Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Dora Kramer

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Coisas da política. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

O nome do jogo

Não é possível dissociar os atos de investigação da CPI da Pandemia da natureza política da atividade inerente ao Parlamento

Por Dora Kramer Atualizado em 4 jun 2024, 13h55 - Publicado em 30 abr 2021, 06h00

Nada mais falso, incongruente e inconsistente que ouvir políticos falando contra a politização disso ou daquilo. No caso de uma CPI, como agora a que apura ações e omissões do poder público na gestão da pandemia, soa a uma contradição em termos. O nome diz tudo: é uma comissão parlamentar de inquérito. Portanto, não é possível dissociar os atos de investigação da natureza política da atividade inerente ao Parlamento.

Nas tentativas de separar uma coisa da outra se evidencia o caráter de falsidade, incongruência e inconsistência com que suas excelências de governo e oposição se dirigem à sociedade. Além disso, incorrem em autoincriminação ao atribuir à política um sentido nefasto de contaminação virulenta.

Quando fazem isso, já se colocam no banco dos réus diante do tribunal da opinião pública, reforçando a ideia de que a política é um ofício de aproveitadores, terreno por onde só transitam más intenções e ações deletérias.

Que o senso comum tenha essa imagem admite-se, dada a contribuição na produção de malfeitorias de visibilidade que nenhuma outra atividade tem. Dos profissionais do ramo, contudo, espera-se atitude não apenas mais criteriosa, mas, sobretudo, pedagógica, a fim de demonstrar o inverso.

Ao se apegar à argumentação de que os trabalhos da CPI serão eminentemente “técnicos”, os senadores mentem e no subtexto dizem que não há seriedade possível no exercício da política. Além disso, enveredam pelo campo que interessa ao governo federal, que é bater na tecla das acusações de politização (no mau sentido) dos trabalhos da comissão.

O que vai acontecer pelos próximos meses no Senado não é um julgamento de tribunal nem investigação submissa aos ditames de uma polícia ou de um Ministério Público. Nessas últimas o silêncio no curso dos trabalhos é a alma do negócio. Em CPIs, a chance do êxito maior se constrói quanto mais visíveis forem as investigações. Ademais, não é certo tomar o “técnico” como antônimo de “político”. Tecnicalidades não são garantias de eficácia e/ou de condução moralmente correta de procedimentos. Às vezes, muito ao contrário.

Continua após a publicidade

“É impossível dissociar o ato de investigar da natureza política da atividade parlamentar”

Há que ter discernimento: uma coisa é a essência da função parlamentar, outra é o uso eleitoral mediante truques, falsificações, omissões, parcialidades fraudulentas e sobreposição de conveniências pessoais aos interesses do público. Se enveredar por esse caminho, a CPI da Covid cairá no descrédito e estará fadada ao fracasso.

Pode acontecer? Pode, já vimos comissões de inquérito no Congresso (a maioria, aliás) embarcarem nessa canoa. Não parece ser o caso em tela. Primeiro, em razão do volume de evidências já produzidas. Se de um lado isso dificulta a defesa do governo federal, e mesmo dos estaduais com indícios de culpa no cartório, de outro funciona como barreira de contenção a desvirtuamentos justamente devido à exposição dos fatos sobre os quais trabalhará a CPI. Qualquer tentativa de manipulação mais esquisita será facilmente detectada pelo público e utilizada como arma de contra-ataque por parte do Planalto e adjacências.

O segundo sinal de que a investigação do Senado tende a se manter no prumo é a composição da comissão. Só tem cobra criada, notadamente na ala oposicionista, na qual se incluem os ditos independentes. Gente experiente o bastante para detectar e se desviar de armadilhas.

Entre titulares e suplentes há cinco ex-governadores, dois ex-presidentes do Senado, um ex-ministro da Saúde e dois líderes de bancada, sendo um do MDB e o outro da oposição. Do lado governista, composto de uma desconfortável minoria de 4 x 7, o nome de maior destaque é o de Ciro Nogueira, presidente do PP.

Continua após a publicidade

Tal correlação de forças, quantitativa e qualitativamente falando, confere tranquilidade suficiente aos que ali estão dispostos a não dar trégua aos desmandos de Jair Bolsonaro, e de qualquer outro governante, para que o façam sem recorrer a expedientes insidiosos ou a artificialidades que transformem a CPI num triste espetáculo de vaidades eleitorais.

Farão política sim, pois esse é o nome do jogo no Congresso. Ou o relator foi escolhido e é temido por alguma razão que não seja política? Senadores não são magistrados. Tampouco estão por isso autorizados a se utilizar de uma comissão de inquérito (ainda essa cujo tema é uma tragédia humanitária) como palanque ou picadeiro.

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 5 de maio de 2021, edição nº 2736

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.