Seleção diminui deslumbramento geral da nação. Agora, Felipão precisa inventar meio-campo para conter Rodríguez
“Hoje é seu dia de sorte”, disse-me um amigo ao telefone, pouco antes do empate de 1 a 1 do Brasil com o Chile pelas oitavas-de-final da Copa. Ele tinha o bom e velho “ingresso sobrando” para Colômbia x Uruguai no Maracanã, para onde saí correndo atrasado, após as defesas de Júlio César garantirem a classificação do Brasil, sem ter publicado aqui minha resenha final do jogo, que apenas comentei em tempo real no Facebook.
Foi uma diferença e tanto passar do sufoco da seleção brasileira para a vitória acachapante da Colômbia sobre o Uruguai por 2 a 0, com dois gols do craque da partida e por enquanto artilheiro da Copa com cinco, James Rodríguez, o primeiro o mais bonito da competição até aqui, matando a bola no peito e batendo direto de canhota de fora da área. A seleção colombiana tem no jogador do Mônaco, que fará 23 anos no dia 12 de julho e já revelou sua preferência em se transferir para o Real Madri, aquilo que a brasileira não tem – ou pelo menos ainda não revelou: alguém que “chama a responsabilidade” não no sentido de dar arrancadas fominhas (muitas vezes até perder a bola ou o gol, como foi o caso de Neymar no sábado), mas no de fazer o time jogar, como um clássico camisa 10 criativo, e ainda chegar à frente sendo decisivo de fato.
Nosso meio-campo, como se tornou quase consenso no país, esteve ausente do jogo contra o Chile, e sequer participou da abertura do placar, quando Neymar bateu um escanteio, Thiago Silva desviou de cabeça e David Luiz saiu comemorando, malandramente, como quem quisesse os créditos pelo gol contra chileno. Desarmando como um terceiro volante, mas sem criar nem chutar, Oscar está longe do desemprenho de um Rodríguez; e ainda é difícil saber qual atacante é pior para vir buscar jogo: se Fred (que praticamente não vem) ou Jô (que vem afobado e erra).
Hulk, que errou tudo na primeira fase e, no primeiro tempo, entregou a bola bisonhamente para o Chile no lance do gol de empate de Sánchez, foi o único que se apresentou para jogar no segundo tempo, talvez por saber que, se não mostrasse algum futebol, sairia quase humilhado da Copa. Seu gol anulado de canela, depois de matar a bola no braço (que só torcedor mesmo para confundir com ombro), mostrou toda a sua ânsia de compensar o desastre e fazer jus à excessiva confiança de Felipão. O bom cruzamento desperdiçado por Jô, assim como suas próprias finalizações, embora erradas, reforçaram ao menos o crédito de sua participação ativa no jogo, que ele tratou de capitalizar pedindo o apoio da torcida após sua primeira jogada pela ponta-esquerda na prorrogação. Depois ainda acertou outro cruzamento pela ponta-direita para Oscar, chutou duas vezes de fora da área, uma para defesa de Bravo e outra para fora. Apesar da raça, tem de agradecer muito a Júlio César por pegar dois pênaltis depois de perder o seu.
O resto da seleção ficou apavorada no segundo tempo. Quando um jogador pegava a bola, os outros disputavam quem se esconderia melhor. No sufoco para sair e na falta de meio-campo criativo, o negócio era dar chutão para a frente. Para cada lançamento que Daniel Alves acertava, ele errava dois passes e deixava a sua avenida aberta, como de costume. Neymar, que passou o jogo inteiro no “prende e cai”, avisou aos companheiros que só precisaria de uma bola para liquidar a fatura na etapa suplementar. Mas continuou prendendo e caindo; e a bola acabou sendo o pênalti mesmo, felizmente convertido. Ramires, que entrou lugar de Fernandinho, mostrou apenas como todos os nossos volantes, além do lateral Marcelo, fazem mais ou menos a mesma coisa, ainda que Luiz Gustavo (que lamentavelmente tomou o segundo cartão amarelo e está fora do jogo contra a Colômbia) seja mais regular: às vezes desarmam, às vezes deixam um buraco e quase sempre erram passes. Willian, que Felipão demorou demais a colocar nesta Copa e no jogo, fez o Brasil ao menos ficar no campo de ataque, mas bateu o pênalti para fora.
A seleção brasileira, mediana toda vida, diminuiu mais uma vez o deslumbramento geral da nação, o que sempre tem seu lado bom; e agora Felipão vai precisar ao mesmo tempo inventar um meio-campo para conter Rodríguez e fazer frente à seleção colombiana, e mandar o time inteiro para um exército de terapeutas, já que chegamos ao cúmulo de o próprio capitão, Thiago Silva, pedir ao técnico para não bater o seu pênalti por falta de confiança. Mas, de qualquer forma, parabéns a Júlio César pela vitória emocionante sobre a mediana seleção chilena.
Foi no sufoco, como não poderia deixar de ser.
Felipe Moura Brasil
– https://www.veja.com/felipemourabrasil
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Veja aqui no blog minhas análises: de Brasil 4 x 1 Camarões, Brasil 0 x 0 México e Brasil 3 x 1 Croácia; e mais meu post Quanto perde o Brasil se Felipão tirar Hulk também? E que tal fechar a avenida Daniel Alves?.