Como o ‘humor de tiozão’ fez de ‘Farofeiros 2’ um sucesso nos cinemas
Produção nacional embalada por piadas questionáveis já arrebanhou mais de um milhão de espectadores

O casal Alexandre (Antônio Fragoso) e Renata (Danielle Winits) planejava uma viagem luxuosa para um resort na Bahia, mas o programa se transformou em uma série de perrengues. Colegas de trabalho entraram no rolê, o transporte passou de avião para um ônibus capenga, e o tal resort era, na verdade, uma pousada em decadência. Os infortúnios são muitos em Os Farofeiros 2, sequência do filme de 2018 – no qual outra viagem com o grupo é palco para desastres. Se nas telas Alexandre e companhia sofrem vexames variados, nas salas de cinema os humilhados são exaltados: o segundo filme passou de 1 milhão de espectadores esta semana – e segue o caminho do anterior, que chegou a 2,6 milhões de ingressos.
Não é novidade que as comédias brasileiras têm um apelo gigantesco com o público, mas o sucesso da saga Farofeiros é um caso peculiar. Apinhada de humoristas populares, com destaque para Cacau Protásio e Maurício Manfrini, o Paulinho Gogó, de A Praça É Nossa, Os Farofeiros 2 é um poço de piadas bocós, desde falas vexatórias e trocadilhos infelizes, até um pé na comodidade simplória de rir com o preconceito – o machismo principalmente. É como se todos os “tiozões do pavê” se reunissem após a ceia de Natal para anotar seus gracejos e, por fim, o compilado fosse transformado em um roteiro.
Alguns exemplos práticos. Quando o motorista idoso do ônibus quase provoca um acidente e uma jovem bonitona se propõe a conversar com ele durante a noite para mantê-lo acordado, o homem logo transforma a gentileza em gracinha sexual, dizendo “me dei bem”. Em outro momento, o personagem de Manfrini é cobrado pela esposa (vivida por Cacau), pois ela quer um terceiro filho e não engravidou após um ano de tentativas, ao que ele responde: “se até Neymar erra o gol de vez em quando, eu também posso”. No quarto do hotel caído, a personagem de Danielle Winits avista uma iguana e se desespera, a gerente do local tenta acalmá-la e explica que aquele é o Juracir, o mascote local, que até tem um parquinho só para ele, o “Juracirk Park”. Quando o grupo aguarda a van que deve levá-los em um passeio pela praia e aparece um pau de arara tenebroso, a gerente diz que ela nunca prometeu uma van, mas sim uma carona com seu sobrinho, o Édivan.
Se fossem pontuais, os exemplos acima até teriam seu charme. Mas não é o caso: Farofeiros 2 é um tiroteio de piadas infames e questionáveis, uma seguida da outra, impedindo qualquer desenvolvimento mais profundo dos personagens. Apesar dos pesares, uma rápida leitura das avaliações do público nas redes sociais mostra que uma boa maioria saiu feliz da sala de cinema. Famílias se divertiram. Homens se sentiram validados – afinal, o filme é todo baseado no suposto sucesso profissional dos maridos, estes um tanto aquém da beleza das esposas. Mas o grande vitorioso no fim da noite é o humor pastelão com DNA brasileiro – do tipo raiz, que vem da escola Didi Mocó, Zorra Total e, o já citado, A Praça É Nossa. Se faz bem para o cinema nacional, que bom. Mas o humor inteligente acena de longe.