Esquerda e direita usam Marielle para defender interesses outros
Nessa disputa macabra a direita perde terreno por tosca, violenta e canhestra nos argumentos

A rigor não há diferença entre o boçal que usa o assassinato de Marielle Franco para agredir as causas defendidas por ela e o idiota que se aproveita da comoção geral para angariar apoio à impunidade de Luiz Inácio da Silva e, por tabela, dos demais condenados em segunda instância de Justiça.
O que os distancia é a posição ideológica — o primeiro de esquerda e o segundo de direita. Já o que os aproxima é o oportunismo, a insensibilidade e a falta de decoro na manipulação da opinião pública em defesa dos respectivos interesses. Ambos os grupos unidos pela ausência de bom-senso (dizendo aqui o mínimo, de maneira bastante amena) nas ações e nos pensamentos.
Nessa disputa macabra a direita perde terreno por tosca, violenta e canhestra nos argumentos. A esquerda é mais ardilosa, embora nada sutil como demonstrado na reunião de segunda-feira (2/4) no Circo Voador (RJ), convocada como um ato de cobrança pelo esclarecimento de Marielle Franco, e, na prática, um palanque para Lula reiterar candidatura — ilegal, pela lei da Ficha Limpa — à Presidência e desafiar a Justiça a encontrar “uma vírgula” contra ele.
Isso a despeito de ter sido encontrado todo o cardápio de pontuações da gramática pátria, conforme exposto por juízes e desembargadores na condenação no caso do apartamento no Guarujá. No centro do palco, Lula rodeado por correligionários de punhos em riste, carimbou a manipulação: “Quem atira em uma caravana e no rosto de uma vereadora é fascista”. Como se fossem as mesmas as autorias e as motivações. Um legítimo “fake show”.