Sairá caro o silêncio de Graça? Entenda a “regra do jogo” de Lula, Dilma e PT para calar a presidente da Petrobras
1) A demissão oficial da presidente da Petrobras, Graça Foster, está prevista para março, informa Lauro Jardim. Eu explico: é para não desvalorizar as máscaras de carnaval.
2) Samba do dia: “Agora, você passa eu acho Graça/ nessa vida tudo passa/ e você também passou…” O verso seguinte (“entre as flores, você era a mais bela”) não se aplica ao caso.
3) Folha: “Pesou na decisão a divulgação na semana passada de que chegou a ser aventado que a Petrobras deveria baixar seus ativos em R$ 88 bilhões devido a corrupção”. Pergunto: sairá caro para o PT o silêncio de Graça, pré-demitida não pela roubalheira sob sua gestão, mas por “aventá-la”? (Ou melhor: o silêncio sairá de Graça?) Ou ela aceitará bovinamente o papel de bode expiatório que os petistas imputam aos “soldados feridos pelo caminho”?
4) Para blindar Graça nas investigações, abafando o trabalho dos auditores, Dilma conta no Tribunal de Contas da União (TCU) com o presidente Aroldo Cedraz e o ministro Vital do Rêgo, que assumiu o cargo lamentavelmente com o endosso de boa parte da oposição. Para segurar as pontas na Câmara dos Deputados na provável CPI que será aberta após a divulgação dos nomes dos políticos enrolados com a Operação Lava Jato, Eduardo Cunha exigirá mais esforço de Dilma, embora a velha troca de favores do PT com o PMDB possa resolver o problema. O perigo maior (para Dilma, não para nós) é o Ministério Público Federal do Paraná, que poderá desmascarar Graça na ressaca carnavalesca. Se Dilma não mexer bem os pauzinhos, ela aceitará correr o risco?
5) “Lula já não pode ouvir falar de Graça”, disse agora à VEJA uma fonte da alta cúpula petista a quem a presidente da Petrobras fez confidências. Eu havia antecipado aqui: “Blogs sujos do lulopetismo já estão atacando Dilma, até por não demitir Graça. Os petistas querem se limpar na própria sujeira, como sempre.” Os blogs sujos do lulopetismo falavam por Lula, é claro. E Lula, o beneficiário de todos os esquemas, precisa se mostrar contra tudo isso que está aí. “A quem interessa tirar a Graça?”, perguntava Dilma em dezembro. A Lula, ora.
6) Em depoimento à Justiça Federal do Paraná, o lobista Júlio Camargo, ex-conselheiro de administração da Toyo Setal, confirmou que a cobrança de propina para vencer contratos da Petrobras era uma “regra do jogo”. Só em um contrato da Camargo Corrêa, por obras na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), ele afirmou ter feito o pagamento de 12 milhões de reais para o afilhado de José Dirceu, Renato Duque, e seu braço-direito, o ex-gerente Pedro Barusco. Camargo explicou que embutia a propina no valor que cobrava no consórcio. No Repar, o consórcio fechou contrato de cerca de 2,4 bilhões de reais com a estatal: sua consultoria levou cerca de 30 milhões, ele ficou com 18 e repassou os 12 aos arrecadadores petistas Duque e Barusco. Camargo disse que os empresários pagavam propina aos diretores da Petrobras não “por medo”, mas “pela vontade de se obter sucesso”, como eu havia comentado aqui.
E quem tornava possível a “regra do jogo”? Lula, claro. Em 2010, o então presidente vetou o bloqueio de verbas à Repar, que impediam os repasses superfaturados, assim como à refinaria Abreu e Lima – vulgo Abreu e Lula – e ao Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), ambos igualmente denunciados na Lava Jato. Ou seja: Lula tornou possível o abastecimento, com dinheiro da Petrobras, da campanha eleitoral mais cara da história: a de Dilma Rousseff, eleita pouco mais de seis meses depois. Era muita “vontade de se obter sucesso” também.
7) Resumi em 23 de dezembro:
A demissão de Graça por negligência ou qualquer coisa do tipo abre, portanto, no mínimo um precedente moral para o pedido de impeachment de Dilma – legitimado no parecer jurídico do constitucionalista Ives Gandra Martins – e deveria ser usada como tal pela oposição, se ainda houver uma. Com base no artigo 85, inciso 5° da Carta Constitucional, o advogado constatou que “a improbidade por culpa fica caracterizada”. Os 90 manifestantes que receberam a presidente em Campo Grande nesta terça-feira gritando “Impeachment!”, “Fora PT!” e “Lula cachaceiro, devolve meu dinheiro!” deveriam ter gritado também “artigo 85, inciso 5º”.
Guido Mantega foi pré-demitido durante a campanha de 2014. Graça, neste pré-carnaval de 2015. O PT se consagra como o partido dos “cadáveres” no poder. O próximo deveria ser Dilma. Se a máscara de Graça cai, a dela tem de cair também.
* Veja mais aqui no blog:
– Petrolão: 10 depoimentos para ‘estarrecer’ Lula e Dilma
Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil
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