Felipe Moura Brasil
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Por Blog
Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
Até como gandulas na Copa os menores vão ser proibidos de trabalhar também? Só faltava essa! Êêê-Êêê-Ê, tem Ministério Público querendo aparecer! (É o do Trabalho!)
Gandula recebe treinamento no campo do CFZ, no Rio de Janeiro, uma das onze cidades onde os menores se preparam para trabalhar na Copa. O pacote inclui um livro com todos os deveres e obrigações, além de aulas teóricas e práticas. Fonte: GloboEsporte.com.
Não basta impedir os menores de trabalhar em oficinas mecânicas, como mostrei aqui, por um salário razoável para ambas as partes envolvidas, incluindo os pais. Agora o Ministério Público do Trabalho do Paraná quer impedir que menores de 18 anos trabalhem como gandulas nos jogos da Copa do Mundo de 2014, no Brasil. A decisão, que vale para as 12 sedes do evento, foi anunciada em reunião em Curitiba, segundo informou ontem reportagem do SBT.
A procuradora do Ministério, Margaret Carvalho, afirmou:
“Atividades que seriam de risco, perigosas, insalubres, ou mesmo no horário noturno, não podem ser permitidas para menores de 18 anos.”
Oooohhh, quanto risco, minha senhora! Quanta insalubridade! Décadas e décadas de “gandulismo” traumatizaram física e emocionalmente milhares e milhares de menores para a vida inteira, não é mesmo? Como esquecer a menina Sonja Martinelli, aos 11 anos, chorando ao ver seu time de coração, o Botafogo, derrotado pelo Vasco por 3 a 0 no Maracanã, em 1988? Não deve dormir até hoje! Finalmente descobrimos a origem dos males brasileiros: os menores apanhadores de bola! Eles não podem trabalhar à noite na beira do campo; só ficar na arquibancada, entre uma torcida organizada e outra, o que é, sem dúvida, menos arriscado…
O Ministério Público “Dono da Bola” do Trabalho, dia e noite, é mesmo um risco para a salubridade nacional.
Três exemplos foram usados durante a reunião, a fim de justificar a proibição:
1) Em 2012, Vanderlei Luxemburgo, que treinava o Grêmio, discutiu com o gandula. E aí você imagina um gandulinha, pequenino e indefeso, quando na verdade se tratava desse aqui, ó:
Luxemburgo acabou expulso.
2) Em 2013, foi a vez de Dunga, então técnico do Inter de Porto Alegre, “agredir” outro gandula durante o Campeonato Brasileiro. Por “agredir”, entenda-se que Dunga, com seu jeitinho todo exagerado de ser, segurou o braço do garoto, bem grandinho também, enquanto lhe passava o sermão.
3) O maior escândalo foi no ano passado pela Liga Inglesa. O jogador do Chelsea chutou o gandula, que demorou a repor a bola em campo.
O belga Eden Hazard foi expulso de campo por isso e pegou três jogos de suspensão. Ele alegou cinicamente que queria acertar a bola, para pegá-la de volta das mãos do gandula Charlie Morgan, um moleque mimado de 17 anos que, como revelava o seu último tuíte antes do jogo, planejava reter a bola para gastar tempo e classificar seu time. A principal consequência do episódio para Morgan: ganhou milhares de seguidores no Twitter.
Qual é a probabilidade de um jogador repetir a imbecilidade isolada de Hazard em plena Copa, com milhares de câmeras e milhões de pessoas assistindo (e ainda sair vivo de campo)?
Proibir o “gandulismo” por isso – quer dizer, proibir os menores, após uma série de aulas teóricas e práticas, de chegarem perto de seus ídolos, participar de um grande evento, embelezá-lo com o frescor da juventude, experimentar uma certa responsabilidade e guardar histórias para a vida inteira – consegue ser pior do que proibir a população de se defender armada contra criminosos só porque, vez ou outra, um pai irresponsável deixa a sua arma ao alcance de uma criança estúpida.
Mais um pouco e vamos proibir os aviões, porque alguns caem; os carros porque batem; as piscinas porque afogam. Isso é pura matemática esquerdista.
[Sobre desarmamento, ver meus artigos de 2011 “A pontualidade do nosso atraso” e “O monopólio das vaginas“.]
O Ministério Público do Trabalho disse que vai processar a patrocinadora da Copa que contrata os gandulas, se menores trabalharem nos jogos.
É isso aí, MP. No Brasil, lugar de menor é na frente da TV ou no mundo do crime. O jornalista Paulo Eduardo Martins, do SBT, comentou a barbaridade, citando também o caso que fiz repercutir e comentei aqui, do empresário multado por empregar um menor. Enquanto nossos legisladores não devolverem a bola à molecada, seremos obrigados a lhes dar uns chutes verbais.
De resto: a única chance do Brasil na Copa está nas mãos dos gandulas mesmo. O Ministério Público do Trabalho só pode estar infiltrado de argentinos…
Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil
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Matéria sobre o treinamento:
– Dia de gandula: jovens sonham com a Copa e com proximidade com ídolos
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