Diretor de ‘The Crown’ sobre o filme ‘Sharper’: ‘É um jogo de poker’
Com um amplo currículo em séries de TV, o inglês Benjamin Caron faz sua estreia em um longa-metragem estrelado por Julianne Moore

Benjamin Caron, 46 anos, passou a última década envolvido com algumas das séries mais populares da televisão. Do drama juvenil Skins até a aclamada Sherlock, e, mais recentemente, conduziu episódios de Andor, da saga Star Wars, e The Crown, famoso título da Netflix sobre a família real inglesa. Ansioso por fazer um filme, Caron tinha uma certeza: queria uma história sem personagens reais. Ele se interessou pelo filme Sharper – Uma Vida de Trapaças, que acaba de chegar à Apple TV+. O drama estrelado por Sebastian Stan, Justice Smith, Briana Middleton e Julianne Moore segue um grupo de golpistas tentando passar a perna em um ricaço. “É como um jogo de poker no qual as apostas só aumentam”, analisa o diretor em entrevista a VEJA. Confira a seguir a conversa:
Você tem grande experiência em séries de TV e esse filme é estruturado em capítulos com histórias individuais. Por que escolheu fazer um filme e não uma série de Sharper? O roteiro foi escrito em capítulos — “Tom”, “Sandra”, “Max”, “Madeline” (quatro personagens principais) — então era natural que a produção fosse fiel a essa divisão. E eu amo a ideia de que o filme não é linear enquanto sua estrutura é o oposto; cada capítulo tem uma perspectiva própria, um ponto de vista único. Você é introduzido à história por meio do Tom, sentindo e observando tudo o que acontece do ponto de vista dele, até o fim, quando você também sente a dor dele, antes de começar outra visão sobre a mesma história.
O que lhe atraiu neste roteiro? Meu agente trabalha com o produtor do filme, e eles sabiam que eu estava procurando algo do tipo. Quando eu li o roteiro, vi que os escritores haviam criado um filme inteligente, engraçado, sexy, conduzido pelos personagens e original, que era exatamente o que eu estava procurando. Não queria nada baseado em pessoas reais, porque eu passei os últimos anos produzindo episódios sobre a vida real em The Crown; então eu queria um thriller, algo que envolvesse política, confiança, traição e reviravoltas. Esse filme é como um jogo de poker no qual as apostas só aumentam.
Ultimamente foram lançadas diversas séries com golpistas na trama, como Inventando Anna ou até The White Lotus. Por que esse tema interessa tanto o público? As pessoas são instigadas pela falsidade. Sharper explora como as pessoas falam, como flertam, como mentem, como personificam e enganam as outras para conseguirem o que querem. Mas a ideia de um golpe romântico explora como a busca pelo lucro afeta cada parte das nossas vidas, desde a sexual, física, mental; até a familiar, profissional, política e amorosa. E a perspectiva de uma transformação é muito sedutora, a ideia de escapar da realidade e entrar em outra é na qual consistem os contos de fadas. Eu diria que as transformações em Sharper são perspicazes e imprevisíveis, porque elas se tratam da realização dos desejos.
A Juliane Moore tem um papel muito complexo. Como vocês encontraram o tom certo para a personagem dela nesse filme? É difícil falar sobre os personagens sem dar nenhum spoiler, mas o que eu posso dizer é que cada um deles é tão imperfeito quanto a Madeline, interpretada pela excelente Juliane Moore. A Madeline é uma personagem interessante: ela é trapaceira, inquieta, e busca – obsessivamente – o poder. Não existem tantos papéis assim para mulheres; a Juliane agarrou essa oportunidade. Ela é perfeita para o papel, ela trabalha com intensidade e profissionalismo ao mesmo tempo que é gentil, e como diretor eu quero que os atores mostrem essa profundidade da experiência humana – os detalhes, a alegria, a tragédia, os paradoxos, as contradições, e é isso o que a Juliane oferece. Eu sou fascinado por ela desde que a vi em Safe (filme de 1995) de Todd Haynes, e a oportunidade de produzir meu primeiro filme com ela foi um presente divino.