
Arthur Antunes Coimbra, o Zico, completa hoje 61 anos e não poderia ser diferente: as homenagens da nação rubro-negra e de quem mais admira um dos maiores exemplos vivos do esporte – e o maior artilheiro da história do Maracanã com 333 gols em 435 partidas – já fizeram do aniversário do Galo o assunto mais comentado do Twitter, com a hashtag #ParabensZico. Relembro aqui o meu artigo de 2013 em tributo aos seus 60 anos.
O craque de um toque só
Felipe Moura Brasil
“A simplicidade”, dizia Schopenhauer, “sempre foi uma marca não só da verdade, mas também do gênio”.
Todo pensador autêntico, segundo o filósofo alemão, se esforça para dar a seus pensamentos a expressão mais pura, clara, segura e concisa possível.
É assim na filosofia e na arte. É assim também no esporte.
Aqueles que hoje se deslumbram com os malabarismos de Neymar e companhia nunca entenderão o futebol de Zico – a rigor, o único precursor de Zidane. Mas eu explico, mais uma vez: o que eles fazem (ou tentam fazer) com 15 toques na bola, Zico sempre fez com um só.
Um pensador de fato autêntico, que, como Michelangelo diante da pedra, se esforçava apenas para tirar-lhe o excesso. Cada domínio de bola de Zico era, no mínimo, um drible. Cada drible, um passe. Cada passe, um lançamento. Cada lançamento, uma cobrança de falta. Cada falta, um gol.
Ele estava uma, duas, três, mil etapas à frente dos demais, porque jamais quis chamar a atenção do público para si, mas apenas escrever cada lance da maneira mais pura, clara, segura e concisa possível, dispensando todos os artifícios com que os menos talentosos fingem sê-lo.
E é por este fator, condensador de suas muitas virtudes, que seu exemplo transcende o futebol, o esporte e a arte, para não apenas servir de parâmetro e inspiração para os homens de qualquer torcida, lugar e época, mas para engrandecê-los pelo encanto de sua genial simplicidade.
A estátua erguida na Gávea em homenagem aos seus 60 anos não poderia representar melhor o espírito do Galo.
No momento da glória, afinal, nada mais simples do que correr para o abraço.
Obrigado, Zico, por sempre dividi-la com a gente.
Nota de rodapé:
Zico, cobrador oficial da seleção brasileira, perdeu o pênalti contra a França na quarta-de-final da Copa do Mundo de 1986 quando tinha acabado de entrar em campo; mas, na disputa que se sucedeu à prorrogação, já no ritmo do jogo, teve a coragem e o talento para bater e converter o seu.
O Brasil será um país de pessoas mais maduras – e menos invejosas – no dia que elas finalmente deixarem suas paixões de lado e reconhecerem o óbvio: até no momento do maior fracasso, Zico deu um exemplo de grandeza humana que nenhum título mundial jamais poderia dar.
Alguns vídeos:
– Os melhores gols de Zico
– O que vi da vida (Fantástico 09/12/12)
– Top goals and skills
– Os cinco gols mais importantes
– Zico – pra que mais?
– Treinamento de faltas
– Zico dando show cobrando falta, em evento realizado na Gávea
Neste último, uma frase para a posteridade:
“Meu negócio não era fazer graça não, era fazer gol.” (Zico)
Felipe Moura Brasil [o “Pim”] – https://www.veja.com/felipemourabrasil
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