Clássico com Schwarzenegger ganha versão feminista – e irrita fãs
Novo filme da franquia ‘Predador’ traz jovem indígena no protagonismo e honra as raízes do longa de 1987 – mas alguns se recusam a entender a homenagem
“Algo lá fora nos espera, e não é humano.” A frase, parte do hall de falas marcantes da cultura pop, cravava o tipo de ameaça invisível que se escondia na floresta do filme Predador, de 1987. Estrelada por Arnold Schwarzenegger, a trama de ação e terror segue um grupo de militares numa missão de resgate em uma selva na Guatemala. Por lá, os marmanjos se veem encurralados por um alienígena poderoso, que mata por prazer. Bombas, tiros e músculos encaram, sem muito sucesso, o monstro imbatível. Ao misturar várias vertentes do horror, do gore (o tipo grotesco) ao slasher (com um assassino misterioso), o filme fez sucesso de bilheteria e deu início a uma longa franquia que já conta, no total, com sete longas – sendo duas produções em parceria com outro extraterrestre nojento e perigoso: o Alien. O título mais recente, O Predador: A Caçada, foi lançado este mês pelo Star+, no Brasil, e vem causando burburinho.
A história dessa vez volta ao passado, no início do século XVIII, e é ambientada nos domínios da Nação Comanche, povo nativo norte-americano. A protagonista é Naru (Amber Midthunder), que caça o inimigo desconhecido que atacou sua tribo. Naru é a primeira oponente feminina do perigoso predador cinematográfico. E, mesmo sendo a única de sete filmes, sua presença irritou os fãs da saga – e também aqueles que simplesmente gostam de expor seus preconceitos nas redes. As críticas vão desde “uma garota não teria toda essa força para encarar um alienígena” até que o filme seria “fruto da lacração”. Enquanto os haters se descabelam, vários atores antigos da saga vem elogiando o novo capítulo — enquanto a crítica vem se divide entre definir se esse é o segundo melhor filme da franquia, atrás apenas do original de 87, ou seria o melhor de todos.
É inútil elencar um e outro, mas é possível notar como A Caçada capturou com primor o espírito do filme com Schwarzenegger. No auge do cinema testosterona, com uma penca de produções de ação e homens musculosos, o primeiro Predador ironizava essa sensação de poder absoluto dos machos. Tanto que, todos os fortões morrem, sobrando Schwarzenegger quase derrotado. Sem amigos, armas e quase sem fôlego, o protagonista na lama (literalmente) improvisa uma armadilha primitiva que, por um jogo de sorte, mata o inimigo de outro planeta.
A motivação do tal predador é simplesmente encontrar, por esporte, grandes oponentes. Assim, ele baixa a guarda quando seu adversário aparenta ser insuficiente. É neste ponto-cego que Naru se ampara. A jovem guerreira é subestimada pelo inimigo, o que dá a ela a chance de enfrentá-lo – também com artimanhas primitivas, como Schwarzenegger. Uma lição para os que ainda minimizam pessoas baseados em velhos preconceitos.