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A miopia americana na lista dos ‘melhores livros do século’ do NYT

Jornal elegeu cem títulos como os melhores do século XXI – mas, claro, contanto que possam ser lidos em inglês

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 18 jul 2024, 16h16 - Publicado em 16 jul 2024, 12h13

Listas de melhores e piores do ano, da década, do século, e assim por diante, são comuns no jornalismo – e ainda mais populares na era da internet. Mais comum ainda é que grandes publicações ou empresas dos Estados Unidos façam listas tidas como definitivas, elegendo os títulos e produtos considerados os melhores por eles, claro. Anunciadas com a missão pretensiosa de ser “o melhor do mundo nesse determinado período”, essas listas costumam se revelar um substrato explícito da miopia dos americanos em relação ao resto do planeta. Foi o que ocorreu recentemente quando a Apple se arriscou em eleger os 100 melhores discos de todos os tempos – e falhou miseravelmente com uma seleção controversa e dominada por americanos e ingleses. Não deu outra: virou piada. Agora foi a vez do The New York Times entrar nessa cilada: o tradicionalíssimo jornal americano reuniu um corpo votante de 500 pessoas, entre escritores, críticos e jornalistas, para eleger os cem melhores livros do século XXI. O critério? Ter sido publicado em inglês a partir de 1º de janeiro de 2000.

Sendo assim, a lista é dominada por autores, de novo, americanos e ingleses, ou de best-sellers que ganharam tradução por lá neste período. Caso da italiana Elena Ferrante, que figura na lista com três livros, e ocupa o primeiro lugar do ranking com A Amiga Genial. Vale lembrar que, para além de ter vendido como água, a obra de Ferrante foi adaptada em uma série da HBO, fazendo dela um nome indelével da mente dos votantes. Boa parte dos estrangeiros eleitos, aliás, tinham o reforço de uma adaptação para as telas ou um prêmio exuberante na estante – caso de Não me Abandone Jamais, do japonês Kazuo Ishiguro, livro que foi adaptado em um filme e seu autor laureado com o Nobel; e Os Anos, de Annie Ernaux, que possui a mesma aclamada honraria. Essa constatação não anula o valor das obras citadas, mas reforça o quão grandioso e premiado um livro escrito em língua não inglesa precisava ser para estar na lista. 

Há brasileiros na lista do NYT?

Não, não há brasileiros na lista. E quem perde é o The New York Times. Neste século o Brasil colocou nas livrarias títulos memoráveis, como o premiado Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior; O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório; Véspera, de Carla Madeira; Budapeste, de Chico Buarque; O Cheiro do Ralo, de Lourenço Mutarelli; e isso só para citar alguns. Talvez daqui há alguns anos eles caiam na graça dos americanos —  e que não demore tanto como Machado de Assis, que só recentemente se popularizou por lá nas mãos de uma crítica do TikTok.

Confira abaixo a lista completa dos melhores livros do século, segundo o The New York Times:

