O discurso que Walter Salles pretendia fazer no Oscar; leia na íntegra
Diretor de 'Ainda Estou Aqui' foi acelerado pela produção da premiação e não teve tempo de falar tudo que gostaria

Vencedor do Oscar 2025 de melhor filme internacional por Ainda Estou Aqui, Walter Salles não teve tempo de fazer o discurso inteiro que gostaria — e acabou falando só metade dele no palco do Dolby Theater na noite de domingo, 2, já que a produção da premiação acelerou o brasileiro. Nesta segunda-feira, 3, porém, o cineasta conseguiu distribuir para a imprensa em Los Angeles uma cópia do texto que pretendia ler na frente de todos.
Confira o discurso de Walter Salles na íntegra:
Obrigado, em nome do Cinema Brasileiro. Agradeço à Academia por reconhecer a história de uma mulher que, diante de uma tragédia causada por uma ditadura militar, optou por resistir para proteger sua família. Em um tempo em que tais regimes estão se tornando cada vez menos abstratos, dedico esse prêmio a Eunice Paiva e a todas as mães que, diante de tamanha adversidade, têm a coragem de resistir. Que nos ensinam a lutar sem perder a capacidade de sorrir, mesmo quando elas se sentem frágeis. Este prêmio também pertence a duas mulheres extraordinárias, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. Elas não apenas elevaram nosso filme, mas representam o fato de que a arte resistiu no Brasil. Governos autoritários surgem e desaparecem no esgoto da história, enquanto livros, canções e filmes ficam conosco… Obrigado a todos, em nome do cinema brasileiro e latino-americano! Viva a Democracia, ditadura nunca mais!
No Oscar, Salles até pegou seus óculos e um papel para ler, mas falou de cabeça rapidamente e conseguiu dedicar o prêmio para Eunice Paiva, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro: “Em nome do cinema brasileiro, é uma honra tão grande receber isso de um grupo tão extraordinário. Isso vai para uma mulher que, depois de uma perda tão grande no regime tão autoritário, decidiu não se dobrar e resistir… Esse prêmio vai para ela: o nome dela é Eunice Paiva. E também vai para as mulheres extraordinárias que deram vida a ela. Fernanda Torres e Fernanda Montenegro”, disse Walter Salles no palco do Dolby Theatre.
O cineasta também citou os nomes de Tom Bernard e de Michael Baker, executivos da Sony Pictures Classic, principal produtora internacional do filme. Baseado no livro de memórias homônimo de Marcelo Rubens Paiva, um dos cinco filhos de Rubens e Eunice, a trama de Ainda Estou Aqui é bem fiel à realidade. Rubens foi de fato dirigindo o próprio carro para o depoimento do qual nunca voltou. Sua certidão de óbito só foi emitida 25 anos depois de sua morte, em 1996.
Ainda Estou Aqui desbancou A Garota da Agulha (Dinamarca), Emilia Pérez (França), A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha) e Flow (Letônia). A categoria foi anunciada pela atriz espanhola Penélope Cruz.
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