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Prescrições: 3 livros para se aprofundar na verdadeira Idade Média

Obras do historiador Georges Minois permitem ter visão panorâmica e desmitificada do período e mergulhar em um episódio e um personagem centrais dessa era

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 set 2024, 15h51 - Publicado em 12 set 2024, 11h22

As últimas três obras do professor francês Georges Minois lançadas no país pela Editora Unesp propiciam uma leitura em zoom da Idade Média, um dos períodos históricos que, ainda hoje, mais seduzem o interesse e a imaginação da humanidade. E digo “zoom” porque cada livro traz um escopo diferente, do macro ao micro, para retratar eventos e personagens que determinaram os rumos de uma era povoada de mitos e acontecimentos excepcionais.

Munido de farta documentação, o historiador distingue os episódios baseados em fatos registrados das lendas alimentadas pelo imaginário, também elas sintomáticas das crenças que extravasaram aqueles tempos. E é assim que ele nos convida a acompanhá-lo, numa narrativa que mescla as habilidades do contador de causos com as do docente em sala de aula – aquele mesmo que aprecia inúmeros detalhes, datas e nomes.

Primeiro em em uma jornada panorâmica sobre o extenso período que se convencionou chamar Idade Média; depois, em um relato e uma análise sobre a Guerra dos Cem Anos, o mais longo e complexo conflito da época; e, por fim, em um encontro com o célebre imperador franco Carlos Magno.

Saímos desse mergulho, que exige fôlego – somadas, as três obras têm 1 898 páginas! -, mais conscientes do que se viveu nesses quase dez séculos encravados entre a Antiguidade e o Renascimento. Que se faça a luz sobre a Idade das Trevas – com a lanterna e as palavras do professor Minois.

História da Idade Média

Autor: Georges Minois
Tradução: Thomaz Kawauche
Editora: Unesp

História da Idade Média

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Nascida das ruínas do Império Romano e enterrada por uma era de transformação cultural e social demarcada pela queda de Constantinopla, pelo avanço da Reforma Protestante e pelo empreendimento das navegações transoceânicas, a Idade Média não foi nem um período de trevas da existência e do saber tampouco um reino encantado de cavaleiros e princesas. Minois retrata, nesta obra, uma era de paradoxos erigida nas costas de três civilizações: os cristãos ocidentais, os bizantinos e os islâmicos.

Entre a miséria e o luxo, camponeses e reis, lidas diárias e empreitadas exuberantes, o professor nos conduz em um tour ao longo dos séculos e esclarece as causas e consequências do regime feudal e de eventos como as intermináveis guerras e as Cruzadas. Narra também o controverso papel da Igreja Católica, ora aliada dos monarcas, ora sua mais aguerrida rival, o despertar de crenças divergentes, a devastação imposta pela Peste Negra, bem como a repercussão do surgimento da imprensa e da ascensão da burguesia em um sistema que, por volta do século XV, beira o esgotamento. Elucida, ainda, como uma mudança na visão de mundo – do âmbito coletivo para o individual – enseja a transição do Medievo para a Modernidade.

A Guerra dos Cem Anos

Autor: Georges Minois
Tradução: Thomaz Kawauche
Editora: Unesp

A Guerra dos Cem Anos

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O conflito entre os reinos da França e da Inglaterra é possivelmente o mais famoso da Idade Média. Teria durado, a bem da verdade, 116 anos, mas o simbolismo do número redondo torna mais evidente quão longo e tenso foi o duelo entre as duas nações mais poderosas da Europa Ocidental daqueles tempos. Georges Minois explica as origens da contenda – como a disputa pelo trono francês e diversos territórios no continente -, suas ramificações e desfechos.

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Tréguas (nem sempre respeitadas), batalhas campais, novas armas e estratégias bélicas, rivalidades e traições, personagens mitológicos (como Joana D’Arc)… Por vezes, parece que estamos lendo ou vendo Game of Thrones. Mérito também do autor, cuja narrativa, ainda que arvorada no rigor histórico e repleta de minúcias, avança no ritmo de um romance. A Guerra dos Cem Anos marca a passagem da contenda feudal para o choque entre nações, assim como a emergência de um sentimento nacional cujas repercussões se fizeram sentir na Europa séculos e séculos depois.

Carlos Magno

Autor: Georges Minois
Tradução: Nícia Bonatti
Editora: Unesp

Pessoas não se tornam mitos – mitos de verdade, convém frisar – por acaso. O imperador dos francos, Carlos Magno (742-814), uma das figuras mais importantes da Idade Média, é um desses casos que, pelo seu curriculum vitae, pelo símbolo que representou e pelas fábulas construídas em seu entorno, conquistaram o imaginário ocidental. Um nome que ultrapassou fronteiras temporais e geográficas, a ponto de estrelar, no século XX, histórias de cordel no Nordeste brasileiro ao lado dos seus pares de França.

Quem foi o e o que virou o grande rei carolíngio? Georges Minois se propõe a examinar a criação de um mito com mais de 1 000 anos de duração e, depois, amparado na documentação histórica, o homem por trás do mito. Um monarca que lançou guerras, mas também cultivou o conhecimento e a educação. Um herói da Cristandade, mas também um governante preocupado com a manutenção de fronteiras ainda frágeis. O suposto fundador de uma ideia de Europa cujo império começaria a esfacelar nas mãos dos seus filhos e sucessores. Eis a biografia de um daqueles personagens obrigatórios no panteão da história ocidental.

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