A mensagem por trás de ‘Nosferatu’, segundo os atores principais
Lily-Rose Depp e Nicholas Hoult falam a VEJA sobre os bastidores do filme que ressuscita o monstro clássico do cinema

Filha dos atores Johnny Depp e Vanessa Paradis, Lily-Rose Depp tem seu maior desafio em Nosferatu, dirigido por Robert Eggers (de A Bruxa e O Farol), que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira 2. A história é baseada no livro Drácula, originalmente publicado por Bram Stoker em 1897 e livremente adaptado como Nosferatu (1922) pelo cineasta alemão F.W. Murnau. Em 1979, Werner Herzog dirigiu outra versão de Nosferatu, estrelada por Klaus Kinski.
O filme de Eggers volta à obra original e às diversas adaptações de Drácula e Nosferatu para contar a história sob o ponto de vista de Ellen, interpretada por Lily-Rose, uma jovem atormentada que acaba de se casar com o ingênuo Thomas (Nicholas Hoult). Ela é assombrada pelo Conde Orlok (Bill Skarsgaard), que, sob o pretexto de seu interesse em uma propriedade, domina o rapaz e leva a escuridão ao povoado para conquistar a moça. A seguir, confira os principais trechos da entrevista de VEJA com os atores Lily-Rose Depp e Nicholas Hoult:
Os filmes de Robert Eggers são alegóricos e falam de medos e dramas com os quais podemos nos identificar. O que aponta como a mensagem por trás de Nosferatu?
Lily-Rose – Para mim, é uma batalha contra a escuridão. No caso de Ellen, essa guerra é interna, mas ela também luta contra a vergonha e contra a sociedade da qual ela faz parte, que não dá muito espaço nem apoio para suas dúvidas. O filme fala muito sobre a vergonha, como nos vemos e quanto estamos dispostos a nos aceitar, mesmo que não sejamos perfeitos e que haja coisas das quais não temos orgulho, ou que as pessoas não entendem.
Hoult – É uma história de amor e sacrifício, os quais andam de mãos dadas. Na teoria, Ellen sabe que Thomas é quem potencialmente deveria ser seu parceiro, mas ele não consegue entendê-la completamente ou cuidar dela da maneira necessária. Ela tem essa atração pelo Conde Orlok.
Lily-Rose – Somos todos seres complexos e nos dias de hoje há mais conversas sobre essas complexidades e mais espaço para explorarmos as nossas diversas facetas. Na época em que esse filme se passa, especialmente para as mulheres, não havia espaço para complicações, para sentimentos fora dos padrões. Tudo isso dificulta a aceitação do que está dentro de você, porque você acha que talvez outras pessoas e a sociedade não vão compreender. Nenhum de nós é perfeito, e todos temos uma escuridão interna. Isso não faz de você uma pessoa má. Ellen é atormentada por essa sensação de não ser boa ou de ter trazido terror e escuridão para as pessoas que a amam. Ela sente muita culpa e vergonha. E aí ela tem a oportunidade de fazer algo de bom com a escuridão dentro dela. É uma metáfora linda de que você pode encontrar algo bonito mesmo nos momentos ruins.
Consegue se lembrar de uma situação em que não foi capaz de superar seu medo?
Hoult – Eu gosto de correr de carro. Estava em uma pista de corrida com uma curva cega. Para ser rápido nessa pista, você tem de manter o pé totalmente no acelerador, e eu não conseguia. Pensava no pior que poderia acontecer. Mas no dia seguinte eu consegui. Eu gosto dessa sensação de superar o medo. Quando faço filmes, também acontece isso. Há cenas que causam apreensão, e você precisa superar esse sentimento.
Por que gostamos de sentir medo e desconforto assistindo a filmes de terror?
Lily-Rose – O medo retira todos os artifícios, a fachada que gostamos de apresentar ao mundo. Em um estado de medo, há pureza.
Hoult – O medo desencadeia a resposta de luta ou fuga e te coloca em modo de sobrevivência. Essas pequenas descargas de adrenalina provavelmente nos dão a sensação de estarmos vivos.
Esta não é a primeira versão de Nosferatu. Inspiraram-se nas adaptações anteriores?
Lily-Rose – Havia uma estrutura bonita na história que abria espaço para a diferença. Robert Eggers pegou a história icônica de Nosferatu e a transformou em algo que parece seu. Uma distinção importante é que este filme é visto pela perspectiva de Ellen. Isso trouxe muita complexidade ao meu papel. Porque não se trata apenas do anseio desse vampiro, mas da história dessa mulher sendo puxada para a escuridão. Como fã de cinema, foi ótimo assistir aos filmes anteriores, mesmo que esta seja uma versão bem particular.
Hoult – Sim, foi ótimo revisitar esses filmes porque eles são icônicos, à frente de seu tempo. E também voltar ao romance original de Bram Stoker. Mas Rob escreveu um roteiro intrincado e detalhado.
Como era a atmosfera no set? Houve algum momento engraçado durante as filmagens em meio à intensidade que acontece na tela?
Lily-Rose – No set, Robert quer que tudo seja o mais real possível. Isso dá a sensação de que você realmente está imerso no mundo que está retratando.
Hoult – Nós rimos do fato de que provavelmente não teríamos histórias engraçadas para contar. Não porque não estávamos gostando do processo, mas porque foi extremamente intenso. Tudo é filmado em um formato impossível de ser “salvo” na edição. São tomadas mais longas e fluidas, as cenas são coreografadas e pré-planejadas. No set, a sensação era de todos estarem em sincronia. A diversão veio dessa sensação de um esforço de grupo consciente. Mas sem histórias engraçadas.