
Um dos cinco pecados que bradam aos céus assinalados na Bíblia, a ingratidão a um benfeitor é uma das essências do petismo, como já mostrei aqui em relação à criação do Bolsa-Família (sugestão do tucano Marconi Perillo, admitida por Lula no dia do lançamento) e, também, ao Plano Real (contra o qual o PT lutou, e do qual se aproveitou depois).
O médico e histologista espanhol Ramón y Cajal, vencedor do Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia de 1906, dividia assim os ingratos:
Com os tucanos, Lula, Dilma e os demais petistas são os ingratos do pior tipo: o que se vinga do favor que recebeu. Mas agora o problema é interno: o mensaleiro petista José Dirceu – padrinho político de Renato Duque, que recolhia propina para o partido no caso do Petrolão – é quem está magoado com Lula, já conhecido por deixar soldados feridos pelo caminho. Dirceu pediu ao Instituto Lula uma conversa com o ex-presidente, com o objetivo de se dizer à disposição para ajudar os companheiros a rebater as acusações, mas, em vez de ligar de volta, Lula mandou Paulo Okamotto, seu fiel escudeiro, telefonar para Dirceu:
“Do que você está precisando, Zé?”, questionou Okamotto.
Dirceu interpretou a pergunta como uma tentativa do sindicalista de comprar o seu silêncio e respondeu com a mágoa de quem foi abandonado durante o ano em que passou caladinho na cadeia, sem denunciar o chefe: “Você acha que vou ligar para pedir alguma coisa? Vocês me abandonaram há tempos”, respondeu, como revelou VEJA desta semana.
Com Dirceu, portanto, Lula é o tipo de ingrato que silencia diante do favor e manda alguém comprar a manutenção dele em seu lugar.
Como diria o célebre escritor francês Honoré de Balzac:
Lula, de fato, nunca poderá pagar essa dívida a Dirceu, a não ser financeiramente.
O mensaleiro devia ter aprendido com o escritor mexicano Ignacio Manuel Altamirano:
E Lula não merecia o favor.
O escritor francês Charles Pinot Duclos sabia bem os motivos:
O atual ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, foi indicado por Lula para o seu cargo anterior no ministério das Relações Institucionais, em retribuição à responsabilidade que o ex-presidente lhe transferira no escândalo dos aloprados e Berzoini aceitara em silêncio. A diferença básica é que, não tendo sido preso, o ministro não ficou com uma imagem tão denegrida quanto a de Dirceu, cuja companhia pode prejudicar Lula politicamente. Eis um dos interesses – de olho em 2018 – que provavelmente motivam a sua ingratidão.
Depois de VEJA noticiar a mágoa, imagino que Lula morra de vontade de vazar para a imprensa algum defeito de Dirceu (mas a prudência lhe impede de mexer nesse vespeiro). Como dizia o escritor e político brasileiro Marquês de Maricá:
O monge agostiniano Martinho Lutero já antecipava a profundidade das feridas petistas:
O poeta e escritor alemão Johann Goethe sabia bem que tipo de homem é ingrato como Lula:
O escritor francês Victor Hugo colocava a ingratidão na conta da infelicidade:
A julgar pelas denúncias em delação premiada do doleiro Alberto Youssef de que Lula ordenou o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, a “comprar o silêncio do empresário” Ricardo Villani, que ameaçou denunciar o esquema de corrupção quando os pagamentos à Muranno foram suspensos, é melhor Dirceu se acostumar mesmo com a ingratidão do ex-presidente: com tantos silêncios a comprar e gerir, a infelicidade de Lula tende a aumentar.
Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil
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