A reforma do ensino médio é para fazê-lo etapa conclusiva da educação de base com máxima qualidade para todos. Há décadas se debate a reforma sem ênfase em “qual seu propósito”, “para quem deve ser oferecido”, “qual a estratégia para implantá-la” e “que nome” dar para essa etapa da formação. Por isto, aceita-se o adjetivo de “médio” ao considerá-lo apenas ponte para poucos ingressarem em ensino superior que será concluído por alguns raros dos quais com empregabilidade. Essa concepção tem relegado o direito de todos à escola com a necessária qualidade para cada brasileiro dispor do mapa para a busca de sua felicidade pessoal e das ferramentas para participar da construção de seu país eficiente, justo e democrático. Em vez do compromisso de “educação para todos com a máxima qualidade”, adota-se a ilusória promessa de “universidade para todos”, independente da qualidade.
A reforma do ensino médio para “ensino conclusivo” da educação de base deve ter o propósito de servir para que todos os brasileiros, aos 18 anos, estejam plenamente formados para a contemporaneidade. Para tanto, deve assegurar com equidade a formação de todos para falar e escrever bem o idioma português; ser fluente em pelo menos mais um dos idiomas usados internacionalmente; conhecer os fundamentos da matemática, ciências, geografia, história, artes; debater com competência os temas de filosofia, política, antropologia e sociologia relacionados ao mundo moderno; saber usar as ferramentas digitais; dispor de pelo menos um ofício que permita emprego e renda; adquirir solidariedade com os vizinhos, com a humanidade e com a natureza; ser capaz de obter educação continuada até o final da vida; e, se desejar, poder disputar por vocação, não por necessidade de status do diploma nem de conhecimento para sobreviver, uma vaga em curso superior nas melhores universidades.
“Nenhum jovem deve ser deixado para trás. Todos aptos ao sucesso pessoal e a contribuir com o país”
Para oferecer essa necessária formação a todos, além de medidas sociais de incentivo à permanência na escola, o ensino conclusivo deve transmitir sentimento de que o aprendizado será útil e benéfico ao longo da vida, por oferecer formação profissional, deixando cada um apto a exercer função e obter renda satisfatória; deve ser atraente ao utilizar edificações confortáveis e bonitas, com professores preparados e dedicados, usar técnicas pedagógicas e curricular com itinerários ao gosto dos jovens. Esse propósito formativo vai exigir horário integral, incluindo esporte, cultura e profissionalização; ensino de temas como tecnologia da informação, empreendedorismo, compromisso social, gastronomia, primeiros socorros, oratória, geopolítica, ecologia, com participação em olimpíadas esportivas e cognitivas, em quatro anos de duração, com um ano a menos na etapa fundamental.
Nenhum jovem deve ser deixado para trás. Todos aptos ao sucesso pessoal e a contribuir com o país; e, para aquele que desejar, a mesma chance de êxito na disputa por vaga para ingresso e conclusão de curso em boa universidade. Por ser difícil a execução dessa ambiciosa reforma simultaneamente em todo o país, o “novo ensino conclusivo” deve ser implantado por cidades, em uma estratégia de alguns anos, sob a responsabilidade direta do governo federal.
Publicado em VEJA de 5 de janeiro de 2024, edição nº 2874