Perderam, Chico, Caetano, Roberto, Gil, Erasmo e Paula!
Caiu a mordaça. O Supremo Tribunal Federal derrubou a exigência de autorização prévia para o lançamento de obras de cunho biógrafico no Brasil. A democracia venceu. Chico Buarque, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Gilberto Gil, Erasmo Carlos e Paula Lavigne perderam. Em homenagem a eles, no entanto, relembro com gosto minhas notinhas de 2013 sobre as barbaridades que disseram e […]

O Supremo Tribunal Federal derrubou a exigência de autorização prévia para o lançamento de obras de cunho biógrafico no Brasil.
A democracia venceu. Chico Buarque, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Gilberto Gil, Erasmo Carlos e Paula Lavigne perderam.
Em homenagem a eles, no entanto, relembro com gosto minhas notinhas de 2013 sobre as barbaridades que disseram e escreveram em prol da censura.
Se contar em país civilizado, ninguém acredita.
I. Chico Buarque
a) Em artigo contrário às biografias não autorizadas publicado no Globo, Chico Buarque afirma:
“Se eu processasse o autor e mandasse recolher o livro [já publicado], diriam que minha honra tem um preço e que virei censor.”
Traduzo:
Então prefiro ser chamado de censor censurando o autor previamente mesmo.
b) Espero que Chico escreva mais, em vez de só colocar seu nome em um monte de abaixo-assinados a favor das maiores canalhices da Terra.
Quando escreve em buarquês o que pensa em caetanês (ou vice-versa), ele mostra quem é: apenas um esquerdista histérico que posa de coitadinho para reivindicar leis a seu favor.
II. Caetano Veloso
Biografia autorizada é autobiografia terceirizada.
Se o movimento “Procure Saber” (de-Caetano-Veloso-mas-não-da-sua-vida-sem-lhe-dar-um-dinheirinho) quer proibir a publicação de biografias não autorizadas, exigindo ainda que o biografado seja remunerado nos casos em que as autoriza, sua pretensão é acabar com todo um gênero literário. Coisa de quem, como bem escreveu o editor da Record, Carlos Andreazza, odeia o que jamais poderá compreender.
Título para biografia: “O mínimo que você precisa saber sobre Caetano Veloso, porque o máximo ele não autorizou”.
III. Paula Lavigne
a) O caso Amarildo agora serve até para justificar a censura prévia de biografias. Eis o raciocínio de Paula Lavigne, no ‘Saia [in]Justa’:
1) A indenização por dano moral no Brasil é uma indecência.
2) O cálculo do valor é feito a partir do imposto de renda.
3) Amarildo é morto pela polícia e sua família tem direito a apenas um salário mínimo.
4) Você acha justo que venham cineastas de Hollywood fazer um filme sobre o caso Amarildo sem dar um centavo à família?
5) Conclusão: devemos impedir a publicação de biografias não autorizadas e exigir remuneração aos biografados e seus herdeiros.
Ou seja: se a Justiça não funciona, ou Paula Lavigne a considera injusta, o jeito é estabelecer a censura prévia, que lhe parece perfeitamente justa.
É o velho modo esquerdista de pensar: para reparar o que se considera injusto, propõe-se a criação de mais injustiça.
Capitão Nascimento pergunta se, diante de tanta impunidade, não é melhor então legalizar logo a execução de bandidos algemados.
Eu pergunto o que os cineastas de Hollywood têm a ver com o “dano moral” brasileiro: vamos cobrar deles a indenização faltante?
b) Num minuto, Paula Lavigne reage histericamente a Barbara Gancia, dizendo algo como “então vamos deixar morrer todos os pobres, todos os Amarildos”. No outro, é um doce de pessoa, dizendo que o debate tem de acontecer “sem linchamento, sem bullying”.
Paula Lavigne não quer censurar apenas as biografias. Quer também escolher o tom do debate. O dos adversários, é claro. Talvez devêssemos todos mandar para ela os nossos argumentos, para que ela escolha antes qual podemos usar.
Se a chamarmos de censora por censurar biografias… ela censura.
IV. Roberto Carlos
Traduzo a entrevista de Roberto Carlos ao Fantástico:
“Sou a favor do projeto de lei que permite a publicação de biografias não autorizadas, desde que… Bem, desde que elas sejam autorizadas.”
Não é maravilhoso? O robertocarlês é uma mistura de caetanês com buarquês. Já está merecendo, também, uma coluna no Globo.
V. Gilberto Gil, Erasmo Carlos e Roberto Carlos
a) Você não achou que Gilberto Gil, Roberto Carlos e Erasmo Carlos fariam deste novo vídeo do Procure Saber uma confissão de que não procuraram saber coisa nenhuma, não é mesmo?
Espero que não. Eles naturalmente tinham de mostrar como são lindos, leves, sinceros, corajosos, cheios de emoções, sentimentos, amor pelo próximo; como se julgam no dever de “preservar a todos os que de alguma maneira não têm, como nós temos, o acesso à mídia, ao Judiciário, aos formadores de opinião”…
Puxa vida, fico até emocionado: que pessoas maravilhosas!, quanta solidariedade!, nada mais nobre do que lutar pela censura em nome do povo…
Sim: eles podem ter exagerado em algum momento, sabe como é, que pessoas lindas e maravilhosas não exageram quando estão tentando salvar todas as outras, não é mesmo?
Eles não negam: “Não negamos que esta vontade de evitar a exposição da intimidade, da nossa dor, ou da dor dos que nos são caros, em dado momento nos tenha levado a assumir uma posição mais radical” – e eis aí o limite do ‘mea culpa’ forjado: a não negação de algum exagero inevitável e, no fim das contas, até meritoso em meio à sofrida batalha pelo bem-estar geral. “Mas…”
Mas eles sabem usar a palavra direito um monte de vezes para exigir um monte de garantias que só a censura prévia poderia dar.
Tendo perdido de lavada a batalha racional, resta a estes senhores fingir que não tentaram fazer o que tentaram e continuar tentando a mesma coisa com um apelo sentimental ao Judiciário, o qual ao menos mostre aos incautos como eles têm um bom coração e que “foi por acreditar que este debate seria melhor com a participação de toda a sociedade” que se juntaram.
O ápice do vídeo é o arremate final:
“Só queremos o que a Constituição já nos garante, o direito de nos defender e de nos preservar”, diz Gilberto Gil. “Não queremos calar ninguém. Mas queremos que nos ouçam”, completa Roberto Carlos, o homem que moveu processo contra seu biógrafo até na Vara Criminal.
Paulo César Araújo sabe como ninguém que o direito de se preservar do “Rei” é exatamente o direito de calar quem lhe desagrada, mesmo que este não tenha cometido crime algum.
Espero que ninguém jamais tente calar essa turma do Procure Saber. Quantos mais eles falam, escrevem e postam vídeos, mais eles mostram quem são.
b) Traduzo o vídeo de Gil, Erasmo e Roberto:
“Censores? Nós? Imagine. A censura está nos olhos de quem proibimos de publicar e de quem impedimos de saber.”
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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