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Helen Mirren a VEJA: ‘Ser artista é fugir do padrão considerado normal’

A atriz inglesa de 79 anos reflete sobre sua trajetória e seu novo filme, no qual ela interpreta uma sobrevivente do Holocausto

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 8 nov 2024, 06h00

No filme, a senhora é avó de um garoto que faz bullying contra um colega com deficiência — trama retratada em outro filme, Extraordinário, de 2017. Ao ensiná-lo sobre gentileza, ela conta de um amigo que a escondeu e a salvou do Holocausto. Por que essa trama a atraiu? Eu cresci na Inglaterra no pós-guerra e desde muito nova senti a obrigação de não deixar que o Holocausto fosse esquecido para que ele não se repita. De lembrar que nós, seres humanos, somos capazes de seguir um caminho tão vergonhoso. O filme é uma forma ótima de passar essa mensagem aos jovens, pois ele ainda entretém, é lindo e visceral.

Acredita que o cinema pode ser, então, uma ferramenta de influência? Sim. Amo filmes e peças de teatro. Quando estou diante de uma boa história, esqueço da realidade. Se os personagens estão com frio, eu sinto frio. Se estão com calor, também sinto calor. O cinema é poderoso e tem uma enorme capacidade de nos fazer pensar, chegando a camadas profundas, intelectualmente e emocionalmente falando.

Recentemente, a senhora interpretou a ex-primeira-ministra israelense Golda Meir. Em seguida, a atual guerra entre Israel e Palestina estourou. Como analisa este momento e as críticas à nação israelense? Eu interpretei muitas mulheres judias, e não sou judia. Sou uma admiradora. A contribuição da comunidade judaica para o mundo é incomparável. Acredito que temos que separar os políticos do povo. Quando as pessoas criticam Israel, elas estão falando das ações do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, e não do povo israelense.

Em 2024, a senhora completou sessenta anos de carreira como atriz. Como vê essa jornada? Ser uma atriz é fugir do padrão, do que é considerado normal. Ser artista é ser um pouco anormal, a gente se afasta do que é considerado o caminho tradicional da vida. Na adolescência, já sabia que eu era diferente. Que não queria me casar nem ter filhos, ou trabalhar em um emprego qualquer. Na época, ninguém na minha família entendeu. Era algo considerado insano. Mas foram minhas escolhas, e não me arrependo.

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Notou alguma diferença gritante do começo da carreira para agora? Tenho a impressão de que as personagens femininas choram demais. Por que tanto choro, meu Deus? Não entendo esses roteiristas. Mas, conforme envelheci, minhas personagens passaram a chorar menos, ufa (risos)!

Publicado em VEJA de 8 de novembro de 2024, edição nº 2918

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