Creche e pré-escola fazem diferença no desempenho das crianças?
O que dizem as evidências sobre o impacto das creches e pré-escolas no desempenho de alunos das escolas públicas ao chegar ao 5º ano do ensino fundamental?
Esta 3ª série de posts da série baseada no Relatório “Para desatar os nós da educação – uma nova agenda” desconstrói uma série de mitos prevalentes no Brasil e que tentam explicar o desempenho educacional. Esses mitos, que gozam de elevado grau de consenso, têm em comum a ideia de que “mais” de tudo – dinheiro, escolas, tempo, tamanho do município, da rede escolar etc. – assegura melhor qualidade.
Creche e pré-escola fazem diferença no desempenho das crianças? O senso comum diria que sim – afinal, creches e pré-escolas seriam instituições operadas por profissionais que teriam mais instrumentos e recursos do que os pais – especialmente os pais das crianças que tipicamente frequentam as escolas públicas.
Ademais, há pelo menos duas décadas o economista James Heckman vem apregoando as virtudes de intervenções na Primeira Infância como instrumentos poderosos para aumentar o impacto dos investimentos posteriores em educação. Uma de suas evidências mais contundentes são os resultados de duas intervenções com crianças de 3 a 5 anos – portanto, na idade típica de creches e pré-escolas. Um estudo publicado na revista científica JAMA Psychiatry, em junho de 2019, mostra que comportamentos adequados ou inadequados nas áreas de atenção e agressividade estão associados com desempenho profissional e renda aos 35 anos de idade.
Mas o que dizem as evidências a respeito do impacto das creches e pré-escolas no desempenho de nossos alunos das escolas públicas ao chegar ao 5º ano do ensino fundamental? A figura 13 oferece uma resposta bastante desconcertante.
As duas linhas mostram o efeito de ter frequentado creches (linha de baixo) ou só pré-escola (linha superior) no desempenho dos alunos quando chegam ao 5º ano do ensino fundamental. O efeito é controlado para diferentes níveis de escolaridade da mãe.
No caso dos alunos que começaram a frequentar desde a creche, quanto mais baixa a escolaridade da mãe, mais negativo é o efeito: as creches só começam a ter algum efeito positivo para filhos de mães com ensino fundamental completo. O efeito é crescente, mas é menor do que o efeito de quem só frequentou a pré-escola (linha de cima).
Já para o grupo que começou a frequentar a partir da pré-escola, a escolaridade baixa da mãe praticamente não tem efeito negativo. Em ambos os casos, é forte a relação com o aumento da escolaridade das mães. A frequência a pré-escolas e/ou creches agrega um efeito de .3 de um desvio padrão – equivalente a aproximadamente 15 pontos adicionais na Prova Brasil. É um efeito relevante.
O que fazer com base em resultados como esses? Fechar creches e pré-escolas? Melhorar a qualidade das creches e pré-escolas para crianças de ambientes mais desfavorecidos? Fazer algo diferente com os pais?
No próximo blog, vamos examinar essa pergunta à luz de estudos realizados em outros países.