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O lado perverso e patológico do narcisismo

Livro examina como a personalidade narcisista pode estar por trás de relacionamentos tóxicos. Segundo autora, redes sociais alimentam o fenômeno

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 ago 2024, 17h41 - Publicado em 8 ago 2024, 17h15

Reza a lenda que Narciso ficou tão encantado consigo mesmo ao ver seu reflexo na água que se esqueceu do mundo e morreu transtornado. Se o personagem da mitologia greco-romana vivesse nestes tempos, estaria obcecado em postar, postar, postar… e se ver lindo, influente e poderoso nas redes sociais. Até adoecer.

O problema do narcisista, aquele cuja personalidade e interesse estão voltados exageradamente para si (e nem um pouco para os outros), é que não só ele pode se ferir como também machucar quem está em seu entorno. E esse é um dos motivos que levaram a psicóloga britânica Sarah Davies a escrever Como Se Libertar de um Narcisista, recém-publicado pela Editora Sextante. 

Como se libertar de um narcisista

narcisista

Aliando a experiência em consultório a estudos sobre o tema, a especialista em traumas faz um raio X dessa personalidade e dos tipos de narcisismo e explica como eles costumam estar por trás de relacionamentos tóxicos – seja em casa, seja no trabalho. O narcisista, nas palavras de Davies, é aquele que tem dificuldade de “experimentar empatia e compaixão genuína pelos outros”.

Inclusive, quando essas características são elevadas à máxima potência, tem-se o transtorno de personalidade narcisista, listado no manual que serve de referência aos psiquiatras dos EUA e de boa parte do planeta.

Na obra, Davies busca dar subsídios para identificarmos os indivíduos que se colocam acima do bem e do mal e conselhos a quem precisa se livrar das garras deles. Nesse percurso, muitas vezes tanto o sujeito que se vê no centro do mundo quanto suas vítimas precisarão de ajuda profissional e psicoterapia.

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O duro é que as águas das redes sociais estão refletindo cada vez mais o narcisismo por aí… Com a palavra, a autora.

 

sarah-davies
A psicóloga e especialista no tratamento de traumas Sarah Davies (Foto: Sextante/Reprodução)

As redes sociais estão alimentando uma “epidemia” de narcisismo?

Acredito que as redes sociais realmente desempenham um papel no narcisismo e no desenvolvimento de uma busca compulsiva por atenção e admiração. São plataformas perfeitas para os narcisistas porque existe um público cativo que pode ser rápida e facilmente alcançado para obter um “suprimento narcisista”. Esse suprimento consiste na atenção, na afirmação e na validação de que eles precisam tão desesperadamente para se sentir bem consigo mesmos.

As curtidas e outras reações às postagens liberam uma dose de dopamina no cérebro. E ela está relacionada ao nosso sistema de recompensa. Portanto, podemos nos tornar rapidamente viciados nesse mecanismo. Para algumas pessoas, isso será alimentado pelo ímpeto de compartilhar mais postagens ou mais conteúdos que chamem atenção. Em certo sentido, esse uso das redes sociais de forma egoísta, progressiva e alienante pode ser comparado a um vício digital – e o fato é que narcisistas muitas vezes têm problemas com compulsões.

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Seria possível impedir ou minimizar o desenvolvimento de uma personalidade narcisista?

As pesquisas mostram que a personalidade narcisista é formada desde muito cedo, geralmente por volta dos 5 anos de idade. Isso tende a ser resultado de dois tipos diferentes e extremos de criação. Pode ocorrer por negligência ou abusos significativos desde cedo ou, pelo contrário, por uma parentalidade exagerada, excessivamente indulgente ou autoritária.

A criação consciente e equilibrada, marcada por limites justos, firmes, consistentes e apropriados, aquela que ajuda a criança a se sentir segura é, a meu ver, vital para um desenvolvimento emocional e psicológico saudável. Apoiar e encorajar as crianças a serem elas mesmas e a ter autoestima e confiança em si e nos relacionamentos é algo que não se costuma ver na infância dos narcisistas. Os pais que modelam um cuidado consigo mesmos e com os outros também já ajudarão nesse sentido.

Sabemos, por meio de estudos, que os primeiros anos de vida influenciam o desenvolvimento e bem-estar psíquico no longo prazo. Informar-se sobre o que é uma parentalidade saudável, especialmente nesses anos de formação, certamente contribuirá para evitar o narcisismo entre as crianças.

Que conselho daria a alguém que tem de conviver com um narcisista em posição de comando ou autoridade? 

Os narcisistas tendem a procurar pessoas que possam ser manipuladas e que lhes darão o que precisam. Você pode se proteger de uma dinâmica narcisista tóxica adotando limites saudáveis ​​e comunicando-se de maneira clara e direta. Seja educado, mas profissional – direto ao ponto e nada mais. E evite se envolver em qualquer tipo de relação especial ou exclusiva.

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Pessoas narcisistas querem público e fã-clube. Se você mostrar que não está disposto ou não é capaz de se envolver nisso, é mais provável que elas o deixem em paz e procurem isso em outra pessoa que esteja mais disposta a ser encantada e manipulada.

Portanto, sugiro não dar a elas mais informações do que realmente precisam ou do que você deseja dar. Os narcisistas tendem a usar qualquer informação pessoal para tentar intimidar ou manipular. Quanto menos eles tiverem, menor será a probabilidade de lançarem mão disso. Se você puder se comunicar por escrito, melhor ainda. Na comunicação por e-mail, temos a evidência do que foi dito, impedindo qualquer tentativa de negar ou alterar o que foi combinado.

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