‘O Agente Secreto’ é ovacionado em Cannes com thriller sobre ditadura
Filme de Kleber Mendonça Filho com Wagner Moura leva atmosfera paranoica e violenta do Brasil de 1977 para a tela; longa compete pela Palma de Ouro

O Agente Secreto, filme de Kleber Mendonça Filho cuja sessão de gala aconteceu na tarde deste domingo, 18, na competição do 78º Festival de Cannes, é um thriller passado no Recife, durante a ditadura militar brasileira, mais precisamente em 1977. Mas, antes de abraçar a ação, o longa-metragem mergulha lentamente o espectador em uma atmosfera paranoica, violenta, opressora, sem jamais citar o regime militar. É um misto de memória e sonho (ou pesadelo), baseado nas lembranças do cineasta, que tinha 9 anos em 1977, quando a história se passa. O filme foi ovacionado por 8 minutos pela plateia que estava na sala, entre eles o cineasta e o elenco, assim como o júri que vai eleger o vencedor da Palma de Ouro deste ano, prêmio almejado pela produção brasileira.
Depois de anos envolvido em projetos americanos, Wagner Moura volta a atuar no Brasil, em português, interpretando Marcelo, um especialista em tecnologia que se refugia no Recife, onde espera se reconectar com o filho pequeno, que mora com os avós. É uma de suas melhores atuações. Em sua estadia, ele cruza com uma série de personagens, de Elza (Maria Fernanda Candido) a Claudia (Hermila Guedes) e Tereza Victoria (Isabél Zuaa), moradoras do mesmo condomínio que ele, que tecem um rico panorama da vida no Brasil de então. Marcelo está sendo perseguido, mas não é o único. Todos parecem guardar segredos. Nesse momento da história, a ditadura militar já começava a se esgarçar, mas seus efeitos estavam arraigados na sociedade, com reverberações até hoje. É por isso que filmes como O Agente Secreto e Ainda Estou Aqui, embora tão diferentes, são importantes para preservar essa memória e contar essa história para que não se repita.
A boa fase do cinema brasileiro
A presença de O Agente Secreto na competição do 78º Festival de Cannes não só reforça a posição destacada de Kleber Mendonça Filho no cinema mundial como reitera o grande momento do audiovisual brasileiro. Pelo segundo ano consecutivo, o País tem um longa-metragem na competição, depois de Motel Destino, de Karim Aïnouz, em maio de 2024. Em setembro, Ainda Estou Aqui ganhou o prêmio de roteiro em Veneza e colecionou troféus mundo afora até chegar ao Globo de Ouro de atriz para Fernanda Torres e ao inédito Oscar de produção internacional. Manas, de Marianna Brennand, levou o prêmio principal na Giornate degli Autori em Veneza, e O Último Azul, de Gabriel Mascaro, ganhou o Grande Prêmio do Júri em Berlim.
“Eu estou sentindo muito orgulho de poder mostrar esse filme que é tão brasileiro, tão nosso, para esse público aqui do Festival de Cannes”, disse a atriz Maria Fernanda Cândido a VEJA horas antes de subir as escadarias vermelhas do Grand Théâtre Lumière para a gala do filme. “E principalmente porque esta edição tem um sabor especial. O nosso cinema floresceu neste ano de maneira espetacular. Além de tudo, é o Ano do Brasil na França.” Gabriel Leone falou sobre sua primeira vez com um filme em Cannes.“ É muito especial para mim e também por ser um ano de um momento tão bonito depois de Ainda Estou Aqui, um ano em que o Brasil está sendo homenageado também, estar com esse filme incrível me deixa muito feliz.”