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“Que Bobagem!”: um livro de ciência vira best-seller

Obra de Natalia Pasternak e Carlos Orsi lidera lista dos mais vendidos em não ficção. Autores comentam sucesso, as polêmicas e a lei da ozonioterapia

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 Maio 2024, 22h52 - Publicado em 11 ago 2023, 07h00

“Escrevemos um best-seller”. Eis a reação da bióloga Natalia Pasternak ao ser contatada pela coluna para comentar o êxito de Que Bobagem! (Contexto), seu livro recém-lançado em coautoria com o jornalista Carlos Orsi.

A obra, nascida com a ideia de desconstruir crenças e práticas sem fundamento ou baseadas em argumentos pseudocientíficos, acaba de ocupar o primeiro lugar na lista de livros de não ficção mais vendidos do país publicada por VEJA.

O sucesso de vendas foi tamanho que a editora Contexto já encomendou nova tiragem.

Que Bobagem! é uma máquina de refutação de ideias populares, mas carentes de respaldo na física, na química ou na biologia moderna. Os petardos miram desde astrologia até discos voadores e paranormalidade, passando por terapias alternativas como homeopatia.

Um dos capítulos que mais despertaram reações iradas foi o dedicado à psicanálise, em que a dupla defende que os preceitos da escola de Freud e seu uso enquanto ferramenta terapêutica não encontram respaldo na neurociência nem foram comprovados por estudos de peso. O debate sobre o tema continua pelando.

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Com a palavra, os autores.

Diante de tantos livros de autoajuda fazendo sucesso no mercado, muitos deles calcados em pseudociência, imaginavam que a obra de vocês virasse um best-seller tão rápido?

Acho que nunca ninguém esperou que um livro de popularização da ciência, ainda mais pelo viés do ceticismo, se tornasse um best-seller. Foi uma grata surpresa saber que um livro se tornou o centro do debate público no Brasil. Não uma série de streaming, não um filme, não uma novela famosa. Um livro, e um livro sobre ciência que põe o dedo em várias feridas. Só isso já é histórico.

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(Foto: Contexto/Reprodução)

Era de esperar que o livro causasse barulho e polêmica em alguns círculos. Qual foi a principal repercussão em termos de críticas?

As críticas mais recorrentes estão vindo da psicanálise, talvez porque exista uma tradição cultural muito forte no Brasil, onde parte da elite intelectual acostumou-se a usar o recorte psicanalítico não só como terapia, mas como ferramenta privilegiada de análise política e artística. Assim, ver sua pseudociência de estimação listada ao lado de outras práticas que são consideradas bobagens pelo próprio fandom [termo do inglês que une “fan” e “kingdon”, ou “reino dos fãs”] psicanalítico soa ofensivo.

O presidente Lula acaba de sancionar a lei da ozonioterapia, tratamento questionado pela falta de evidências. Que Bobagem! pode ajudar a sociedade e as autoridades a criar ou rever políticas públicas de saúde à luz da ciência?

Acreditamos que sim. Mesmo a ozonioterapia não estando listada nas bobagens do livro – pelo visto, vai sobrar para o volume 2 -, nas páginas introdutórias explicamos detalhadamente como são testados medicamentos e tratamentos, por que certas práticas parecem funcionar, mas não fazem diferença, o que é exatamente o efeito placebo… E também alertamos por que práticas pseudocientíficas podem ser danosas para o indivíduo e a sociedade. Se tivesse lido Que Bobagem!, certamente o chefe do Executivo não faria a bobagem de sancionar um projeto de lei tão absurdo.

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