A inusitada empreitada de uma diva do cinema francês na Coreia do Sul

Nesta quinta-feira, 10 de abril, a atriz francesa Isabelle Huppert entra em cartaz novamente em solo brasileiro. Mas, dessa vez, o cenário em que circula não é nada similar ao visual familiar de seus tantos filmes ambientados na França de origem, nem ao solo americano onde ocasionalmente se aventura. Uma das atrizes mais inquietas da atualidade, ela agora estrela uma produção inteiramente sul-coreana, sob a direção do cultuado Hong Sang Soo. Apropriadamente intitulado As Aventuras de uma Francesa na Coreia, o longa foi primeiramente exibido no Festival de Berlim de 2024, onde conquistou o Urso de Prata.

O filme inusitado surgiu “ao acaso”, segundo a atriz. Huppert conheceu o diretor sul-coreano em uma galeria de arte parisiense, e então voltou a encontrá-lo em Seul, quando viajou à cidade para prestigiar uma exposição fotográfica da qual havia sido modelo. A partir daquele encontro, surgiu a proposta para estrelar A Visitante Francesa, filmado pela dupla ao longo de nove dias de 2012. Sem um roteiro pré-definido, a trama surgiu de conversas e improvisos do elenco e equipe, que só tinham a locação litorânea como elemento certo. Em 2017, Huppert e Hong se reencontraram no Festival de Cannes e lá filmaram A Câmera de Claire em menos tempo ainda — apenas seis dias. Nele, uma francesa ajuda sua amiga a entender por que foi demitida sem justa causa. Sempre comprometido ao realismo doméstico, o cineasta tece histórias simples, idiossincráticas e observacionais.

Com As Aventuras de Uma Francesa não foi diferente. “Nos encontramos em uma retrospectiva dos filmes de Hong em Paris. Ele disse que deveríamos fazer outro longa juntos e dois ou três meses depois estávamos filmando. Não sabia nada, só que gravaríamos em Seul, o que me animou. Espero que continue assim para sempre”, disse Huppert em entrevista à Variety, sinalizando sua preferência pelo cinema sul-coreano à produção hollywoodiana. Seu trabalho mais recente oriundo da Terra do Tio Sam foi a série The Romanoffs, de 2018.

Em As Aventuras de uma Francesa na Coreia, Huppert vive uma imigrante misteriosa que ocupa seus dias tocando flauta em um parque e ensinando francês a duas nativas de Seul, sem grandes ambições ou dramas para além do cotidiano pacato. “Quando está disposta, ela tenta encarar cada instante de forma não verbal e viver sua vida do jeito mais factível possível, ainda que a vida continue tão difícil quanto sempre”, descreve o pôster americano oficial do longa.

“Ele me faz refletir profundamente sobre o significado do cinema. Seus métodos me lembram como essa arte pode ser tão vasta e também tão pequena. Ele consegue preservar tanto o poder quanto a escala do cinema enquanto trabalha quase sozinho — é fascinante”, diz a francesa sobre o parceiro de trabalho, maravilhada. Eis um belo intercâmbio cultural.

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