Chico Bento chega ao cinema com ‘influencer da roça’ defendendo a natureza
Personagem caipira criado por Mauricio de Sousa há mais de sessenta anos ganha vida e sotaque original na pele do jovem Isaac Amendoim
Isaac Duarte Ferreira, o Isaac Amendoim, acorda cedo para cuidar das mais de oitenta galinhas que tem no quintal. De chapéu de palha e calça surrada, o menino de 11 anos faz questão de alimentar também sua cabra favorita, Rita. Quando não está na escola, gosta de jogar bola e subir em árvores na pequena cidade mineira de Cana Verde, de cerca de 6 000 habitantes e a 280 quilômetros de Belo Horizonte. Com seu dia a dia retratado pelos pais, o garoto de jeito espontâneo e divertido virou um sucesso nas redes sociais e hoje tem quase 4 milhões de seguidores no Instagram. Sua vida é tão parecida com a de Chico Bento, o personagem matuto criado por Mauricio de Sousa, que Amendoim virou o próprio no filme live-action Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa, que estreia nos cinemas na quinta 9. “Descobrimos Isaac nas redes. Ele já veio pronto. No dia do teste do elenco, chegou com uma calopsita e seus filhotinhos numa caixa de sapatos, porque não queria deixá-los sozinhos em casa”, lembra o diretor Fernando Fraiha.
Criado em 1961, Chico Bento foi inspirado em um tio-avô de Mauricio, típico caipira do final do século XIX, com seu jeito peculiar de falar e seus “causos” inacreditáveis. No enredo do filme, ele precisa proteger a goiabeira plantada no sítio do rabugento Nhô Lau, representado com esmero por Luis Lobianco. A árvore dá as frutas “mais gostosas do mundo”, mas será derrubada para a construção de uma estrada. Com ajuda de seu melhor amigo, Zé Lelé (Pedro Dantas), e da menina mais bonita da Vila Abobrinha, Rosinha (Anna Júlia Dias), eles precisam bolar um plano para impedir o “dotô” Agripino (Augusto Madeira) e seu filho Genesinho (Enzo Henrique), retratados como vilões do agronegócio, de cortarem a planta. O longa conta ainda com as participações de Débora Falabella, como a amorosa professora Marocas, e de Taís Araujo, como a goiabeira (sim, isso mesmo).

Apesar de ser um filme obviamente infantil, Chico Bento tem aquele sabor idílico do universo de Mauricio de Sousa que é capaz de comover seus fãs de várias gerações. Há uma evidente tentativa de renovar a sintonia do personagem com os dias de hoje, das piadas afiadas — especialmente nas insólitas situações vividas por Zé Lelé — à bandeira da defesa do meio ambiente, esmiuçada como se fosse um fabuloso causo caipira. Mas o elemento que dá liga a tudo e torna o filme saboroso para as férias é a carismática atuação de Amendoim. “Eu não gostava de ler, não. Mas após ler tanto o roteiro, tomei gosto”, diz o ator, ao relembrar das catorze semanas de ensaios e filmagens. Simpático e divertido, o filme de Chico Bento e sua turma faz jus ao bordão do personagem: é “um trem bão dimais da conta, sô”.
Publicado em VEJA de 3 de janeiro de 2025, edição nº 2925