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Obra de artista plástico reverencia o orixá Exu em dança de corpos negros

Série 'Bará', de Gustavo Nazareno, vira livro com mensagens de corpos e culturas que ainda lutam com a opressão social

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2024, 18h25 - Publicado em 19 dez 2023, 07h51

Exu é o mensageiro dos orixás, o elo entre o mundo humano e o divino. É a fonte de inspiração e culto da série Bará, um panteão de desenhos protagonizados por corpos negros de autoria de Gustavo Nazareno, artista mineiro de 29 anos nascido em Três Pontas e radicado em São Paulo.

Reunidas em livro, as obras fisgam qualquer olhar pelo realismo anatômico e fotográfico. Mas há algo de transcendente nessa coreografia sobre o papel. Ainda mais quando se descobre que os retratos – e são centenas – foram feitos com as pontas dos dedos manejando o pó de carvão.

Bará foi gestado no encontro entre os estudos de anatomia do artista autodidata e sua entrega e devoção ao orixá Exu. O nome ‘Bará’ é uma das ‘personas’ da divindade de origem iorubá, que, em terra brasileira, foi erroneamente associada ao diabo cristão – um dos motivos de preconceito contra as religiões de matriz africana.

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(Foto: Anna Carolina Bueno/Reprodução)
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Gustavo sabe disso e segue em frente: sua arte é também uma forma de reverenciar as heranças negras e enfrentar uma opressão que ainda não teve fim. A obra, que estampa o livro homônimo publicado pela Act. Editora, “surgiu de uma oferenda para a prosperidade, em 2018”, quando o autor “trocava comida por materiais de arte, um período muito difícil” em seu começo em São Paulo, como ele documenta na introdução.

Parto duro, belos rebentos. Na dança de Bará, pele, músculos e articulações se movimentam, por vezes rompendo com as leis da biologia e da física. Há algo de divino no corpo humano. Algo que pode transcender as agruras da vida. Talvez seja essa a grande mensagem de Exu, o senhor dos corpos, a percorrer cada desenho dessa obra.

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Com a palavra, o artista.

Em que medida a cultura afro-brasileira influencia suas criações? De que modo busca transpor esse legado?

Minhas obras são bastante confessionais e tenho muita fé. Minha prática parte da admiração pela beleza que encontro ao descobrir os orixás, sentindo o trabalho e as qualidades deles em minha vida. Tudo isso é impresso em minhas obras, na escrita, na pintura ou nas séries em carvão. Tudo é baseado em experiências pessoais, uma verdadeira oferenda! Esse legado vive na minha história e em tudo o que vou vivenciando e deixando para o mundo.

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(Foto: Anna Carolina Bueno/Reprodução)
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Nada como ouvir diretamente do autor… Qual a principal mensagem da série Bará para o mundo de hoje?

A série Bará foi, desde o início, e continua sendo, uma grande descoberta sobre Exu para mim. Como seu filho, exploro suas qualidades, a beleza de seu movimento e a aceitação de minhas condições humanas. Lido com todos os incômodos causados pela maneira como o racismo deturpou a imagem de Exu, demonizando-a. Portanto, ao iniciar Bará, elevando esses corpos nus através do movimento ao sagrado, corpos envoltos em mistério e sombras criadas pela luz, encontro semelhanças comigo mesmo. Bará é Elegbará, o Senhor do Corpo.

Qual é o maior desafio de ser artista no Brasil?

Acho perigoso generalizar e falar por todos os artistas, mas meu desafio atual é compreender meus direitos como artista, considerando a falta de leis que me protejam. Preciso estar constantemente atento, tanto financeiramente quanto nas questões legais, para entender meus direitos. As galerias não necessariamente me preparam para isso. A educação financeira é algo que vou descobrindo ao longo do caminho, e tudo é caro!

Ser artista no Brasil tem um custo elevado. Além disso, como um artista que aborda temas relacionados aos orixás e à cultura afro, sinto falta de estar em curadorias que incluam uma variedade de artes, não limitadas apenas a esse assunto, mas que englobem uma gama mais ampla de expressões artísticas.

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O artista plástico Gustavo Nazareno (Foto: Rodrigo Lins/Reprodução)
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