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A visão ácida da cultura do cancelamento no filme Depois da Caçada

No longa de Luca Guadagnino, a acusação de abuso de uma aluna contra um professor universitário enseja um exame corajoso sobre o tema

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 11 out 2025, 08h00

Diante de um punhado de alunos apáticos da geração Z, a professora universitária Alma (Julia Roberts) ensina um conceito complexo do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984). Numa reveladora análise sobre um fenômeno peculiar da vida moderna, o pensador demonstrou que, a fim de fazer valer suas leis e códigos morais, a civilização aderiu a um pacto de controle no qual os indivíduos vigiam uns aos outros, incentivados por recompensas materiais ou simbólicas. Sistemas de denúncia e delação podem beneficiar a sociedade, mas também limitá-la, cerceando liberdades — a exemplo de informantes em governos autocráticos. No filme Depois da Caçada (After the Hunt, Estados Unidos/Itália, 2025), em cartaz nos cinemas, a docente Alma de repente explode em fúria ao aplicar a teoria à prática dos dias de hoje: na era das redes sociais, a vigilância constante foi acentuada, invertendo dinâmicas de privilégio e dando poder desmedido ao tribunal on-line — palco perfeito para a perigosa cultura do cancelamento.

Falar sobre linchamento virtual é algo que ainda causa desconforto no reduto do cinema. Poucos filmes tocam no tema — e, geralmente, se passam longe de Hollywood. São os casos do dinamarquês A Caça, sobre um professor primário acusado erroneamente de assediar uma criança, e do brasileiro O Homem Cordial, no qual um cantor vira suspeito de assassinato por causa de um vídeo viral. Sem pudores, Depois da Caçada abraça todas as complicações que o tema oferece, mostrando que o julgamento rápido das redes está longe de ser solução para uma sociedade mais saudável.

Dirigido pelo italiano Luca Guadagnino, de filmes como Rivais e Me Chame pelo Seu Nome, com roteiro assinado pela atriz americana Nora Garrett, o longa se passa no curso de filosofia da renomada Universidade Yale. O embate intelectual entre gerações é comum no dia a dia dos professores e melhores amigos Alma e Hank (Andrew Garfield) com a aluna Maggie (Ayo Edebiri). O clima de provocações e gracejos entre eles acaba quando Maggie acusa Hank de assédio. Dividida entre duas narrativas distintas, a docente precisa escolher um lado — contanto que essa decisão seja também em benefício próprio. Quando o caso ganha dimensões para além dos muros da universidade, e novas camadas de informações se revelam, ela tenta se desvencilhar dos dois — mas já está com a lama até o pescoço.

Longe de ser uma baliza moral, Alma sintetiza as complicações que o cancelamento traz consigo, da falta de capacidade para julgar uma acusação tão séria aos preconceitos que guiam cada geração. Ela tenta inculcar na aluna suas ideias sobre como ser mulher e agir num mundo masculino, enquanto a jovem prefere se expor mesmo sob risco de ser desacreditada. O debate é espinhoso — e o filme faz questão de não dar respostas fáceis.

Publicado em VEJA de 10 de outubro de 2025, edição nº 2965

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