A miopia americana na lista dos ‘melhores livros do século’ do NYT
Jornal elegeu cem títulos como os melhores do século XXI – mas, claro, contanto que possam ser lidos em inglês
Listas de melhores e piores do ano, da década, do século, e assim por diante, são comuns no jornalismo – e ainda mais populares na era da internet. Mais comum ainda é que grandes publicações ou empresas dos Estados Unidos façam listas tidas como definitivas, elegendo os títulos e produtos considerados os melhores por eles, claro. Anunciadas com a missão pretensiosa de ser “o melhor do mundo nesse determinado período”, essas listas costumam se revelar um substrato explícito da miopia dos americanos em relação ao resto do planeta. Foi o que ocorreu recentemente quando a Apple se arriscou em eleger os 100 melhores discos de todos os tempos – e falhou miseravelmente com uma seleção controversa e dominada por americanos e ingleses. Não deu outra: virou piada. Agora foi a vez do The New York Times entrar nessa cilada: o tradicionalíssimo jornal americano reuniu um corpo votante de 500 pessoas, entre escritores, críticos e jornalistas, para eleger os cem melhores livros do século XXI. O critério? Ter sido publicado em inglês a partir de 1º de janeiro de 2000.
Sendo assim, a lista é dominada por autores, de novo, americanos e ingleses, ou de best-sellers que ganharam tradução por lá neste período. Caso da italiana Elena Ferrante, que figura na lista com três livros, e ocupa o primeiro lugar do ranking com A Amiga Genial. Vale lembrar que, para além de ter vendido como água, a obra de Ferrante foi adaptada em uma série da HBO, fazendo dela um nome indelével da mente dos votantes. Boa parte dos estrangeiros eleitos, aliás, tinham o reforço de uma adaptação para as telas ou um prêmio exuberante na estante – caso de Não me Abandone Jamais, do japonês Kazuo Ishiguro, livro que foi adaptado em um filme e seu autor laureado com o Nobel; e Os Anos, de Annie Ernaux, que possui a mesma aclamada honraria. Essa constatação não anula o valor das obras citadas, mas reforça o quão grandioso e premiado um livro escrito em língua não inglesa precisava ser para estar na lista.
Há brasileiros na lista do NYT?
Não, não há brasileiros na lista. E quem perde é o The New York Times. Neste século o Brasil colocou nas livrarias títulos memoráveis, como o premiado Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior; O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório; Véspera, de Carla Madeira; Budapeste, de Chico Buarque; O Cheiro do Ralo, de Lourenço Mutarelli; e isso só para citar alguns. Talvez daqui há alguns anos eles caiam na graça dos americanos — e que não demore tanto como Machado de Assis, que só recentemente se popularizou por lá nas mãos de uma crítica do TikTok.
Confira abaixo a lista completa dos melhores livros do século, segundo o The New York Times:
- A Amiga Genial, de Elena Ferrante
- The Warmth of Other Suns, de Isabel Wilkerson
- Wolf Hall, de Hilary Mantel
- O Mundo Conhecido, de Edward P. Jones
- As Correções, de Jonathan Franzen
- 2666, de Roberto Bolaño
- The Underground Railroad, de Colson Whitehead
- Austerlitz, de W.G. Sebald
- Não me Abandone Jamais, de Kazuo Ishiguro
- Gilead, de Marilynne Robinson
- A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao, de Junot Díaz
- O Ano do Pensamento Mágico, de Joan Didion
- A Estrada, de Cormac McCarthy
- Esboço, de Rachel Cusk
- Pachinko, de Min Jin Lee
