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Após Fernanda Torres, filho de Fagundes rebate rótulo de ‘nepo baby’

Em longo desabafo, Bruno Fagundes afirmou que tentam transformar "condição biológica" da qual ele sente "gratidão, orgulho e honra" em "culpa"

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 nov 2024, 16h57 - Publicado em 27 nov 2024, 16h52

Em um texto longo e carregado de emoção, o ator Bruno Fagundes, filho do veterano da TV Antônio Fagundes, desabafou sobre como se sente quando é resumido ao termo “nepo baby”, usado para artistas privilegiados por serem filhos de famosos. O texto publicado nas redes sociais veio da reflexão de Fernanda Torres, que falou sobre o tema à revista Vanity Fair. Para a atriz, filha de Fernando Torres e Fernanda Montenegro, seguir os passos dos pais é uma “tradição”. “Como a família de artistas de circo — é algo bonito”, disse ela. “É claro que sou filho de um privilégio”, escreveu Bruno, que entra este ano na novela Volta por Cima, da Globo. “Mas isso não determina que minha trajetória não seja digna de resultado e reconhecimento.” Confira a seguir o texto na íntegra do ator:

“Reflexão: Quem sabe, a partir dessa fala do nosso ícone Fernanda Torres, se acalme um pouco o frenesi sobre esse assunto. Estou cansado de ter que responder as perguntas da imprensa especializada em bobagens, cheias de acidez e recalque, transformando minha condição biológica – da qual sinto gratidão, orgulho e honra – em culpa. Acho que falo por todos que são acossados por esse tipo de mídia clickbait, que o tempo todo força o assunto, como se fosse preciso assumir uma posição e se desculpar por ela. Mas eu nunca abaixei a cabeça para isso.

É claro que sou filho de um privilégio. A maioria de nós, que tem educação superior, comida na mesa, um teto e um celular na mão, é. Mas isso não determina que minha trajetória não seja digna de resultado e reconhecimento. Não implica em uma trajetória menor ou não meritosa. Como disse Fernanda, existe uma responsabilidade, um legado a ser continuado — uma barra bastante alta para alcançar —, mas que, pela observação e pelo exemplo, se transforma em um objetivo bonito. Uma oportunidade privilegiada, sim, mas também única, baseada na tradição e no aprendizado através de nossos precedentes. No caso da Fernanda, assim como no meu, uma tradição de excelência.

Ganhei meu primeiro cachê como ator aos 16 anos de idade, em um longa chamado Fim da Linha. Fiz uma audição e fui selecionado. Desde então, nunca passei um dia da minha vida sem me dedicar integralmente àquilo que hoje, além de minha profissão — da qual celebro ter construído uma carreira com independência —, é também meu senso de propósito e identidade (confio à minha profissão a categoria de missão. Algo maior que a nossa própria vontade, com ares quase religiosos de predestinação, fardo, prazer, bem maior, etc).

Mas o fato é: eu não precisaria. Se meu interesse fosse apenas me sentar no privilégio e não construir nada a partir dele, eu poderia. Mas escolhi o trabalho. E o fim desse trabalho não é apenas nele mesmo. Na perpetuação da tradição, na tal missão, encontro a cura e a elaboração através da troca. E tantas coisas lindas que a arte me proporciona.

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Algo na sociedade de hoje, no entanto, implica que uma pessoa com privilégios não tem direito de celebrar suas conquistas, muito menos de sofrer com instabilidade emocional ou depressão. Este foi um ano duro para artistas, técnicos, produtores e todas as pessoas envolvidas em diversas partes da cadeia do fazer artístico. Mas quando cito isso em entrevistas, dizem que estou pedindo emprego. E quando consigo um emprego, dizem que é porque sou nepo baby. Segundo essa lógica, nepo babies sempre têm suas vontades atendidas.

Quantas matérias escritas com ressentimento, afiadas em suas palavras, ignorando o caminho que pavimentei até aqui — caminho que hoje me permite entrar em uma novela no 11º mês do ano. Mais uma vez, sinto que as pessoas estão mirando nos alvos errados. Enquanto perdem tempo tentando gerar ódio e diminuir minha arte e incansável dedicação, há um monte de gente enchendo os bolsos de dinheiro às custas dos outros, vomitando mediocridades por aí e azeitando a engrenagem que só está interessada em lucro e controle. Eu sou um artista. Quero sua emoção e quero fazê-la voar na fantasia que meu trabalho constrói. Quero construir algo que honre a beleza das Fernandas, dos Antônios, das Glórias, das Maras, mas que seja do Bruno — somente dele.”

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