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Manas: filme revela drama real das meninas abusadas na ilha de Marajó

Na trama, duas jovens irmãs buscam quebrar o ciclo de abusos sexuais dentro de sua família

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 18 Maio 2025, 08h00

Em 2012, a cineasta brasiliense Marianna Brennand divulgava o documentário Francisco Brennand, sobre seu tio-avô, o reverenciado artista plástico pernambucano, quando se encontrou com Fafá de Belém e saiu impactada da conversa. A cantora lhe falou sobre os tristes casos de abuso sexual de menores na Ilha de Marajó, no Pará, instigando na diretora o desejo de fazer um filme-denúncia. Nas pesquisas preliminares, notou uma barreira intransponível. “Eu não poderia contar essa história de modo documental”, disse Marianna a VEJA. A razão é que um documentário exigiria depoimentos de vítimas — logo, mulheres e crianças abusadas teriam de revisitar traumas. “Seria como levá-las a sofrer a violência de novo”, pondera a diretora. A ficção se revelou o caminho ideal, como demonstra o belo e sensível filme Manas (Brasil, 2025), em cartaz nos cinemas, que conta com os renomados cineastas belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne e o brasileiro Walter Salles como produtores associados — e rendeu uma distinção especial a Marianna Brennand no Festival de Veneza.

Na trama, a estreante Jamilli Correa interpreta Marcielle, uma menina de 13 anos que, apesar das limitações sociais ao seu redor, vive uma infância tranquila em uma família estruturada, formada pelo pai, Marcílio (Rômulo Braga), pela mãe, Danielle (Fátima Macedo), e por três irmãos. A mãe lhe diz com frequência que o melhor futuro para uma garota dali é encontrar um “homem bom”, como a irmã mais velha de Marcielle, que deixou a vida no Marajó e nunca mais voltou. A virada da infância para a adolescência, contudo, muda sua visão idílica sobre o mundo e a leva ao centro da dura realidade dos abusos na região.

Para proteger Jamilli e outros atores infantis, as crianças do elenco não receberam o roteiro. Os pais sabiam qual era o tema do filme. Após ver o longa pronto, Jamilli, hoje com 16 anos, entendeu o que cada cena queria dizer. “Não havia necessidade de detalhar tudo para ela, não há cenas explícitas”, diz Marianna. A decisão não só torna o filme elegante e acessível, como foge da armadilha de fazer sensacionalismo com assunto sério. Nos últimos anos, o abuso infantil no Marajó virou bandeira política e religiosa da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), processada por propagar notícias falsas sem ajudar de fato às instituições que combatem a violência sexual na região. O barulho é nocivo. “A estratégia de chocar através da desinformação cega a sociedade para o fato de que a solução é complexa e exige esforço coletivo e apartidário”, afirma Marianna.

A diretora espera que Manas ajude a jogar luz sobre o assunto e a empoderar as vítimas. Impotente e desprotegida em casa, encurralada até pela geografia, cercada por rios e pelo mar, Marcielle encontra ajuda na policial vivida por Dira Paes para salvar a si e à irmã mais nova do destino que as aguarda. Ela se recusa a ser mais uma na tradição perversa advinda do machismo e da pobreza. Um olhar notável e delicado para uma questão com urgência de respostas.

Publicado em VEJA de 16 de maio de 2025, edição nº 2944

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