Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Imagem Blog

Dora Kramer

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Coisas da política. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Lira do delírio

A agenda regressiva que o presidente da Câmara chama de reforma política

Por Dora Kramer Atualizado em 4 jun 2024, 13h36 - Publicado em 18 jun 2021, 06h00

O Brasil enfrenta problemas graves para todo tipo de (des)gosto — sanitário, político, econômico, social e energético —, que requerem a mobilização de diversos setores. Uns com maior êxito e presença, outros com menor eficácia, menos visibilidade ou poder de influência, mas cada qual fazendo a sua parte na medida das respectivas possibilidades.

O Supremo Tribunal Federal num empenho diuturno para barrar ofensivas antidemocráticas, o Ministério Público e a Polícia Federal em luta contra interferências “de cima”, organizações sociais mobilizando-se para minorar a situação de brasileiros vulneráveis, governadores e prefeitos envolvidos numa saudável corrida em prol da vacinação, o Senado montando na CPI o quebra-cabeça do desmazelo governamental na gestão da pandemia e a oposição mergulhada nas articulações para enfrentar Jair Bolsonaro em 2022.

Diante disso, a Câmara dos Deputados faz o quê? Discute mudanças nas regras político-eleitorais, entre as quais a instituição do voto impresso para conferência do resultado obtido nas urnas eletrônicas. E esse é apenas um entre os vários itens de uma agenda regressiva que o presidente da Câmara, Arthur Lira — patrocinador maior da iniciativa —, chama de reforma política.

Na pauta do atraso estão também restrições à atuação da Justiça Eleitoral, o afrouxamento das regras de inelegibilidade tornadas mais severas na Lei da Ficha Limpa, a volta das doações empresariais, a revogação do fim das coligações proporcionais, a redução das exigências para o desempenho eleitoral dos partidos para acesso ao fundo público de financiamento e horário no rádio e na televisão, além da adoção de um sistema chamado “distritão”, que, segundo especialistas, fortalece as cúpulas, mas enfraquece a estrutura das legendas.

Até por representarem um retrocesso em relação a alguns avanços obtidos ao longo dos últimos anos, várias dessas medidas em discussão já foram rejeitadas anteriormente pelo Supremo Tribunal Federal (voto impresso, em 2013 e 2020, e financiamento empresarial, em 2015) e pelo próprio Congresso (“distritão”, em 2015 e 2019).

Continua após a publicidade

Não que o atual sistema seja perfeito. Longe disso. São inúmeras as distorções a serem corrigidas para uma adaptação aos tempos modernos do funcionamento dos partidos, da forma como se elegem parlamentares e até de uma configuração de governos que permitisse a interrupção de mandatos por caminho menos traumático que o impeachment.

Muito haveria a ser discutido para levar a cabo um processo de aperfeiçoamento. Por exemplo, a retomada do debate sobre a adoção do parlamentarismo, mas de maneira séria e consistente, e não da forma açodada e referida apenas nas circunstâncias do momento, como já aconteceu nas duas vezes (em 1963 e 1993) em que plebiscitos deram vitória ao presidencialismo.

“Voto impresso é um entre os vários itens da agenda do atraso que a Câmara chama de reforma política”

Continua após a publicidade

Outro ponto que poderia ser enfrentado, mas é convenientemente ignorado, diz respeito ao voto facultativo, que nas pesquisas recebe apoio crescente da população. A obrigatoriedade assegura reserva de mercado aos partidos e aos políticos.

Também pela defesa das respectivas conveniências é que suas excelências não abordam uma questão de interesse do contribuinte: o excesso de dinheiro público para financiar as legendas. Hoje, os valores dos fundos eleitoral e partidário somam quase 3 bilhões de reais e vão além disso se contabilizada a renúncia fiscal das emissoras em decorrência da veiculação do horário eleitoral, que de gratuito só tem o nome.

Nada disso é contemplado na dita reforma ora em exame na Câmara. Isso porque a ideia não é reformar nem melhorar coisa alguma, mas tentar ajustes em causa própria. Uma espécie de “se colar, colou”, cuja posição de carro-chefe foi agora assumida pela história do voto impresso no gentil patrocínio do deputado Lira em prol do delírio persecutório de Jair Bolsonaro.

Continua após a publicidade

A intenção do presidente da República e seus parceiros nessa empreitada, que, se exitosa, custaria ao bolso do público 2 bilhões de reais, não é conferir confiança à apuração dos votos, mas disseminar a desconfiança sobre o resultado da próxima eleição.

É ingenuidade acreditar que cedendo a esse desejo retira-se do presidente o pretexto para contestar o produto das urnas e assim ficará tudo bem. Não ficará, porque o temor não é a fraude. Vem da consciência de que a paga das pragas rogadas diariamente ao país pode ser a derrota eleitoral.

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 23 de junho de 2021, edição nº 2743

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.