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A corrente filosófica que ressurgiu em resposta à crise de saúde mental

Ensinamentos do estoicismo, escola com mais de 2 000 anos de história, ganham popularidade nas redes sociais em meio a 'epidemia' de ansiedade

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 fev 2025, 10h48 - Publicado em 5 fev 2025, 16h25

Willian Mulligan é um influenciador digital improvável. O jovem britânico arregimenta mais de 500 000 seguidores no Instagram e outros 437 000 fãs em seu canal no YouTube para falar de… filosofia estoica. 

Sinal dos tempos: os conselhos e lições dessa antiga corrente de pensamento atraem uma legião de pessoas em busca de uma vida mais equilibrada. Se a diferença entre o veneno e o remédio está na dose, na farmacopeia da internet ela provavelmente reside no perfil e no tipo de conteúdo que a gente acompanha – e no tempo dedicado às telas.

Mulligan descobriu os estoicos através do imperador-filósofo Marco Aurélio aos 18 anos, e esse contato foi libertador. Desvencilhou-se de uma ansiedade limitante e transformou sua experiência numa causa a ser expandida pelos canais digitais. Sua matéria-prima – que contempla ensinamentos de autores que viveram há mais de um ou dois milênios – vem de uma filosofia pé no chão e mão na massa.

Autoajuda, dirão alguns? Sim, mas com lastro histórico e reflexões atemporais, boa parte delas cunhadas durante o Império Romano.

Agora, o criador do perfil The Everyday Stoic reúne as ideias angariadas com suas leituras e vivências no livro O Jeito Estoico de Viver, recém-lançado pela Latitude, em que resume os princípios da velha escola atualizados aos nossos tempos e propõe exercícios a quem quer cultivar um estado mental mais saudável. 

Com a palavra, Willian Mulligan.

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O autor, William Mulligan, criador do The Everyday Stoic
O autor, William Mulligan, criador do The Everyday Stoic (Foto: acervo do autor/Reprodução)

Por que a escola de filosofia estoica resiste tão bem ao tempo?

Há mais de 2 000 anos, Zenão, um rico comerciante grego, naufragou e perdeu tudo. Buscando respostas sobre como viver a melhor vida possível, ele visitou o Oráculo de Delfos, no Templo de Apolo. A resposta do oráculo levou à fundação do estoicismo – uma filosofia transmitida de comerciante a filósofo, de viajante a escravo e de escravo a imperador. Durante séculos, o estoicismo guiou as pessoas através da tirania, da doença, da guerra e das muitas dificuldades da vida, evoluindo para enfrentar as lutas de cada época.

Aquele momento no Templo de Apolo em 300 A.C. mudou o mundo. Deu poder às massas numa época em que a maioria vivia sob governantes cruéis e constante incerteza. Hoje, a maioria de nós se sente perdida, assustada, impotente e presa em ciclos prejudiciais à saúde em meio à procrastinação e à distração. Mais uma vez, o estoicismo oferece a resposta.

Mas a que você atribui o apelo do estoicismo hoje?

Embora muitas filosofias possam ajudar nas lutas modernas, o estoicismo se destaca porque é prático e fácil de entender. Os textos sobreviventes – escritos por algumas das maiores mentes da história, incluindo o imperador Marco Aurélio e o ex-escravo que se tornou filósofo Epicteto, oferecem uma visão direta de como os verdadeiros estoicos enfrentaram a morte, a peste, a guerra e os desafios diários. Seu ressurgimento hoje não é nenhuma surpresa. Quando as pessoas estão desesperadas por respostas, podemos facilmente encontrar ajuda em uma simples prática ou citação estoica.

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O Jeito Estoico de Viver

o jeito estoico de viver

Qual é o seu autor estoico favorito?

Marco Aurélio. Descobri e li seu livro Meditações pela primeira vez aos 18 anos. Trata-se de um diário pessoal de um dos maiores líderes da história, revelando como ele suportou imensas perdas – a morte de nove filhos, a Peste Antonina e inúmeros amigos perdidos ao seu lado nas guerras que travou. Apesar de tudo, seu objetivo principal permaneceu o mesmo: ser uma boa pessoa e, como a história o lembra, ele fez um ótimo trabalho nisso. É um livro que nunca foi feito para ser lido por ninguém, exceto o próprio Marco Aurélio.

Eu o leio quase diariamente há mais de uma década e, de alguma forma, sempre encontro algo novo ali. Suas palavras continuam a me guiar em minha jornada para ser um bom homem. O livro não precisa ser lido de cabo a rabo e muitas pessoas pulam o primeiro capítulo porque é um pouco diferente dos demais. Gosto de escolher uma passagem aleatória e repassá-la, pensando em como ela se aplica à minha vida.

Os ensinamentos da escola estoica podem nos ajudar a enfrentar essa crise generalizada de ansiedade?

Para mim, este foi o primeiro problema pessoal resolvido pelo estoicismo. Passei grande parte da minha vida prisioneiro da ansiedade. Havia tantas coisas que eu queria fazer, mas não conseguia – pequenos atos como dar uma passagem de ônibus a um estranho depois da viagem ou mesmo algo tão simples como ir a uma loja faziam meu coração disparar. Frequentemente, eu os evitava completamente. Mas essas lutas não me controlam mais. Sou livre para ser a pessoa que quero ser, sem que a ansiedade dite todas as minhas decisões.

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A ansiedade é mais comum do que nunca e sei que muitas pessoas se sentem como eu me sentia: presas. O estoicismo me libertou, mas foram necessários tempo, esforço e inúmeras falhas antes que eu realmente entendesse seus ensinamentos. É por isso que escrevi o livro: para tornar esses princípios mais fáceis de compreender e, eis a minha esperança, encurtar a jornada de outra pessoa em direção à liberdade.

Mas nada muda se você não mudar. Eu adoraria dizer que minhas palavras por si só podem resolver seus problemas, mas, se você as ler e seguir em frente – procrastinando, esperando por mudanças… –, isso não acontecerá. Alguns raros podem transformar as suas vidas lendo apenas uma página de um livro estoico, mas a maioria de nós, inclusive eu, precisamos praticar o que os ensinaram. É como disse o filósofo Epicteto: “Não explique sua filosofia. Incorpore-a.”

Que conselho – estoico, claro – deixaria a nossos leitores?

Quem você poderia ser se removesse suas crenças e medos limitantes? E se você não se preocupasse com o que as pessoas pensam e pudesse realmente florescer em todo o seu potencial? Você merece ser essa pessoa, o mundo merece essa pessoa e você pode ser essa pessoa. Todos nós podemos ser essa pessoa.

Não por magia ou ilusão, mas porque nascemos como essa pessoa – até deixarmos as limitações nos acorrentar. Depois de conhecer essas correntes, você pode começar a removê-las, pouco a pouco. Pequenos passos diários percorrem grandes distâncias. Nenhum passo o deixará preso no mesmo lugar por toda a vida. Então lembre-se a partir deste momento que você merece e pode ser livre dando pequenos passos de cada vez.

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