  1. A Amiga Genial, de Elena Ferrante
  2. The Warmth of Other Suns, de Isabel Wilkerson
  3. Wolf Hall, de Hilary Mantel
  4. O Mundo Conhecido, de Edward P. Jones
  5. As Correções, de Jonathan Franzen
  6. 2666, de Roberto Bolaño
  7. The Underground Railroad, de Colson Whitehead
  8. Austerlitz, de W.G. Sebald
  9. Não me Abandone Jamais, de Kazuo Ishiguro
  10. Gilead, de Marilynne Robinson
  11. A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao, de Junot Díaz
  12. O Ano do Pensamento Mágico, de Joan Didion
  13. A Estrada, de Cormac McCarthy
  14. Esboço, de Rachel Cusk
  15. Pachinko, de Min Jin Lee
  16. As Incríveis Aventuras de Kavalier e Clay, de Michael Chabon
  17. O Vendido, de Paul Beatty
  18. Lincoln no Limbo, de George Saunders
  19. Say Nothing, de Patrick Radden Keefe 
  20. Erasure, de Percival Everett
  21. Evicted, de Matthew Desmond
  22. Em Busca de um Final Feliz, de Katherine Boo
  23. Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento, de Alice Munro
  24. The Overstory, de Richard Powers
  25. Random Family, de Adrian Nicole LeBlanc
  26. Reparação, de Ian McEwan
  27. Americanah, de Chimamanda Ngozi Adichie
  28. Atlas de Nuvens, de David Mitchell
  29. O Último Samurai, de Helen DeWitt 
  30. Sing, Unburied, Sing, de Jesmyn Ward
  31. Dentes Brancos, de Zadie Smith
  32. A Linha da Beleza, de Alan Hollinghurst
  33. Salvage the Bones, de Jesmyn Ward
  34. Cidadã: Uma Lírica Americana, de Claudia Rankine
  35. Fun Home: Uma Tragicomédia em Família, de Alison Bechdel
  36. Entre o Mundo e Eu, Ta-Nehisi Coates
  37. Os Anos, de Annie Ernaux
  38. Os Detetives Selvagens, de Roberto Bolaño
  39. A Visita Cruel do Tempo, de Jennifer Egan
  40. F de Falcão, de Helen Macdonald
  41. Small Things Like These, de Claire Keegan
  42. Breve História de Sete Assassinatos, de Marlon James
  43. Pós-Guerra: História da Europa desde 1945, de Tony Judt
  44. A Quinta Estação, de N.K. Jemisin
  45. Argonautas, de Maggie Nelson
  46. O Pintassilgo, de Donna Tartt
  47. Compaixão, de Toni Morrison
  48. Persépolis, de Marjane Satrapi
  49. A Vegetariana, de Han Kang
  50. Confiança, de Hernán Diaz
  51. O Fio da Vida, de Kate Atkinson
  52. Sonhos de Trem, de Denis Johnson
  53. Fugitiva, de Alice Munro
  54. Dez de Dezembro, de George Saunders
  55. O Vulto das Torres, de Lawrence Wright
  56. Os Lança-Chamas, de Rachel Kushner
  57. Nickel and Dimed, de Barbara Ehrenreich
  58. Stay True, de Hua Hsu
  59. Middlesex, de Jeffrey Eugenides
  60. Pesado, de Kiese Laymon
  61. Demon Copperhead, de Barbara Kingsolver
  62. 10:04, de Ben Lerner
  63. Veronica, de Mary Gaitskill
  64. The Great Believers, de Rebecca Makkai
  65. Complô Contra a América, de Philip Roth
  66. We the Animals, de Justin Torres
  67. Longe da Árvore, de Andrew Solomon
  68. O Amigo, de Sigrid Nunez
  69. A Nova Segregação, de Michelle Alexander
  70. All Aunt Hagar’s Children, de Edward P. Jones
  71. Trilogia de Copenhagen: Infância, Juventude e Dependência, de Tove Ditlevsen
  72. O Fim do Homem Soviético, de Svetlana Aleksiévitch
  73. The Passage of Power, de Robert Caro
  74. Olive Kitteridge, de Elizabeth Strout
  75. Passagem para o Ocidente, de Mohsin Hamid
  76. Amanhã, Amanhã, e Ainda Outro Amanhã, de Gabrielle Zevin
  77. Um Casamento Americano, de Tayari Jones
  78. Septology, de Jon Fosse
  79. Manual da Faxineira, de Lucia Berlin
  80. História da Menina Perdida, de Elena Ferrante
  81. Pulphead, de John Jeremiah Sullivan
  82. Temporada de Furacões, de Fernanda Melchor
  83. Quando Deixamos de Entender o Mundo, de Benjamín Labatut
  84. O Imperador de Todos os Males, de Siddhartha Mukherjee
  85. Pastoralia, de George Saunders
  86. Frederick Douglass: Prophet of Freedom, de David W. Blight
  87. Destransição, Baby, de Torrey Peters
  88. The Collected Stories of Lydia Davis, de Lydia Davis
  89. O Retorno – Pais, Filhos e a Terra ao Meio, de Hisham Matar
  90. O Simpatizante, de Viet Thanh Nguyen
  91. A Marca Humana, de Philip Roth
  92. Dias de Abandono, de Elena Ferrante
  93. Estação Onze, de Emily St. John Mandel
  94. Sobre a Beleza, de Zadie Smith
  95. Tragam os Corpos, de Hilary Mantel
  96. Vidas Rebeldes, Belos Experimentos, de Saidiya Hartman
  97. Men We Reaped, de Jesmyn Ward
  98. Bel Canto, de Ann Patchett
  99. Como Ser as Duas Coisas, de Ali Smith
  100. Árvore de Fumaça, de Denis Johnson

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