Aviso à nau dos insensatos
Decisão da Câmara foi resposta aos excessos incentivados por Bolsonaro

A decisão da Câmara pela manutenção da prisão do deputado Daniel Silveira pode ser vista como um aviso aos navegantes da nau dos mais insensatos seguidores do presidente Jair Bolsonaro. O resultado de 364 votos a favor a 130 contrários foi consequência dos excessos dos radicais incentivados pelo presidente durante muito tempo, até que ele recuasse dos ataques aos poderes Judiciário e Legislativo por perceber que a ofensiva só lhe renderia prejuízos.
O fato de a Câmara dos Deputados não se dispor a enxergar nos atos e falas mais exacerbados do presidente da República motivos para enquadrá-lo em crime de responsabilidade, não quer dizer que a maioria dos parlamentares concorde com a escalada de extremismos dos bolsonaristas mais fanáticos.
Não fosse o passivo acumulado por aquelas atitudes, talvez a Câmara, no caso de Daniel Silveira, tivesse optado por revogar a prisão – decretada pelo ministro Alexandre de Moraes e confirmada pela unanimidade do Supremo Tribunal Federal – sob o argumento de que a prerrogativa de julgar o deputado seria do Legislativo.
Talvez os fanáticos não tenham compreendido a extensão e o sentido da posição dos deputados, mas se não entenderam conviria que examinassem o silêncio que se abateu sobre o governo todo enquanto Daniel Silveira se encaminhava ao cadafalso conduzido por sua ausência de limites e pela ilusão de que a tolerância com a intolerância seria ilimitada.
Ao decretar a prisão o STF traçou uma risca de giz nessa fronteira e a Câmara aliou-se ao alto lá num ato que agora há de se ver se foi exceção ou será regra.