A decisão lastimável do ‘Oscar brasileiro’ de excluir ‘Ainda Estou Aqui’
Cerimônia anual conduzida pela Academia Brasileira de Cinema optou por homenagear filme de Walter Salles, mas não indicá-lo em nenhuma categoria

Promovido pela Academia Brasileira de Cinema, o Prêmio Grande Otelo pode ter pouca repercussão fora do nicho cinematográfico, mas é a cerimônia mais relevante da produção nacional, seguindo os moldes de premiações como o César é para a França ou o Goya para a Espanha — sendo assim, o “Oscar brasileiro”. Um anúncio feito nesta terça-feira, 22, porém, surpreendeu o meio. A próxima cerimônia, marcada para 30 de julho, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, vai prestar uma homenagem ao filme Ainda Estou Aqui, por sua excelente carreira no exterior. A produção vencedora do Oscar de melhor filme internacional, contudo, foi barrada de concorrer às categorias do prêmio brasileiro, numa decisão controversa da diretoria da organização e que nada tem a ver com alguma regra que tornaria o título inelegível.
Antes de saírem os indicados, os produtores devem inscrever seus filmes para disputar vagas entre os finalistas do troféu. A Academia afirma que foram 345 inscritos, entre longas-metragens, curtas e séries, um número recorde nos 24 anos da premiação. Entre os inscritos estava Ainda Estou Aqui. Segundo Renata Almeida Magalhães, presidente da Academia, o filme de Walter Salles e Fernanda Torres é um título “hors concours“, ou seja, de excelência incontestável e até superior aos demais concorrentes, por isso não iria disputar o prêmio. A decisão, afirma o comunicado, foi unânime da diretoria da organização.
A opção de tirar Ainda Estou Aqui da disputa revela uma cegueira da diretoria. A começar pelo fato de que o filme, um sucesso de bilheteria e de crítica, atrairia atenção inédita para o prêmio que tem pouca repercussão para além do reduto ao qual se destina. Para além disso, é triste assumir que ele ganharia de todos os demais concorrentes. Passar pelo filtro que leva ao Oscar é difícil, mas não significa que o Brasil não tenha produções do mesmo ano que podem sim, concorrer lado a lado com o filme de Walter Salles. E mesmo que Ainda Estou Aqui fosse o grande vencedor da noite, isso é parte do jogo — este ano, Emilia Pérez abocanhou sete estatuetas no César, na França, país pelo qual concorreu ao Oscar de filme internacional.
Por fim, a decisão da Academia Brasileira impossibilita que outros profissionais de Ainda Estou Aqui tenham uma chance de disputar um prêmio — atores coadjuvantes, direção de arte, fotografia, trilha sonora, entre outros que teriam, ao menos no currículo, a indicação ao troféu, ficam a ver navios. No total, o Prêmio Otelo conta com trinta categorias, sendo uma delas aberta ao voto popular. Pena que, todos os ganhadores terão agora a sombra do filme que talvez fosse o melhor entre eles, mas foi impedido de competir.