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Cristovam Buarque

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Consenso e discordâncias

A tragédia educacional é um fato. O difícil é atacá-la com eficácia

Por Cristovam Buarque Atualizado em 13 jun 2025, 13h46 - Publicado em 13 jun 2025, 06h00

O Brasil tem um consenso sobre a tragédia de sua educação, mas ainda enfrenta quatro grandes discordâncias: sobre as causas desse estrago; suas consequências; as metas que devemos perseguir; e os caminhos para atingi-las. A Unesco nos instala em 72º lugar entre 125 países avaliados; o Pisa, em 57º entre 79 participantes. O país tem cerca de 10 milhões de adultos incapazes de ler. Entre os que leem, a maioria não compreende, interpreta ou analisa o que lê. Cerca de 100 milhões de brasileiros estão despreparados para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. Soma-se a isso o genocídio intelectual provocado pela brutal desigualdade de oportunidades conforme a renda e o endereço do indivíduo. Não há polêmica quanto ao reconhecimento desse quadro.

Mas, para muitos, o horror é resultado natural da história e das características da população. Outros tratam como conspiração de nossas elites. Há quem considere o drama educacional uma questão social. Sim, é, mas enxergá-lo apenas sob esse ponto de vista turva a visão, porque deixamos de perceber que a educação ferida é o pântano que nos impede de chegar ao futuro desejado. Direto ao ponto, e é crucial tê-lo em perspectiva: os problemas estruturais do Brasil — baixa produtividade, pobreza, desigualdade, violência, racismo — são causados, em grande parte, pela baixa qualidade e pela desigualdade da educação de base.

“Temos 10 milhões de adultos incapazes de ler. Entre os que leem, a maioria não entende o que lê”

Mesmo entre os que já se espantaram com o estado da educação e se aterrorizam com suas consequências, há discordância sobre as metas necessárias para assegurar educação de qualidade para todos. Poucos acreditam ser possível colocar a educação brasileira entre as melhores do mundo. Falta adesão a uma meta ambiciosa que contemple aprender a ler e escrever com rigor; que faça os jovens fluentes em pelo menos um idioma estrangeiro; que autorize o encantamento com as artes e o debate rico em torno de temas de filosofia, política, história e geopolítica. A educação, desde o início, enfim, é o que nos permite indignar-nos diante da pobreza, da desigualdade, do autoritarismo e dos preconceitos; usar com competência as ferramentas digitais; formar-nos em ao menos um ofício; praticar a solidariedade entre os seres humanos e com a natureza; respeitar os patrimônios cultural e ambiental; querer participar da construção de sociedades pacíficas, com desenvolvimento sustentável, democrático e justo; continuar aprendendo ao longo da vida; e ter a base para disputar as melhores vagas do ensino superior.

Além do consenso com a tragédia, as causas, as consequências, além dos objetivos a serem perseguidos, é preciso superar as divergências sobre como alcançá-los. Muitos acreditam que o Brasil já está no caminho certo e que basta esperar os resultados dos tímidos passos dados ao longo de décadas, por meio de programas como o do Livro Didático, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Pé-de-Meia e a Base Nacional Comum Curricular, entre outros. Para boa parte, porém, os programas federais com execução municipal, embora tragam avanços, não promovem o salto de qualidade e equidade de que o país precisa. Para tanto, seria preciso nacionalizar a educação de base, com a criação de um sistema nacional federal, no qual todas as escolas públicas ofereçam a mesma elevada qualidade — como nas escolas federais já existentes. Os desafios são imensos.

Publicado em VEJA de 13 de junho de 2025, edição nº 2948

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