‘Pantera Negra 2’ honra legado de Chadwick Boseman
O filme da Marvel encontra o amadurecimento necessário para seguir em frente após a morte do ator
Colhendo os louros do sucesso estrondoso do filme Pantera Negra, de 2018, o diretor Ryan Coogler estava havia um ano desenvolvendo o roteiro da sequência quando recebeu a chocante notícia da morte de Chadwick Boseman, protagonista da trama. O ator de 43 anos lutava em segredo contra um câncer de cólon e morreu em agosto de 2020, quando a Marvel ainda desenhava a logística de como rodar um filme na pandemia.
Pantera Negra: O Jovem Príncipe
O adeus repentino abalou a todos. Boseman ia além do figurino do super-herói africano: nos bastidores ele servia como um conselheiro e exemplo para a equipe, especialmente para Coogler, dez anos mais novo que o ator. O cineasta quis desistir da continuação, mas foi dissuadido pelo chefão da Marvel, Kevin Feige. “Chegamos à conclusão de que, em homenagem a Boseman e em respeito aos envolvidos, Wakanda deveria continuar”, disse Feige no evento de lançamento do filme, do qual VEJA participou. Ficou decidido também que o país fictício e seus moradores, inevitavelmente, enfrentariam a perda sentida nos bastidores: um processo de cura que passou por todas as fases do luto, da negação à raiva, até a barganha e a aceitação. A trajetória conduz Pantera Negra: Wakanda para Sempre (Black Panther: Wakanda Forever, Estados Unidos, 2022), em cartaz nos cinemas. O filme é embalado não só pela melancolia da perda, mas também pelos elementos que a envolvem, como a alegria das boas memórias, as ironias cotidianas e o amadurecimento necessário para continuar.
Quem trilha esse caminho lado a lado com o espectador é Shuri (Letitia Wright), princesa de Wakanda e irmã do rei T’Challa, o Pantera Negra. Jovem prodígio da família e gênio da tecnologia, Shuri se ressente de sua incapacidade de salvar o irmão, mesmo com seu vasto conhecimento científico. A dor a torna ainda mais incrédula em relação às lendas ancestrais que servem como um conforto espiritual para sua mãe, a rainha Ramonda (Angela Basset, ótima). “Nossa intenção, desde o primeiro filme, era explorar parte da cultura africana e suas crenças perdidas na diáspora (nome dado à imigração forçada de africanos escravizados)”, disse Letitia em entrevista a VEJA.
Pantera Negra: Quem é o Pantera Negra?
Esse mote cultural se reflete nos inimigos enfrentados por Wakanda — um grande acerto dos dois filmes e que os destaca dentro do maniqueísmo do bem versus o mal de histórias de super-heróis. Sem cair na armadilha do lugar-comum, que colocaria o reino africano contra potências europeias ou diante da ganância americana, numa alusão ao colonialismo, Coogler prefere se aprofundar em conflitos entre iguais, capazes de causar empatia. Enquanto no primeiro filme o Pantera Negra lida com a mágoa de um primo excluído (vivido por Michael B. Jordan), agora o antagonismo vem de Namor (interpretado pelo ator mexicano Tenoch Huerta). O ser superpoderoso descende dos maias e lidera Talokan, um reino subaquático estabelecido pelos nativos no século XVI para fugir da opressão espanhola que dominou o México.
Namor passou por mudanças radicais para entrar no filme. Criado em 1939, ele é o personagem mais antigo das histórias em quadrinho da Marvel e atende também pela alcunha de Submariner. Em sua versão original, é filho de um marinheiro com uma princesa do reino de Atlântida. Explorada à exaustão por escritores e roteiristas, a mítica ilha submarina é casa também de outro herói, o Aquaman — cria da DC Comics, rival da Marvel (vale ressaltar que Sumariner veio antes: Aquaman foi criado em 1941).
Pantera Negra: Vingadores do Novo Mundo
Ao tornar Namor descendente de uma civilização pré-colombiana escravizada por europeus, Coogler o encaixa na ideia central de Pantera Negra: nesse universo, os conceitos históricos entre dominantes e dominados são subvertidos, mostrando a resistência de povos oprimidos, assim como o medo explosivo de serem novamente perseguidos. “A maioria dos latino-americanos carrega uma herança indígena. Espero que esse filme nos ajude a abraçar esse laço”, disse Huerta a VEJA. Namor e Shuri se cruzam quando uma cientista americana desenvolve uma máquina capaz de encontrar vibranium. O poderoso metal, então exclusivo de Wakanda, também existe em Talokan. Os dois personagens vão de amigos a inimigos enquanto compartilham as peculiaridades do luto (Namor perdeu a mãe na infância) e o peso do legado de manter um reino de pé. Uma bela jornada de riso e lágrimas.
Publicado em VEJA de 16 de novembro de 2022, edição nº 2815
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