O Evangelho ‘alternativo’ que inspirou hit da Netflix sobre Virgem Maria
Produção da plataforma sobre a mãe de Jesus é a mais assistida no Brasil, mas chegou cercada de polêmicas
Atual líder do ranking de filmes mais visto da Netflix no Brasil, Virgem Maria, do diretor católico D.J. Caruso, chegou ao streaming cercado de polêmicas quanto à sua escalação, que traz atores israelenses como protagonistas. Para além disso, há uma série de discussões sobre a falta de fidelidade da trama à Bíblia. Nas Escrituras, quase não se fala sobre a vida de Maria antes da Anunciação — passagem em que o Anjo Gabriel diz à Virgem que nascerá dela o Filho de Deus. Boa parte do que antecede esse momento no filme, incluindo a concepção milagrosa da mãe de Maria e sua infância no Templo de Jerusalém, é inspirado no relato do discípulo Tiago, considerado um dos chamados Evangelhos apócrifos — ou seja, que não é reconhecido pela Igreja Católica como parte das Escrituras sagradas.
Escrito por volta do ano 150, o livro é atribuído por alguns especialistas a Tiago Maior, filho de Zebedeu, mas boa parte dos teólogos refuta essa teoria, especialmente pelo desconhecimento do judaísmo demonstrado nos textos, e alegam que a autoria é desconhecida e duvidosa. O texto conta a história da vida de Maria, filha Joaquim e Ana. Sem conseguir ter filhos, Joaquim jejuou no deserto por 40 dias e 40 noites, pedindo a intervenção divina, e recebeu a visita de um anjo que disse a ele que conceberia uma filha e que “de tua prole se falará em todo o mundo”.
Batizada como Maria, a garota foi entregue ao Templo de Jerusalém aos 3 anos, para viver uma vida dedicada a Deus, que escolheu José como seu noivo e — pouco depois — a agraciou com a concepção de Jesus, filho de Deus. O filme se inspira livremente nesses escritos, mas toma diversas liberdades poéticas, especialmente em relação ao relacionamento de Maria e José, que é retratado como uma espécie de romance adolescente comportado — no livro, por exemplo, José era bem mais velho que Maria, já tinha filhos e era viúvo.
Além do Evangelho apócrifo de Tiago e da própria Bíblia, outra fonte que serviu de inspiração para o longa foram os escritos de Flavius Josephus, que descreveu a Grande Revolta Judaica (66–70 d.C.) e a história do judaísmo do primeiro século e do cristianismo primitivo. Depois da Bíblia, as obras de Josephus são fontes importantes sobre a história da antiguidade e relatos de figuras como Pôncio Pilatos, Herodes e Jesus.
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