O que disse diretor de ‘O Agente Secreto’ sobre estreia de filme em Cannes
Kleber Mendonça Filho apresentou seu novo longa-metragem, estrelado por Wagner Moura, na competição do Festival de Cannes

O Agente Secreto, que teve sua estreia mundial na competição do 78º Festival de Cannes, na tarde do domingo, 18, mergulha o espectador nos anos 1970, mais precisamente em 1977, com a história de Marcelo (Wagner Moura), um especialista em tecnologia que está sendo perseguido e se refugia no Recife, onde mora seu filho pequeno.
Na entrevista coletiva para a imprensa brasileira, logo depois da sessão de gala, que começou com frevo e terminou com ovação e lágrimas de emoção, Kleber Mendonça Filho explicou que queria dirigir um longa-metragem ambientado nessa época como exercício histórico. “O filme de época se torna um desafio, porque ele é cheio de detalhes, mas eles não são suficientes. Os detalhes também vêm com o coração. 1977 é o primeiro ano que eu lembro do passado, porque eu tinha 9 anos.”
O cineasta, porém, destacou que O Agente Secreto pode ser ambientado nos anos 1970, mas fala do Brasil de hoje. “A gente voltou algumas décadas no pensamento social. Palavras que tinham sido aposentadas voltaram por ressentimento. Palavras de racismo, de homofobia, de misoginia. A gente agora está tentando sair dessa, mas está sendo bem difícil. O Agente Secreto tem uma certa aspereza daquele tempo, mas infelizmente é muito contemporâneo.”
Riqueza da cultura popular
Kleber Mendonça Filho falou sobre a riqueza da cultura brasileira. “Expressar-se artisticamente faz parte do que uma nação significa. Talvez a maior parte dos países tenha vocação cultural, mas no Brasil ela é muito especial, é reconhecida no mundo inteiro por meio da música, da literatura, do cinema, do teatro, das artes plásticas. E eu acho que é absolutamente digno e honesto um país apoiar seus artistas e a produção cultural”, afirmou.
Ele destacou que o cinema da maioria dos países é financiado ou apoiado por políticas públicas. “A gente vem a Cannes onde muitos filmes do mundo inteiro trazem nos créditos apoios públicos à realização desses filmes. Na Europa é um caminho absolutamente natural e que faz parte da cadeia produtiva”, disse. “Fico muito feliz de O Agente Secreto ser um filme brasileiro, mas realizado com dinheiro público não só do Brasil, mas da França, da Alemanha e da Holanda. E esse filme empregou mais de 1.200 pessoas. Fico muito orgulhoso de fazer parte de um país e ser artista em um país que apoia a produção cultural. Eu como artista dou a minha contribuição, mas há centenas de homens e mulheres que fazem arte no Brasil e para mim é absolutamente digno e honesto o apoio institucional, o apoio público, com total liberdade democrática para expressar o que você quiser.”
Wagner Moura, por sua vez, falou da importância de tratar da ditadura militar e relacioná-la com o presente e fez questão de destacar a relevância de Ainda Estou Aqui. “É um filme que conectou o público brasileiro com o cinema adulto brasileiro de uma forma extraordinária. Depois de muitos anos de falácia, de mentira, de ataque à cultura, de ataque à classe, de tantas fake news, tem um filme que é visto por milhares de brasileiros, com os jovens dizendo: ‘Caramba, teve uma ditadura militar no Brasil. Não quero que isso aconteça nunca mais’. Tem um efeito político, mas outra coisa extraordinária são as pessoas torcendo por aquele filme. O movimento que ele causou de as pessoas dizerem assim: ‘Fernanda Torres é uma artista brasileira que me representa como brasileiro’. E eu fico muito feliz de a ministra da cultura estar aqui”, disse o ator.
Margareth Menezes, que está em Cannes porque o Brasil é o país de honra do Marché du Film (o mercado de cinema que acontece paralelamente ao festival), estava no Grand Théâtre Lumière para a gala de O Agente Secreto e depois compareceu à entrevista coletiva.