O filme vencedor do Oscar no qual Navalny previu seu destino
Produção disponível na HBO Max destrincha os mecanismos do governo russo para eliminar a oposição contra Vladimir Putin

No Oscar de 2023, a esposa do advogado russo Alexei Navalny, Yulia, subiu ao palco da premiação junto com o time do filme Navalny, vencedor da estatueta de melhor documentário. Lá, ela relembrou o mundo sobre a situação do marido, principal opositor do presidente da Rússia, Vladimir Putin, preso de forma arbitrária pelo mandatário que não aceita concorrência. “Alexei, eu sonho com o dia que você estará livre e nosso país também. Fique firme”, disse ela. O desejo, porém, não foi atendido. Nesta sexta-feira, 16, Navalny morreu na prisão — um destino trágico que ele previu no filme premiado. Confira a seguir a resenha da produção disponível na HBO Max.
Navalny
Irônico, o advogado russo Alexei Navalny começa a entrevista para o documentário que leva seu nome refutando a pergunta do diretor. “E se você morrer, qual sua mensagem para o povo russo?”. Navalny responde: “Não, não vamos fazer esse tipo de filme. Vamos fazer um thriller investigativo. E, se eu morrer, aí depois você faz um filme chato sobre minha vida”. A conversa absurda tem os dois pés na realidade. Principal opositor de Vladimir Putin, Navalny sobreviveu a um envenenamento e, recuperado na Alemanha, planejava naquele momento voltar ao seu país natal, onde a possibilidade de uma nova tentativa de assassinato era patente. Seguindo a sugestão do político, o diretor canadense Daniel Roher transforma o filme em um thriller investigativo – recorte que não demanda muito esforço narrativo: os últimos anos da vida de Navalny surpreendem o roteiro mais mirabolante de Hollywood.
Liderando um movimento anti-Putin, focado nos escândalos de corrupção do atual governo, Navalny se tornou uma pedra no sapato do presidente, ou melhor, ditador, capaz de furar o bloqueio de uma mídia controlada pelo governo — e provocar protestos populares pelo país. Enquanto sua popularidade crescia entre os russos, maiores eram os ataques dos aliados de Putin ao advogado. O filme acompanha essa disputa, faz perguntas difíceis e contundentes ao político (como sua participação em uma marcha de extrema-direita), e se demora no caso do envenenamento.
Em 2020, em um voo da Sibéria para Moscou, Navalny passou mal e foi atendido após um pouso de emergência. Dias depois, transferido para a Alemanha, constatou-se que ele fora envenenado pela substância Novichok, agente letal que atinge o sistema nervoso, fabricado exclusivamente pela Rússia. Sem a esperança de uma investigação oficial do país de Putin — e certo do envolvimento do Kremlin no atentado — um jornalista especializado em dados deu início a uma análise independente, pontapé da trama que embala o documentário.
Conforme Navalny toma os noticiários mundiais, a ideia de um novo atentado contra ele se torna mais difícil: a pressão internacional cairia sobre a Rússia. Porém, enquanto o documentário se desenrola, difícil esquecer da guerra do país contra a Ucrânia. O desfecho feliz para Navalny, preso assim que colocou os pés na Rússia, se revelou então insólito ao fim do documentário.
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