‘O gângster’: Um filme para inspirar Dirceu a delatar Lula e Dilma. Lava Jato investiga mensaleiro, cuja empresa recebeu quase R$ 4 milhões de empreiteiras do petrolão

Eu já havia lançado aqui a campanha “Fala, Dirceu!”, que agora tem mais um motivo para ser atendida pelo mensaleiro: os investigadores da Operação Lava Jato descobriram que a JD Assessoria e Consultoria recebeu mais de 3,7 milhões de reais de três construtoras ligadas ao petrolão, cujos principais executivos foram presos no fim do ano passado pela Polícia Federal.
No Brasil, como se sabe, “consultoria” é com frequência um eufemismo para “tráfico de influência”, o que o próprio Dirceu indiretamente admitiu fazer em entrevista à Playboy quando disse “no governo, quando eu dou um telefonema, modéstia à parte, é um telefonema!”.
A imagem de Dirceu não é boa no país. Outro dia mesmo vi o ex-ministro Joaquim Barbosa ser aplaudido ao sair de um bar no Rio de Janeiro, obviamente por ter contribuído para sua prisão.
Dirceu queria se reinventar na vida política depois de um ano na Papuda, e ontem mesmo ensaiava comandar uma oposição petista à presidente Dilma Rousseff, mas o fato é que a melhor maneira que ele tem disponível para se reinventar é como delator, especialmente após o ingrato Lula não retornar seus telefonemas, como mostrei aqui.
Como inspiração para a nova carreira, recomendo-lhe o filme mais injustiçado de 2007, “O gângster”, de Ridley Scott, com Denzel Washington e Russel Crowe num duelo extraordinário em que um é criminoso, porém fiel à família, e outro é policial honesto, porém infiel – como se o homem americano jamais conseguisse manter a integridade em todos os quesitos.
É um tanto diferente de filmes brasileiros como “Cidade de Deus”, “Meu nome não é Johnny”, “Tropa de Elite” e outros tantos que retratam a nossa luta nacional de bandido contra bandido, com gente geralmente desonesta em todos os quesitos, mas Dirceu há de entender o recado de Richie Roberts (Crowe) para o gângster finalmente preso Frank Lucas (Washington) como uma promessa antecipada do juiz Sérgio Moro:
“Frank: O que você pode me prometer?
Richie: Eu posso lhe prometer que se você mentir sobre um só nome, você nunca vai sair da prisão. Você mente sobre um dólar, uma conta no exterior, e você nunca vai sair da prisão. [Goles de café.] Agora você pode ser rico na cadeia para o resto de seus dias, ou ser pobre fora dela por alguns. Isso é o que eu posso lhe prometer.
Frank: O que você quer, Richie? Gângsteres judeus, gângsteres do Mick, gângsteres italianos? Eles estão sugando o dinheiro do Harlem desde que desembarcaram. Eu não tenho nenhum problema em entregá-los, você pode tê-los.
Richie: Eu vou aceitá-los também.
Frank: Você quer a polícia? Você vai atrás do seu próprio tipo de gente?
Richie: Eles não são o meu tipo. Eles pegam dinheiro de você, não são o meu tipo. Eles não são o meu tipo como os italianos não são os seus.”
Frank então começa o processo de delação, ajudando Richie a desbaratar as principais gangues locais e prender os maiores criminosos da região, até ser solto anos depois.
Vá, Dirceu, inspire-se: Lula e Dilma sabiam de tudo do petrolão e você decerto sabe tudinho deles, tanto que o ex-presidente morre de medo e manda Paulo Okamotto comprar o seu silêncio. Você dificilmente será aplaudido um dia ao sair de um bar no Rio de Janeiro, mas terá ao menos amenizado seus crimes.
Quem sabe não vira filme também? Veja que, na captação de recursos do cinema nacional, há sempre alguém no papel de “consultor”…
Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil
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