Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Em Cartaz

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Do cinema ao streaming, um blog com estreias, notícias e dicas de filmes que valem o ingresso – e alertas sobre os que não valem nem uma pipoca
Continua após publicidade

‘Entre Mulheres’ é explosivo retrato do abuso feminino em meio à religião

Inspirado em um caso real, longa é indicado ao Oscar de melhor filme e roteiro adaptado

Por Amanda Capuano Atualizado em 4 jun 2024, 11h24 - Publicado em 3 mar 2023, 06h00

O sol na janela anuncia a chegada de um novo dia. Na cama simples, uma mulher luta contra a dor para se levantar. Quando olha para baixo, nota as pernas cobertas de hematomas e sangue no lençol, mas não tem memória da noite anterior. “O que você verá a seguir é um ato de imaginação feminina”, alerta a introdução de Entre Mulhe­res (Women Talking, Estados Unidos, 2022), filme já em cartaz nos cinemas. A frase em um primeiro momento parece pôr em xeque a versão da personagem, mas é uma cruel ironia: na trama adaptada do livro homônimo da canadense Miriam Toews, as mulheres de uma comunidade religiosa isolada em um lugar indefinido (mas que se assemelha ao país da autora) são drogadas e estupradas por anos enquanto dormem. Quando um dos agressores é capturado, elas descobrem que os ataques não são obra do demônio ou “fruto da imaginação feminina”, como foram levadas a acreditar, mas dos homens locais.

Women Talking

Indicado a filme do ano e roteiro adaptado no Oscar, o impactante Entre Mulheres reforça a leva de longas que introduzem complexidade incômoda nas tramas sobre abuso na esteira do #MeToo. Ao contrário de obras como Tár ou Ela Disse, que usam as relações profissionais para falar sobre o tema, aqui a fonte da opressão não é uma pessoa em posição de poder, mas o fundamentalismo religioso.

DILEMA - Whishaw, Rooney Mara e Claire Foy no filme: vítimas divididas
DILEMA - Whishaw, Rooney Mara e Claire Foy no filme: vítimas divididas (Michael Gibson/MGM/.)

O conto da aia

O filme examina o modo perverso como a violência sexual pode se imiscuir num ambiente de fé. Enquanto os homens da comunidade vão para a cidade pagar a fiança dos réus confessos, e trazê-los de volta para casa, resta às mulheres que não aceitarem o retorno deixar o local. Abaladas, elas organizam uma votação com três opções: não fazer nada e perdoar; ficar e lutar por justiça; ou abandonar o único lar que conhecem. Quando um empate se desenha entre a luta e a fuga, um grupo se reúne secretamente para debater alternativas e selar o destino de todas.

Continua após a publicidade

A cor púrpura

Filosófico e com tom reflexivo, o filme se passa quase todo dentro de um estábulo, onde diálogos de fundo teológico deixam entrever o papel da defesa religiosa da submissão feminina nos abusos. O isolamento é tamanho que o espectador só desperta para o fato de que o filme se passa no mundo atual, e não na Idade Média, quando um carro passa pela estrada local. O contraste expõe uma realidade dolorosa: longe de qualquer avanço moderno e criadas sob um patriarcalismo extremo, as personagens não têm sequer conhecimento para se libertar. Impedidas de ler ou escrever e sem nunca ter visto um mapa na vida, precisam recorrer a August (Ben Whi­shaw), o único homem que ganha destaque no longa, para tomar notas das reuniões e ensiná-las o básico para cair na estrada caso essa seja a decisão final.

arte Oscar

Pior do que a ignorância involuntária, porém, é a luta contra a própria consciência e o medo de ficar de fora do reino dos céus — afinal, perdoar seus algozes é o que faz um bom cristão. Na ânsia de decidir seu destino, cada uma assume uma postura distinta, e três personagens com atuações primorosas se destacam como arquétipos da reação ao trauma. Salome (Claire Foy) abraça a raiva e está disposta a tudo por justiça, mesmo que isso a condene ao fogo do inferno. Mais contida, Ona (Rooney Mara) quer deixar a dor no passado e buscar uma nova vida, enquanto Mariche (Jessie Buckley) se equilibra na corda-bamba entre o amor pelo único lar que conhece e as feridas que o local abriu em cada uma delas.

Mulheres que correm com os lobos

Continua após a publicidade

Tais horrores, infelizmente, não são pura ficção: a história é livremente inspirada num caso que aconteceu na Bolívia, em uma comunidade menonita ultraconservadora. Entre 2005 e 2009, centenas de mulheres foram dopadas com um anestésico veterinário e estupradas durante o sono. Por anos, elas acreditaram que os ataques eram perpetrados por demônios ou, simplesmente, fruto da imaginação feminina, como ironiza a diretora e roteirista Sarah Polley no longa. No total, 130 vítimas, entre 3 e 65 anos, foram reconhecidas no processo que condenou oito homens em 2011. A realidade pode ser tão cruel quanto a ficção.

Publicado em VEJA de 8 de março de 2023, edição nº 2831

CLIQUE NAS IMAGENS ABAIXO PARA COMPRAR

‘Entre Mulheres’ é explosivo retrato do abuso feminino em meio à religião‘Entre Mulheres’ é explosivo retrato do abuso feminino em meio à religião
Women Talking
‘Entre Mulheres’ é explosivo retrato do abuso feminino em meio à religião‘Entre Mulheres’ é explosivo retrato do abuso feminino em meio à religião
O conto da aia
‘Entre Mulheres’ é explosivo retrato do abuso feminino em meio à religião‘Entre Mulheres’ é explosivo retrato do abuso feminino em meio à religião
A cor púrpura
‘Entre Mulheres’ é explosivo retrato do abuso feminino em meio à religião‘Entre Mulheres’ é explosivo retrato do abuso feminino em meio à religião
Mulheres que correm com os lobos
logo-veja-amazon-loja

*A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.