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‘Dom’: a história real do ‘Esquadrão da Morte’ retratado na série

Pai do bandido famoso fazia parte de grupo de elite da polícia que tinha como missão "limpar" o estado executando quem visse pela frente

Por Amanda Capuano Atualizado em 20 mar 2023, 09h53 - Publicado em 20 mar 2023, 08h00

No início da década de 1970, o policial Victor Dantas é convidado para integrar a equipe dos chamados “12 Homens de Ouro da Polícia Carioca”, um grupo de elite fundado para “limpar a cidade da criminalidade”. Em um episódio da nova temporada de Dom, lançada nesta sexta-feira, 17, no Amazon Prime Video, Dantas aparece embolsando uma grana gorda em uma operação em que os colegas de farda executam os criminosos a sangue frio. Representado na série que narra a vida de Pedro Lomba, filho de Dantas, e conhecido como “bandido gato”, o chamado “esquadrão da morte” existiu na vida real, e foi responsável por execuções em série no Rio de Janeiro e Espírito Santo durante décadas — e teria dado origem às atuais milícias cariocas.

Criado em 1964, o chamado “esquadrão da morte” surgiu a partir da Scuderie Detetive Le Cocq, grupo de policias que se reuniu para vingar a morte do detetive Milton Le Cocq, um agente influente da polícia da época, que chegou a integrar a escolta de Getúlio Vargas. Ele foi morto durante uma tocaia para capturar Manoel Moreira, que tinha o apelido de Cara de Cavalo e extorquia bicheiros. Meses depois, Manoel foi executado com mais de 60 tiros — essa foi a primeira morte atribuída à Scuderie Le Cocq, que seria responsável por outros 1 500 assassinatos só no Espírito Santo até o início dos anos 2000.

Em meio à ditadura militar, o grupo, que era admirado por parte da sociedade, e apoiado pelo governo da época, justificava as mortes dizendo que os criminosos teriam reagido à prisão. Logo, eles passaram a perseguir também pessoas que se opunham ao regime militar, comandando torturas e execuções sumárias de opositores. Com influência na sociedade carioca, os “12 homens de ouro” passaram a cobiçar cargos importantes — Guilherme Godinho Ferreira, o Sivuca, que integrava o grupo, chegou a se eleger deputado estadual com o infame bordão “bandido bom é bandido morto”.

Victor Dantas, o pai de Pedro Dom, que ficou conhecido como o “bandido gato” que comandava uma quadrilha especializada em assalto a residências de luxo, acabou expulso da organização por desonra e chegou a declarar, posteriormente, que seu envolvimento com o Esquadrão foi “a pior coisa que fez em sua vida”. Foi ele quem levou a história do filho até Breno Silveira, diretor da série que morreu no ano passado vítima de um ataque cardíaco. Na época, o cineasta chegou a dizer que Dantas, que morreu em 2018 de câncer de pulmão, se arrependeu de dedicar a carreira na polícia à guerra as drogas e da forma que criou o filho.

Na nova leva de episódios, o policial aparece se opondo às práticas criminosas do esquadrão da morte, questionando execuções e pegando o dinheiro de forma forçada enquanto tenta salvar o filho da “parte podre” da polícia. Na vida real, no entanto, a representação de Victor Dantes sofre com acusações de romantização — a filha mais velha do policial chegou a declarar que o pai herói e amoroso retratado na série não existe, e que Dantas sempre foi um cara violento, e que passou essa intimidação na educação dada ao filho. 

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