Previna-se contra o vírus da propaganda do governo
Brasil é como os petistas chamam o PT na hora do aperto

Escrevi no Twitter quando Eduardo Cunha acatou o pedido de impeachment:
Pois bem.
Toda a propaganda do governo Dilma no segundo mandato consiste em um cínico apelo pela união de forças para o “Brasil” sair da crise. Obviamente, omite-se que a crise foi causada por ambos os governos petistas, de Lula e Dilma, que nunca quiseram dialogar com ninguém.
Como já escrevi aqui: a gastança de Lula, mantida por Dilma, foi encoberta pelo bom momento internacional até que a queda do preço das commodities exportadas pelo Brasil simplesmente a escancarou. A irresponsabilidade é dos petistas que, em vez de fazerem as devidas reformas, aumentaram gastos contando com financiamento incerto do dinheiro que um dia acaba: o dos outros.
Como diz à Folha o sociólogo José de Souza Martins, de 77 anos: “O PT não avançou propriamente em nenhuma questão social. A classe média do PT caiu de patamar em questão de horas quando a crise se agravou”; “a queda era até previsível, e a recuperação será difícil, porque o governo terá que enfrentar o problema de um crescente número de desempregados – e isso, sim, conta socialmente”.
Tendo também de enfrentar o problema de um crescente número de vítimas da zika, que já matou três pessoas no país, Dilma usa até o combate ao Aedes aegypti como propaganda para se manter no poder.
Ela convocou todos os ministros, inclusive os que nada têm a ver com saúde, para uma mobilização em que eles possam, quem sabe, garantir uma fotinho oficial de repúdio ao mosquito causador da dengue e da febre chikungunya e vetor do vírus zika, novo produto nacional de exportação.
Dilma deve esperar que o mosquito caia para trás diante da quantidade de ministros deste governo mais inchado que as juntas e tornozelos das vítimas da doença. Obviamente, ela omite que sua principal medida nesta área foi usar o Ministério da Saúde como moeda de troca para evitar o seu próprio impeachment, oferecendo-o à bancada do PMDB na Câmara.
A suposta presidente negociou a saúde da população para se manter no cargo e agora o ministro Marcelo de Castro (PMDB-PI) conta o resultado em cadáveres.
O apelo pela união de forças para sair da crise, no entanto, vai muito além de economia e saúde. Ele é, em essência, uma sugestão dissimulada de tolerância e acobertamento de irregularidades ou adiamento de suas investigações.
Isto fica ainda mais claro com o trecho da entrevista concedida pelo ministro José Eduardo Cardozo ao Globo em que ele fala do caso de Renan Calheiros, acusado de usar dinheiro de empreiteira para pagar pensão a uma filha que teve fora do casamento, com Mônica Velloso:
“Globo: A recriação da CPMF passa pela ajuda de congressistas influentes. Semana passada, o principal fiador do governo no Senado, o presidente da Casa, Renan Calheiros, teve uma denúncia retomada no STF [após o relator Luiz Edson Fachin liberar o inquérito para a pauta de julgamento]. O quanto isso impede o governo de navegar em águas mais tranquilas no Congresso?
Cardozo: O presidente Renan tem tido um papel muito importante na consolidação de alternativas para sair da crise. Sequer sei, e acho que ninguém sabe, qual o voto de relator (no STF), neste caso. Não sei se é para arquivar, se é para denunciar, não posso dizer se é uma situação de desgaste. Não podemos especular. O que sei é que o relator está pronto para apresentar seu voto. Acho que esse tipo de coisa tem que ser medido no seu devido tempo. É indiscutível que Renan tem um papel muito importante no país para a busca da saída da crise. O que vai acontecer neste processo, não sei dizer.”
O papel que petistas como Cardozo esperam de Renan, na verdade, é o de recusar-se a instaurar o processo de impeachment de Dilma, usando o poder que a decisão do STF baseada no voto de Luís Roberto “Minha Posição” Barroso concedeu ao presidente do Senado.
O discurso de Cardozo, à medida que enfatiza a importância de Renan, funciona como um apelo dissimulado para que o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, adie a data de julgamento do peemedebista para depois que ele cumprir seu papel de enterrar o impeachment, ou convença seus pares de absolvê-lo logo de uma vez no plenário do Supremo. Não que Lewandowski precise de apelo.
Amigo da família Lula e indicado à Corte pelo petista, o ministro que teve reunião secreta com Dilma em Portugal foi 100% a favor da suposta presidente na sessão sobre o rito de impeachment: votou contra o voto secreto, contra a candidatura avulsa e a favor do poder do Senado de barrar o processo.
O governo, claro, conta com Lewandowski, Barroso e companhia para tornar Dilma imune à crise em que mergulhou o país.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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