Brasil é, no mínimo, o 34º em número de presos por 100 mil, mas jornais caem na maquiagem do relatório do Infopen
José Eduardo Cardozo conseguiu emplacar na imprensa, em pleno período de discussão sobre a redução da maioridade penal, a notícia de que o Brasil tem a 4ª maior população carcerária do mundo, com 607 mil presos, ficando atrás apenas de China, Estados Unidos e Rússia. Os dados são de um relatório do Infopen, divulgado pelo […]
José Eduardo Cardozo conseguiu emplacar na imprensa, em pleno período de discussão sobre a redução da maioridade penal, a notícia de que o Brasil tem a 4ª maior população carcerária do mundo, com 607 mil presos, ficando atrás apenas de China, Estados Unidos e Rússia.
Os dados são de um relatório do Infopen, divulgado pelo Ministério da Justiça, e também mostram a superlotação em presídios nacionais.
Como sempre, os jornais reproduzem o release oficial, sem informar os leitores de que, bem, o Brasil tem a 5ª maior população do mundo, atrás apenas de China, Índia, EUA e Indonésia, de modo que ficar em 4º em número absoluto de presos é absolutamente natural.
No ranking mundial de número de presos por habitantes, o Brasil ocupa, na verdade, a vergonhosa 36ª posição, com 289 presos por 100 mil habitantes, de acordo com o Centro Internacional de Estudos Prisionais (ICPS, na sigla em inglês).
O relatório do Infopen aumentou esse número de 289 para 300 presos por 100 mil, o que não melhora em praticamente nada a posição do Brasil, que ficaria então em 34º.
Acontece que o relatório faz parecer que o Brasil ficaria em 4º também neste quesito, como “acreditou” uma parte da imprensa. É mentira. E eu provo.
O Infopen apresenta na figura abaixo “um panorama geral da situação prisional dos vinte países com maior número de presos no mundo”. Veja:
Em seguida, vem a maquiagem sutil do Infopen: “Cotejada a taxa de aprisionamento desses países, constata-se que, em termos relativos, a população prisional brasileira também é a quarta maior: somente os Estados Unidos, a Rússia e a Tailândia têm um contingente prisional mais elevado.”
O relatório dá margem à confusão, porque indica a posição do Brasil em número de presos por 100 mil habitantes não no ranking de todos os países do mundo, mas no dos 20 países com maior número absoluto de presos. E esses 20 países não são necessariamente os que têm o maior número de presos por 100 mil.
As listas são diferentes, é claro, e eu mostro a verdadeira, que o Infopen faz questão de não mostrar, embora cite o ICPS quando lhe convém.
Na lista correta do ICPS, Estados Unidos (em 2º), Rússia (em 8º) e Tailândia (em 10º) também estão obviamente na frente do Brasil, com a diferença de que há mais algumas dezenas de países à frente do nosso, que não estavam na figura do relatório.
O Estadão e o UOL, no entanto, noticiaram a falsa posição do Brasil em termos proporcionais no ranking mundial (embora os números de cada país sejam praticamente os mesmos da lista correta, repare):
“Em termos proporcionais, o Brasil possui 300 presos para cada 100 mil habitantes, uma taxa menor apenas à verificada nos Estados Unidos (698 presos para cada 100 mil habitantes), na Rússia (468) e na Tailândia (457).”
Mentira. O Brasil está, no mínimo, em 34º lugar.
Mas o conto da 4ª posição é útil à militância de esquerda, ávida em mostrar que prender mais bandido é uma coisa assim muito ruim para o Brasil e, se o país está prendendo mais, é porque algo está errado, não porque ele precisa.
Levando-se ainda em conta que o Brasil é o líder isolado em número absoluto de homicídios, e que apenas 8% dos casos chegam a ser solucionados, obviamente conclui-se que a polícia prende muito menos do que deveria, ao contrário do que petistas e demais esquerdistas querem provar.
Com frequência, como já mostrei aqui, eles também usam o velho expediente de relacionar a taxa nacional de encarceramento – elevada pelos estados que prendem mais – à taxa nacional de homicídios – elevada pelos estados que prendem menos – para fazer parecer que prender bandido não reduz a criminalidade e o Brasil “precisa de menos pessoas presas”.
Na verdade, precisamos é de mais e melhores prisões, mas há 12 anos o PT prefere usar a precariedade do sistema prisional para legitimar que os bandidos – integrantes da classe revolucionária, como ensinava Herbert Marcuse – fiquem soltos aterrorizando a população brasileira.
Como disse o deputado Efraim Filho (DEM-PB) há uma semana, na comissão da maioridade penal:
“O governo aqui falou, por exemplo, que os presídios são medievais, mas foi ele que contingenciou os recursos para construir os presídios.”
Pois é. Os jornais não deveriam contingenciar essas informações.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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