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Felipe Moura Brasil

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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".

Em 2010, Marina atacou Serra no debate da Record. Por que Aécio não atacaria Marina agora? PT venceu no segundo turno, não no primeiro. E porque Marina deixou!

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 31 jul 2020, 02h59 - Publicado em 28 set 2014, 22h32

Até o admirável Marco Antonio Villa chama Aécio de “linha auxiliar do petismo” por criticar Marina. Mas não fazê-lo é ser linha auxiliar do marinismo.

“Ah, mas isto é menos pior!”, gritam alguns, seguros dessa tese também questionável. Ora, menos pior para o Brasil, na cabeça de Aécio, do PSDB e de seus eleitores, é que o mineiro passe ao segundo turno.

E para tristeza dos marinistas de fato e de ocasião (não estou incluindo Villa nisto), há chances, por menores que sejam, de que isto aconteça. Por que então Aécio deveria parar de disputar o segundo lugar do primeiro turno?

Marina não parou em 2010. Há 4 anos, igualmente no fim de setembro, lia-se essa matéria da Folha sobre o debate presidencial na TV Record, cuja edição de 2014 é neste domingo (hoje), às 22:30:

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Sim, “Marina buscou o confronto com Serra do começo ao fim do debate”, sem deixar de atacar Dilma – o que aliás Aécio vem fazendo diária e intensamente em sua campanha, ao contrário do que a gritaria vitimista dos marinistas contra ele quer fazer crer.

Como dizia a reportagem: “É que, para eventualmente ir ao segundo turno, ela não pode apenas roubar votos do tucano. Também precisa abalar o desempenho de Dilma.”

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Do mesmo modo, Aécio precisa abalar o desempenho tanto de Marina quanto de Dilma, o que os números deixam perfeitamente claro:

No Datafolha divulgado na última sexta, 26 de setembro, Dilma tem 40%, Marina 27%, Aécio 18%. Brancos e nulos somam 7% e os indecisos são 4%. (Em votos válidos – quando se tiram os nulos e brancos: Dilma tem 45%, Marina 31%, Aécio 21%.)

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No Sensus, Dilma tem 35,1%, enquanto Marina (25%) e Aécio (20,7%) estão tecnicamente empatados quase no limite da margem de erro de 2,2% para mais ou para menos.

Vejamos agora os resultados disponíveis das pesquisas eleitorais na ocasião daquele debate de 2010:

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No Datafolha divulgado naquele mesmo dia, Dilma tinha 46%(!!!) das intenções de voto contra 28% de Serra e apenas 14% de Marina. Ou seja: Dilma tinha 6 pontos a mais do que tem hoje! Sem falar que no Ibope, ela tinha 50% das intenções de voto!

Pior: em votos válidos no Datafolha, Dilma tinha 51%(!!!) contra 32% de Serra e 16% de Marina, o que lhe daria a vitória já no primeiro turno. O risco de que ela ganhasse por antecipação, portanto, era muito maior do que é hoje!

E isto aconteceu? Não! Já veremos o resultado final.

Mas antes: aqueles que exigem que Aécio pare de “bater” em Marina, onde estavam quando Marina “batia” em Serra? Não acusaram Marina de ajudar o PT naquelas circunstâncias bem mais graves? Nem quando ela optou por não apoiar Serra no segundo turno, o que teria mudado o resultado da eleição, como já mostrei aqui? Tá “Serto”!

Como bem escreveu uma leitora: “Ao contrário, em 2010, toda a mídia classificou Marina de ‘fenômeno político’ (e não de ‘traíra’ ou falsa oposição ao PT) por ter angariado os mesmos 20% que o Aécio teria hoje e de ter fingidamente se calado no 2º turno.

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Exigir que hoje em plena campanha de 1º turno Aécio fique ao lado de Marina (que sempre ODIOU o PSDB, como todos que acompanham a política nestes últimos 24 anos sabem bem!) e do PSB, partido que sempre foi base de apoio dos governos Lulopetistas, é, do meu ponto de vista, uma sacanagem sem tamanho e, quiçá, uma torcida organizada para que o PSDB acabe o quanto antes.”

Eis o resultado final das eleições de 3 de outubro de 2010, em votos válidos:

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Dilma terminou com 46,91%, Serra 32,61% e Marina 19,33%, ou seja: em relação ao Datafolha do dia 27 de setembro, Marina subiu 3,33% em votos válidos na reta final atacando ambos os adversários.

Se os pontos que Dilma perdeu foram para Marina e não para Serra, é justamente porque ela atacou os dois, mostrando-se como a melhor alternativa ao PT. Naquela época, o vazamento na receita e o escândalo na Casa Civil impediram Dilma de crescer; e hoje, o Petrolão e outros escândalos petistas poderiam fazer o mesmo, se bem utilizados pelos adversários.

