A vocação do saudoso Loureiro Neto – e um aviso: não há realização pessoal, enquanto a vocação não rola

Eu cresci ouvindo Loureiro Neto no “Enquanto a bola não rola” da Rádio Globo, a caminho do Maracanã com a família e os amigos, e o meu Rio de Janeiro estava em boa parte ali, naquela voz ao mesmo tempo grave de liderança e doce de espontaneidade que comandava o giro dos bastidores do espetáculo de domingo, aquecendo o coração do torcedor com as informações e o humor necessários aos encantos do esporte, antes da chegada do verdadeiro Garotinho, José Carlos Araújo, com o bordão: “Cheguei! Boa tarde à maior plateia esportiva do rádio…”
Sua carioquice de espírito, presente nas mesas redondas do rádio e da TV, está descrita na nota póstuma dos colegas da Globo:
“Loureiro nasceu em Portugual, mas adotou e foi adotado por Copacabana. Conhecia os bares, os garçons, os jornaleiros, os porteiros e peladeiros. Loureiro era da praia e do futebol. Vascaíno apaixonado, foi referência e criou escola de como fazer uma cobertura esportiva. Ele era da praia, da bola e do samba. Mangueirense, foi presidente de ala na verde e rosa e um defensor das tradições e do bom carnaval. Loureiro foi o mais carioca dos portugueses”.
[Assista à matéria do RJTV – aqui.]
Sua personalidade, decerto, encontrou no ofício jornalístico uma extensão na qual se desdobrar naturalmente, como convém a quem exerce uma vocação sincera. Com a voz, a simplicidade, a comunicabilidade e as paixões que tinha, como poderia ter sido ele outra coisa que não o radialista marcante que foi? Não há realização pessoal, enquanto a vocação não rola.
Eu, que também sou da praia, da bola e do samba, não posso deixar de louvar aqueles que, como Loureiro Neto, buscam ser aquilo que são – e, ao fazê-lo, marcam e inspiram gerações, compondo, discretamente ou não, as suas (nossas) melhores lembranças.
Ainda, é claro, que sejam vascaínos.
Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil
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