Como o escritor John Green entrou na mira de conservadores americanos
Autor de 'A Culpa é das Estrelas' é uma das vozes mais censuradas em escolas e bibliotecas públicas do país por citar sexo na adolescência em suas obras

Autor querido da geração de adolescentes dos anos 2010, o americano John Green atingiu sucesso massivo com seus romances voltados ao público jovem adulto, como A Culpa é das Estrelas e Cidades de Papel, tendo vendido mais de 50 milhões de exemplares ao redor do mundo. O sucesso parecia ter lhe consagrado como consenso entre leitores, mas tensões políticas nos Estados Unidos desafiam tal estabilidade: por lá, o escritor entrou na mira de conservadores determinados a banir certos livros de bibliotecas e escolas — e Green não abaixou a cabeça. Ao mesmo tempo em que divulga a mais nova adaptação cinematográfica de um trabalho seu — Tartarugas Até Lá Embaixo, já disponível na plataforma Max —, ele defende o acesso à leitura de sua obra no seu estado natal, a Indiana, e outras regiões do país.
A oposição de censores não é novidade. Desde o lançamento de Quem é Você, Alaska? (2005) — enredo de amadurecimento que cita o uso de drogas e sexo —, o livro entrou na lista de obras mais banidas contabilizada pela Associação de Bibliotecas Americanas e, apenas em 2022, foi contestado em 50 escolas do país. No último semestre de 2023, contudo, o número recorde de 4.349 obras foram banidas de escolas americanas. Na mesma época, a batalha se tornou mais pessoal para Green quando uma biblioteca pública de Indiana determinou que todos os livros que lidassem diretamente com sexo fossem retirados da seção juvenil e transpostos para as prateleiras voltadas a adultos. Ao todo, 1.800 romances foram afastados das mãos de crianças e adolescentes.
Em agosto de 2023, o autor utilizou sua conta na rede X, antigo Twitter, para protestar a decisão, dizendo: “Isso é revoltante. A Culpa é das Estrelas é sobre adolescentes e foi escrito para essa faixa etária. Eles não são prejudicados pela leitura, e essa decisão é embaraçosa para a cidade”. Em entrevista ao The New York Times, ele reforçou seu descontentamento com a censura, dizendo que a atitude equivale o conteúdo sugestivo de seu trabalho à pornografia. A proximidade aos opositores, por sua vez, o incomoda ainda mais: “É certamente mais difícil quando você sabe que faz compras no mesmo lugar que essas pessoas”.
The Fault in Our Stars has been removed from the YA section in the suburbs of Indianapolis and is now considered a “book for adults.” This is ludicrous. It is about teenagers and I wrote it for teenagers.
Teenagers are not harmed by reading TFIOS. This is such an embarrassment… https://t.co/vSsiPcL6fP— 🐢🐢🐢🐢🐢TATWD Now on Max🐢🐢🐢🐢🐢 (@johngreen) August 9, 2023
Enquanto o estado de sua obra permanece incerto, o escritor diz também que continuará protestando pela “liberdade de expressão” e o “direito a leitura dos adolescentes” e contra a interferência de outros pais na esfera cultural. Para ele, a iniciativa não apenas invisibiliza trabalhos contemporâneos, como visa reescrever a história do país e inflar moralismos.
Uma das passagens mais polêmicas de seu trabalho é um trecho de Quem É Você, Alaska?, no qual o protagonista Miles recebe sexo oral de uma amiga e, páginas depois, beija a cobiçada Alaska pela primeira vez. Com alguns detalhes explícitos, o momento é justificado por Green como símbolo de que “a intimidade física não substitui a proximidade emocional”, como disse o escritor ao The Independent.
Do outro lado da disputa, associações de pais e mestres alegam que as palavras podem levar a juventude à “experimentação sexual”. O sexo também faz parte do romance central de A Culpa é das Estrelas, assim como é fator determinante de personagens de O Teorema Katherine, Cidades de Papel e Will e Will, romance homoafetivo co-escrito com David Levithan. Tartarugas Até Lá Embaixo, por sua vez, retrata a luta do próprio autor com o transtorno obsessivo compulsivo (TOC) por meio da história de Aza, adolescente diagnosticada com a condição que ao longo do enredo descobre ser tão merecedora de afeto quanto seus colegas neurotípicos. A julgar pelo contínuo sucesso mundial das palavras de Green, contudo, censores terão que trabalhar muito mais para impedir que o autor impacte a juventude.
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