
Na Folha: “Não foi nessa Copa do Mundo que a Globo descobriu um novo astro da narração esportiva. A estreia do repórter Alex Escobar na função vem sendo alvo de muitas críticas internas e externas na emissora.”
Eu não vi a estreia de Escobar, mas afirmo: a narração esportiva tem um único astro hoje na TV brasileira. Chama-se Milton Leite. A começar porque narra o jogo. O espectador sabe com quem está a bola, não importa o quão complicado seja o nome do jogador. Leite não foge à narração das equipes estrangeiras com bate-papos paralelos sobre irrelevâncias. Não é o único assim, é verdade. Há outros narradores competentes, que também se esforçam para conhecer os jogadores e descrever ao público o que acontece em campo, transmitindo a emoção do jogo naturalmente, sem apelar a demagogias baratas. Uns melhores, outros piores, de acordo com o nível de compreensão do esporte e a capacidade de preencher seus vazios. Mas nunca serão Milton Leite. Questão de personalidade, para além de qualquer técnica específica.
Nele se soma a irreverência para a qual encontrou a medida certa neste ofício. Não basta dizer bordões para ter uma marca forte, nem mesmo que sejam engraçados para que se seja também; e há uma grande diferença entre ter senso de humor e ser uma ‘persona’ divertida. Há profissionais alegres, que sabem rir das graças inerentes ao contexto futebolístico. E há o piadista espontâneo, que confere graça a qualquer situação, tornando interessantes até os jogos ruins. Entre os narradores exibicionistas – que irritam por querer aparecer mais que o jogo – e os maquinais – que entediam pelo estilo burocrático -, Milton Leite despontou como uma alternativa capaz de narrar com criatividade e entreter sem apelos, transitando com absoluta desenvoltura entre a seriedade da disputa esportiva e o ridículo desta guerra forjada, ciente de que este trânsito é a essência mesma do encanto do futebol. Essência, aliás, tão bem explorada nas décadas de 1980/90 pela equipe do verdadeiro Garotinho José Carlos Araújo na Rádio Globo – e que o diga o Gilsão.
Por que a TV Globo, hoje, ainda procura o que tem ali prontinho no SporTV, eu não sei e nem me importa. Mas (“Olha a batiiiida!”) Copa do Mundo sem “Que beleeeeza!” e “Que faaaase!” seria apenas um torneio desfalcado do astro que melhor a entende.
Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil
Siga no Facebook e no Twitter.
Mais Milton Leite no YouTube – AQUI.