Filme destrincha os dias de festas e maluquices de Janis Joplin no Brasil
Exibido no Festival do Rio, ‘Janis: Amores de Carnaval’ segue o período em que a cantora veio ao Rio de Janeiro, meses antes de sua morte
Em 1970, Ricky Ferreira era um jovem fotógrafo vivendo no Leblon, no Rio de Janeiro. Certo dia, uma ex-namorada o avisou que a cantora americana Janis Joplin estava na praia de Copacabana. Ele correu ao local desacreditado. Lá, encontrou Janis e fez algumas fotos. A roqueira havia sido expulsa do badalado Copacabana Palace, supostamente por ter feito topless na piscina do hotel. Ricky sugeriu que ela e a amiga fossem para seu apartamento. Elas toparam e lá ficaram por sete dias, período esmiuçado no documentário Janis: Amores de Carnaval, parte da programação do Festival do Rio deste ano.
O longa da diretora estreante Ana Isabel se ampara, principalmente, em relatos. Estão entre os entrevistados desde fãs como Baby do Brasil e Walter Casagrande, até a cantora Alcione, que, numa aleatoriedade da vida, trombou com Janis em um bar, numa noite que foi embalada por andanças na madrugada na cidade, bebedeiras e cantoria.
A história para lá de peculiar abre ainda uma janela para um tempo tão distante que os jovens da Geração Z que assistirem ao filme terão dificuldades de entender como tudo aquilo se deu. Para começar, Janis veio ao Brasil de férias, sem aviso, sem pompa, ou luxo. Seus fãs nem sabiam que ela estava na cidade. Não houve tumulto na porta do Copacabana Palace com pessoas em busca de uma selfie. Ricky, apesar de ser fotógrafo, tem mais histórias a contar do que fotos da cantora. Segundo ele, não parecia correto assediá-la com a máquina fotográfica o tempo todo. A revelação é anticlimática: se um filme que se propõe a mostrar imagens da Janis no Brasil tem material limitado, qual o sentido de fazê-lo? Simples: o mundo é feito de histórias e de boas narrativas, mais do que de imagens. Em tempos de Instagram, é difícil assimilar essa verdade. E Janis Joplin, meses antes de sua morte, em 4 de outubro de 1970, aos 27 anos, pode experimentar a loucura de ser livro no Rio de Janeiro, em pleno Carnaval – acompanhada de novos amigos que não lhe trataram como uma celebridade, mas como uma turista talentosa passando por aqui.