- As Incríveis Aventuras de Kavalier e Clay, de Michael Chabon
- O Vendido, de Paul Beatty
- Lincoln no Limbo, de George Saunders
- Say Nothing, de Patrick Radden Keefe
- Erasure, de Percival Everett
- Evicted, de Matthew Desmond
- Em Busca de um Final Feliz, de Katherine Boo
- Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento, de Alice Munro
- The Overstory, de Richard Powers
- Random Family, de Adrian Nicole LeBlanc
- Reparação, de Ian McEwan
- Americanah, de Chimamanda Ngozi Adichie
- Atlas de Nuvens, de David Mitchell
- O Último Samurai, de Helen DeWitt
- Sing, Unburied, Sing, de Jesmyn Ward
- Dentes Brancos, de Zadie Smith
- A Linha da Beleza, de Alan Hollinghurst
- Salvage the Bones, de Jesmyn Ward
- Cidadã: Uma Lírica Americana, de Claudia Rankine
- Fun Home: Uma Tragicomédia em Família, de Alison Bechdel
- Entre o Mundo e Eu, Ta-Nehisi Coates
- Os Anos, de Annie Ernaux
- Os Detetives Selvagens, de Roberto Bolaño
- A Visita Cruel do Tempo, de Jennifer Egan
- F de Falcão, de Helen Macdonald
- Small Things Like These, de Claire Keegan
- Breve História de Sete Assassinatos, de Marlon James
- Pós-Guerra: História da Europa desde 1945, de Tony Judt
- A Quinta Estação, de N.K. Jemisin
- Argonautas, de Maggie Nelson
- O Pintassilgo, de Donna Tartt
- Compaixão, de Toni Morrison
- Persépolis, de Marjane Satrapi
- A Vegetariana, de Han Kang
- Confiança, de Hernán Diaz
- O Fio da Vida, de Kate Atkinson
- Sonhos de Trem, de Denis Johnson
- Fugitiva, de Alice Munro
- Dez de Dezembro, de George Saunders
- O Vulto das Torres, de Lawrence Wright
- Os Lança-Chamas, de Rachel Kushner
- Nickel and Dimed, de Barbara Ehrenreich
- Stay True, de Hua Hsu
- Middlesex, de Jeffrey Eugenides
- Pesado, de Kiese Laymon
- Demon Copperhead, de Barbara Kingsolver
- 10:04, de Ben Lerner
- Veronica, de Mary Gaitskill
- The Great Believers, de Rebecca Makkai
- Complô Contra a América, de Philip Roth
- We the Animals, de Justin Torres
- Longe da Árvore, de Andrew Solomon
- O Amigo, de Sigrid Nunez
- A Nova Segregação, de Michelle Alexander
- All Aunt Hagar’s Children, de Edward P. Jones
- Trilogia de Copenhagen: Infância, Juventude e Dependência, de Tove Ditlevsen
- O Fim do Homem Soviético, de Svetlana Aleksiévitch
- The Passage of Power, de Robert Caro
- Olive Kitteridge, de Elizabeth Strout
- Passagem para o Ocidente, de Mohsin Hamid
- Amanhã, Amanhã, e Ainda Outro Amanhã, de Gabrielle Zevin
- Um Casamento Americano, de Tayari Jones
- Septology, de Jon Fosse
- Manual da Faxineira, de Lucia Berlin
- História da Menina Perdida, de Elena Ferrante
- Pulphead, de John Jeremiah Sullivan
- Temporada de Furacões, de Fernanda Melchor
- Quando Deixamos de Entender o Mundo, de Benjamín Labatut
- O Imperador de Todos os Males, de Siddhartha Mukherjee
- Pastoralia, de George Saunders
- Frederick Douglass: Prophet of Freedom, de David W. Blight
- Destransição, Baby, de Torrey Peters
- The Collected Stories of Lydia Davis, de Lydia Davis
- O Retorno – Pais, Filhos e a Terra ao Meio, de Hisham Matar
- O Simpatizante, de Viet Thanh Nguyen
- A Marca Humana, de Philip Roth
- Dias de Abandono, de Elena Ferrante
- Estação Onze, de Emily St. John Mandel
- Sobre a Beleza, de Zadie Smith
- Tragam os Corpos, de Hilary Mantel
- Vidas Rebeldes, Belos Experimentos, de Saidiya Hartman
- Men We Reaped, de Jesmyn Ward
- Bel Canto, de Ann Patchett
- Como Ser as Duas Coisas, de Ali Smith
- Árvore de Fumaça, de Denis Johnson