Em relação ao Sensus de 26-28 de setembro de 2010 (quando Dilma tinha 47,5%, Serra 25,6% e Marina 11,6% dos votos válidos), Marina subiu 7,73% na reta final!

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Marina, aliás, estava a 16 pontos de Serra em votos válidos no Datafolha e mesmo assim continuou atacando o candidato. Aécio está a 10 pontos, e não pode atacar Marina? Mesmo tecnicamente empatado com ela no Sensus?

Serra não estava em queda em 2010. Marina está em queda em 2014. Por que Aécio não tentaria vencê-la se está em ascensão? No lugar do candidato do PSDB, duvido que os marinistas de fato e de ocasião desistissem de tentar. Não se trata de revanche, nem vingança, mas de oportunidade.

O problema é que, na retórica de analistas e militantes, o desejo do que eles gostariam que Aécio fizesse se sobrepõe à compreensão da racionalidade daquilo que Aécio faz. Muitos não deixam claras as diferenças entre uma coisa e outra (nem a si próprios, provavelmente) – e o debate público vira uma guerra de desejos subjetivos, que só confunde a cabeça do eleitor.

Alguns atribuem a Aécio uma “tática suicida”, como se não fosse suicídio jogar a toalha antes da hora. (Tampouco distinguem “para quem” isto é suicídio. Para eles? Para o Brasil? Para o que pensam ser melhor para o Brasil? Para o que pensam ser melhor para Aécio?)

Ficando de fora do segundo turno – e a maior probabilidade é de que haja um -, Aécio ainda poderá apoiar Marina, que de qualquer modo terá mais tempo de TV para recuperar os votos perdidos e ganhar os que nunca teve.

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De resto, é evidente que as críticas de Aécio a Marina, boa parte delas ao petismo da candidata, tendem a tirar muito mais votos dela para ele do que para Dilma, o que, se acontece, é numa porcentagem ínfima relativa aos indecisos que veem a confirmação do que o PT diz sobre Marina no discurso de Aécio, mas não querem votar nele. Esta suposta porcentagem é amplificada no discurso daqueles que preferem condenar o candidato do PSDB por lutar pela sua candidatura a condenar Marina por reagir mal aos ataques do PT.

Eu já mostrei aqui que Marina perdeu 9 pontos e Dilma cresceu 6 no Nordeste, e isto é resultado não das críticas necessárias de Aécio, mas do terrorismo eleitoral do PT sobre a perda de bolsa-família e benefícios afins.

Uma síntese geral do ponto de decisão humana em pauta seria mais ou menos esta:

Por medo de não vencer quando ainda existe a possibilidade, e sabendo que o mais provável é que haja uma segunda etapa para derrotar o suposto inimigo em comum, o melhor a fazer é aliar-se a alguém que sempre atacou você e que nem é (tão) diferente assim do inimigo em comum do qual esteve ao lado por mais de 20 anos?

OU:

Por medo das remotas chances de que o suposto inimigo em comum vença por antecipação a batalha, deve-se parar de lutar por uma chance de derrotá-lo na provável segunda etapa, só porque isto pode prejudicar alguém que sempre atacou você e que nem é (tão) diferente assim do inimigo em comum do qual esteve ao lado por mais de 20 anos?

Onde está, aliás, o discurso da candidata do PSB em favor dessa aliança? O que ela tem a oferecer em troca? Eu não sou radicalmente contra tal coisa, apenas avalio que a questão dependeria muito dos termos e que a antecipação dessa necessidade, pelo menos enquanto Dilma tem 40% no Datafolha, com rejeição de 31%, é um desespero desnecessário.

De minha parte, ademais, se a outra opção em jogo é Marina, que apoia o maior atentado do governo Dilma contra a democracia (o decreto 8.243), o remoto risco de que Dilma vença no primeiro turno dificilmente me faria deixar de lutar pela minha remota chance de passar ao segundo.

E você aí pode até ser a favor de uma aliança, preferir tal coisa, ter um desejo por ela, mas, dadas as circunstâncias, conforme analisado acima, a opção de Aécio pela luta até o fim é perfeitamente racional e digna – e não vejo motivo algum para condená-lo, ainda que Dilma seja eleita no primeiro turno, com seu terrorismo eleitoral.

Mas podem me culpar à vontade também, caso isto aconteça. Sei que os marinistas de fato e de ocasião vão se aproveitar do não governo de Marina para supor que ele seria muito melhor que o próximo governo de Dilma e vão atacar quem quer que não tenha apoiado a candidata do PSB, acreditando-se cobertos de uma razão demonstrável.

Fiquem à vontade. Não dou a mínima para a gritaria de petistas, marinistas ou antipetistas voluntariamente cegos.

[* VEJA O PRÓXIMO POST: Aécio ultrapassa Marina no Centro-Oeste. E ainda querem que ele jogue a toalha?]

Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil

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