o novamente na edição de 26 de setembro de 2012 – aos 27min, meses antes de ser apresentado ao meu projeto original do nosso best seller “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota“.]
II.
Sonetinho a três
(Felipe Moura Brasil)
Quando o escritor em mim se recupera
Da análise de temas atuais,
É o poeta que em vão se desespera
Como se dele eu nem lembrasse mais.
Poucas coisas lhe são tão infernais
Quanto a prosa que logo se apodera
Das paixões e questões sentimentais
Por cujo monopólio ele se esmera.
Despreza no analista a mira estreita;
No escritor, a extensão e a voz afeita
Muito mais à razão que aos sentimentos.
“É poeta, pudera! Tem rancores!”,
Justificam em verso os prosadores
No tumulto mental dos meus talentos.
Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil
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