A nova geração de professores
Qual é o papel do Estado ao atrair os jovens para o magistério?

Faz anos ouvi da então senadora Heloísa Helena: “Se o Brasil adotasse uma geração de brasileiros desde o nascimento, quando adultos eles adotariam o Brasil”. Semana passada, em um seminário promovido pelo Instituto Brasileiro Pró-Cidadania, no Recife, o professor Cesar Callegari ampliou o raciocínio: “Para fazer a educação que o Brasil precisa, é necessário formar uma nova geração de professores”. Essas duas frases se complementam e deveriam inspirar a preparação do novo Plano Nacional de Educação (PNE), para que ele não seja a repetição dos dois anteriores: burocráticos, sem ambição, sem indicação da responsabilidade por sua execução e presos à lógica de prometer mais recursos, não de definir a estratégia para darmos o necessário salto no ensino dos brasileiros, na qualidade e na equidade.
É hora de um PNE com metas claras, indicando o que todo brasileiro deveria saber ao final de sua educação de base; que não se contente com a esgotada dispersão municipal e desenhe a arquitetura do sistema nacional de educação com excelência, da pré-escola ao fim do ensino médio; que defina o que fazer e qual a estratégia para instalar o Brasil entre os países com melhor educação para todas as crianças. O PNE, agora em sua terceira etapa, é o momento para formarmos essa nova geração de mestres definindo, com clareza, a estratégia para assegurar formação robusta, seleção criteriosa, dedicação exclusiva, avaliação e motivação contínuas ao longo da carreira, acesso e domínio dos mais modernos recursos pedagógicos e culturais.
“O mestre respeitado e bem remunerado promoverá no país a mania pela educação”
É preciso definir qual o papel do Estado e da sociedade ao atrairmos ao magistério os jovens mais brilhantes, motivados e preparados. Selecioná-los ainda durante seus estudos, entre os melhores alunos. Não se devem aceitar candidatos que não estejam classificados entre os primeiros de suas turmas — em conhecimento e liderança. Isso exige assegurar remuneração entre as mais altas do serviço público e uma carreira com todos os ingredientes de prestígio e atratividade. Os professores desse novo tempo precisam ser respeitados pela sociedade brasileira, como ocorre em outros países.
É grupo docente que só será viável se for ancorado em uma carreira nacional, com salário federal no nível dos servidores públicos mais bem remunerados. Contar com formação continuada, desde os anos do ensino médio até a aposentadoria. Com bolsas de estudos e salário ao longo de toda a formação, como já ocorre em carreiras de Estado, como os diplomatas e os militares.
Durante esse percurso, os futuros professores deverão aprender tanto as técnicas e ciências pedagógicas quanto valores éticos da profissão: compreender o papel que desempenham na formação do ser humano que vai enfrentar o futuro, dispondo do mapa para buscar a própria felicidade e das ferramentas para construir um Brasil produtivo, inovativo, justo, sustentável, democrático. O mestre respeitado, bem remunerado, bem formado, bem avaliado e dedicado deve ter tamanha consciência de sua importância que perceba o prejuízo provocado por cada ausência sua da sala de aula. Ele terá e promoverá no país a mania por educação. Para tanto, o plano que se diz nacional não pode deixar a carreira da nova geração de professores nas mãos dos pobres e desiguais municípios.
Publicado em VEJA de 30 de maio de 2025, edição nº 2946