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‘Maestro’: Bradley Cooper mergulha na vida de gênio da música clássica

Filme mostra trajetória de Leonard Bernstein, compositor que viveu intensamente suas paixões

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2024, 18h40 - Publicado em 9 dez 2023, 08h00

Os adjetivos usados para descrever Leonard Bernstein (1918-1990) são variados e hiperbólicos. Extravagante, complexo e intenso são algumas tentativas de definir a essência do regente, compositor e pianista americano que revolucionou o modo de fazer música clássica — e ainda ajudou a popularizar o gênero fora das elitistas salas de concertos. Classificá-lo, de fato, é uma tarefa inglória: Bernstein era versátil e livre de amarras, no trabalho e na vida pessoal. Quem chegou mais perto de entendê-lo foi sua filha mais velha, Jamie — fugindo de adjetivos, ela resumiu o complexo perfil do pai a uma simples idiossincrasia: “Ele odiava ficar sozinho”. Logo, o artista preferia trabalhar no teatro, em parceria com amigos, ou dar aulas, desafiando as imagens do regente inacessível e do compositor solitário. Na incansável busca por companhia, Bernstein experimentou de tudo (e de todos), diversidade que se reflete em sua obra e no filme Maestro (Estados Unidos, 2023), em cartaz em cinemas selecionados e, a partir de quarta-feira 20, disponível na Netflix.

The Joy of Music

Maestro
CASAMENTO - O ator com Carey Mulligan: a esposa sabia que ele era bissexual (Jason McDonald/Netflix)

Diretor, roteirista e protagonista do longa, além de antigo fã do regente, Bradley Cooper sabia que havia muitos recortes possíveis para uma produção que honrasse o tamanho de seu biografado. A começar pelo óbvio: na função de maestro, Bernstein era um showman de primeira, que adicionava pitadas de rebeldia em peças de mestres clássicos — e o fazia com gestos largos e teatrais (e uma boa dose de suor). Foi também um compositor incomparável, transitando da sinfonia ao balé, até a ópera, o jazz e o teatro musical — é dele a trilha de Amor, Sublime Amor, sucesso da Broadway que conquistou o cinema. Foi apresentador de TV, ativista e educador. Era festeiro, usava drogas, e amou homens e mulheres. Cooper optou, quem diria, pelo caminho mais difícil: em vez de listar feitos, Maestro abraça a aversão do regente à solitude e coloca sob os holofotes sua agitada vida amorosa e social — pontuada, em segundo plano, pelos grandes momentos de sua carreira. Na trilha sonora ao fundo, sua música expõe o que não é dito, das aflições e desejos às dores do protagonista.

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Bernstein foi casado com a atriz costarriquenha Felicia Montealegre (Carey Mulligan), relação de idas e vindas que durou mais de trinta anos, apesar das escapadas do regente com homens — a esposa sabia da bissexualidade do marido. A união resultou em três filhos: Jamie, hoje com 71 anos; Alexander, de 68; e Nina, de 61. O trio foi fundamental na defesa de Cooper quando uma polêmica vazia ameaçou a reputação do filme: para se parecer mais com Bernstein, o ator usou uma prótese de nariz — maquiagem apontada nas redes como jewface, termo pejorativo em inglês para atores que tentam se assemelhar a judeus. A família discordou da gritaria. “Leonard Bernstein tinha um belo e enorme nariz. Bradley usou maquiagem para aumentar a semelhança entre eles — e estamos de acordo com isso”, diz trecho do comunicado dos filhos.

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The Leonard Bernstein Letters

Maestro
BASTIDORES - Spielberg e Cooper no set: o cineasta confiou a direção ao ator (Jason McDonald/Netflix)

O nariz é só uma ponta dos esforços despendidos por Cooper, que já figura entre os favoritos ao Oscar de melhor ator em 2024. Steven Spielberg iria dirigir o filme, mas passou a batuta ao colega após assistir a um primeiro corte de Nasce uma Estrela, longa com Lady Gaga que marcou a estreia do ator na direção, em 2018. Ao lado de Martin Scorsese, Spielberg produziu Maestro, enquanto tirava da gaveta outra homenagem a Bernstein, uma nova e belíssima adaptação de Amor, Sublime Amor (2021). Paralelamente, Cooper deu início à preparação, que consistiu em seis anos de pesquisa e aulas de regência. A dedicação fica explícita na cena de seis minutos em que o ator conduz, ao vivo, a Orquestra Sinfônica de Londres na Catedral de Ely, na Inglaterra, reproduzindo a memorável apresentação de Berns­tein no local, em 1976. Cooper ainda se tornou presença constante nos ensaios da Filarmônica de Nova York, da qual Berns­tein foi titular entre 1958 e 1969. A orquestra deu ao regente, em 1943, aos 25 anos de idade, a chance de conduzir um concerto no Carnegie Hall substituindo o maestro oficial, que ficara doente. A apresentação aclamada se deu no improviso, sem ensaio, nem partitura.

American Composer Léonard Bernstein
INTENSO - Leonard Bernstein: a batuta versátil da música clássica (Jean Pimentel/Kipa/Sygma/Getty Images)
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Filho de imigrantes judeus ucranianos, Leonard Bernstein nasceu em Lawrence, em Massachusetts, e se dedicou à música desde a infância, com incentivo da mãe e oposição do pai. Estudou em Harvard e se embrenhou no jazz, tocando em casas noturnas antes de entrar para a Filarmônica de Nova York. Nos anos 1960, se tornou figura incontornável da cultura pop americana, ao lado de gigantes como Frank Sinatra e Ella Fitzgerald. Sua vida distante da moral e dos bons costumes era fonte de rumores e olhares tortos. Enquanto isso, ele se preocupava em fazer história. Na impressionante peça Missa, colocou em harmonia orquestra, guitarras e coro — uma mistura herege que fazia brilhar os olhos do regente rock star.

Publicado em VEJA de 8 de dezembro de 2023, edição nº 2871

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